Intenso e comovente encontro do Papa com a população do bairro popular da Varginha.
Texto completo da saudação papal
Foi mais um momento cheio de humanidade e comoção o encontro que o Papa Francisco
teve, nesta quinta de manhã (das 16 às 17 da tarde, em Roma), com a população da comunidade
de um bairro muito modesto do Rio de Janeiro, a Comunidade de Varginha. Ao fim
da tarde (será noite na Europa e na África), o Santo Padre participa na Festa de Acolhimento
dos Jovens da JMJ, na avenida marginal da Copacabana. Sará o primeiro encontro directo
do Papa com a multidão de jovens vindos ao Brasil para este encontro mundial.
De
manhã, três momentos do programa papal. Pelas 10 horas locais (15 horas em Roma),
o Papa deslocou-se ao chamado “Palácio da Cidade”, onde o presidente da Câmara municipal
do Rio lhe entregou as Chaves da Cidade. Na presença de certo número de atletas das
diversas modalidades desportivas, o Santo Padre procedeu à bênção das bandeiras oficiais
dos Jogos Olímpicos que se realizarão no Rio de Janeiro, em 2016. Foi daí que prosseguiu
para a tão aguardada visita a uma “favela” da cidade, a Comunidade de Varginha, onde
chegou pelas 11 horas (16 h em Roma). Acolhido pelo Pároco, pelo Vigário episcopal
e pela Superiora das Irmãs da Caridade, Papa Francisco dirigiu-se-á à capelinha ali
existente, para um momento de oração e a bênção do novo altar. Depois, a pé, seguiu
para o campo de futebol, para encontrar a comunidade, dirigindo-lhe a palavra. No
caminho, visitou uma família. Finalmente, um “fora-programa” desejado pelo Papa argentino:
um desvio até à catedral do Rio de Janeiro, para se encontrar com os jovens vindos
à JMJ provenientes da Argentina.
Mas vejamos o texto completo da alocução do
Papa, no campo de futebol onde se tinha congregado a Comunidade, bem popular de Varginha:
“Queridos
irmãos e irmãs, bom dia! Que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando
planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros
deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca,
beber um "cafezinho", não um copo de cachaça, falar como a amigos de casa, ouvir o
coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não
é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade
de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido,
com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade;
isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros,
que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço
a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler e Joana pelas suas belas
palavras. 1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também
aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais
bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos
acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na
nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que
quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar
a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode
“colocar mais água no feijão”? Sempre! E vocês fazem isto com amor, mostrando que
a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo
as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade,
que é uma palavra, esta, solidariedade, e frequentemente esquecida ou silenciada,
porque é incômoda. Quase parece um palavrão. Solidariedade. Queria lançar um apelo
a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas
de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por
um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades
que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades,
saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é, não
é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade,
aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, não é, mas sim a cultura da
solidariedade; a cultura da solidariedade, ver no outro não um concorrente ou um número,
mas um irmão, e todos nós somos irmãos Quero encorajar os esforços que a sociedade
brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais
sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de
“pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade
que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade
assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma.
Não deixemos, não deixemos, entrar no nosso coração a cultura do descartável.
Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável. Porque nós somos irmãos.
Ninguém é descartável. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar
é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pensemos
na multiplicação dos pães de Jesus. A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo
modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!
2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos
pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu»
(Documento de Aparecida, 395), a Igreja deseja oferecer a sua colaboração em todas
as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo
o homem. Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um
ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade
que só Deus pode saciar. Fome de dignidade. Não existe verdadeira promoção do bem-comum,
nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais
que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor
que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio
contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples
transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar
integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio
humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só
pode ser vencida a partir da mudança do coração humano. 3. Queria dizer uma última
coisa., uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, eh,
jovens, vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças,
mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que,
em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês
e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem
que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser
vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com
o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus
Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10). Hoje
a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer:
Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada
um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os
agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação
nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora
Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha
Bênção. Obrigado.