Daca (RV) – “O Bangladesh é uma bomba prestes a explodir: um país extremamente
pobre com graves problemas sociais e onde o elemento religioso é muitas vezes manipulado
com fins políticos”. É a denúncia de Véronique Vogel, Responsável internacional da
seção Ásia da Fundação Pontifícia “Ajuda à Igreja que Sofre” (AIS).
O momento
delicado que vive o Bangladesh se repercute também sobre a pequena comunidade católica
que tem apenas 318 mil fiéis numa população total de 164 milhões de habitantes – os
muçulmanos, em sua maioria sunita, representam quase o 90%.
“Observamos o
persistir das tensões com grande preocupação”, continua Vogel, denunciando o maciço
trabalho de recrutamento dos grupos militantes – como o partido islâmico Hefajat-e-Islam
– que nos últimos meses tomaram conta das ruas para pedir a aprovação de uma espécie
de lei antiblasfêmia.
“Estão conseguindo novos seguidores e isso nos preocupa
com o que está acontecendo no país. Em particular, as atenções estão voltadas para
a Diocese de Dinajpur, onde os cristãos foram alvo de vários ataques de extremistas
islâmicos”.
Um mês atrás o seminário interdiocesano “Jisu Dhyana Niloy”, que
fica nesta Diocese no noroeste do País, foi alvo de um ataque de fundamentalistas
que queriam matar o reitor e os 25 seminaristas, que conseguiram fugir e encontrar
abrigo em outra estrutura. Este fato, provavelmente, originado por uma disputa por
terras entre famílias cristãs e islâmicas. Para se vingar, os extremistas atingiam
o seminário e três localidades de maioria cristã que ficam nas redondezas, agredindo
dezenas de pessoas e destruindo várias casas.
Surpreso e angustiado por este
ataque “sem qualquer motivação”, o Bispo de Dinajpur, Dom Sebastian Tudu, enviou uma
carta à Ajuda Igreja que Sofre. “O que mais me entristece é pensar que nestas três
localidades mulheres e crianças vivem no medo porque seus pais e maridos não se encontram
mais em casa”.
O prelado informa ainda que a segurança da missão católica
na localidade de Bulakipur, onde se encontra o seminário, está sendo garantida por
30 policiais para impedir novos ataques. “No começo do ano, o alvo dos extremistas
islâmicos foram comunidades budistas, agora é a vez dos cristãos – continua Vogel
-, no entanto o fator religioso não é o único motivo na raiz das tensões”.
O
que alimenta as desordens são, sobretudo, motivos políticos e sociais e, até, a terra
a ser cultivada: um bem realmente raro e precioso no Bangladesh. Alguns grupos tentam
iludir camponeses pobres e com pouca instrução para entrar de posse de suas terras.
“Se depois os proprietários de terras pertencem a grupos religiosos diferentes, a
questão degenera rapidamente em conflito político-religioso”. (SP)