Card. Hummes: "Francisco quer Igreja rejuvenescida e crível"
Rio
de Janeiro (RV) - Simplicidade e essencialidade, sem materialismos e consumismos.
Em entrevista exclusiva à RV, o Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo,
cita a Igreja missionária na Amazônia para evocar a mensagem do Papa Francisco aos
jovens da JMJ, e diz que o Papa quer uma Igreja rejuvenescida e crível, que espelhe
a luz de Cristo. Ouça clicando acima.
“A missão na Amazônia exige muito em
termos de despojamento, de pobreza, de trabalho exigente, cansativo, etc. Isso acaba
dando felicidade a quem se dedica e enfrenta, e participa disso, para o Reino de Deus
e para o próximo. Aquela gente é muito pobre, muito precisada: é uma periferia da
Igreja e do Brasil. É ali que os religiosos encontram de novo o sentido de seu carisma,
às vezes muito mais do que na cidade, em meio às comodidades, onde tudo parece que
acaba se esvaziando, os valores vão se perdendo, e aos poucos, às vezes os religiosos
e religiosas perdem um pouco o sentido da vida e vão atrás de coisas que não têm nada
a ver com os ideais, a vocação e a missão que temos no mundo”. “Creio que o Papa
vai nos dizer isso de novo, de forma forte, simples e simpática também. Ele que sorri,
que diz as coisas sorrindo, mas ao mesmo tempo, é muito exigente e propõe mudanças
de vida, mudanças de estruturas na Igreja e em nossa vida de todos os dias, na paróquia,
é ali que as coisas de fato deverão acontecer aos poucos”. “Creio que será um Papa
que ‘está no meio das ovelhas’, que vive com as ovelhas, e é ali que ele dá o exemplo
de seu despojamento, do seu espírito de oração, do seu amor ao Evangelho e à Igreja,
e sua grande preocupação de fazer com que esta Igreja se renove, se rejuvenesça, e
possa de novo mais e mais espelhar a luz de Jesus Cristo de uma forma crível, que
tenha autoridade moral de se apresentar ao mundo exatamente por causa de um novo estilo
de vida, de uma nova proximidade do povo mais simples e pobre. Acredito que será esta
a grande mensagem. Ele certamente vai aprofundar ainda mais este apreço que os jovens
já têm por ele e o povo em geral tem por ele”.
O Sr. acha que os jovens estão
prontos a receber esta mensagem?
“Creio que sim. Tenho a impressão que os jovens
aos poucos vão se cansando com o que lhes têm sido proposto como o sentido de vida,
superficial, consumista e imediato. Não existem grandes valores que possam abrir um
horizonte para um projeto que valha a pena construir em suas vidas. Tudo se tornou
muito banal, e os jovens devem estar cansados de tudo isso. Lembro-me que o Papa disse
pouco tempo atrás que a ‘cultura atual, que se oferece aos jovens, é um prato de comida
que está deteriorado’ e, portanto, fará mal. Os jovens vão percebendo isto, que os
ideais de vida que lhes estão sendo repassados estão deteriorados. Eles irão aos poucos
exigindo que haja, de fato, algo muito mais profundo, mais estável e consistente do
que aquilo que no dia-a-dia, a sociedade, a cultura, e a liderança, inclusive acadêmica,
universitária e cultural lhes está propondo. Os jovens estarão cada vez mais abertos
a isso, cada vez mais. A minha grande esperança é que façam um passo para frente.
Toda a história traz esta obrigação, de não simplesmente fazer rupturas, mas a partir
do passado construir um futuro mais consistente, retornando, neste sentido, aos grandes
valores perenes que a história sempre buscou e tentou construir”. (CM)