Haiti: o trabalho de religiosas brasileiras com a falta de perspectiva dos jovens
Porto Príncipe (RV) – Uma pequena delegação
de haitianos, cerca de 100, viajará ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial
da Juventude com o Papa Francisco.
Devido aos custos da viagem e da situação
econômica no Haiti, esses jovens não foram articulados pela Igreja local, mas vão
por conta própria. Em entrevista à Rádio Vaticano, o Arcebispo de Porto Príncipe,
Dom Guire Poulard, falou das dificuldades que a juventude enfrenta no país, que praticamente
são as mesmas de toda a população: falta de educação, saúde, moradia digna e oportunidades.
Diante dessas condições, muitos se vêem obrigados a abandonar o Haiti e o Brasil,
como sabemos, se tornou para eles uma espécie de terra prometida. Lá eles esperam
encontrar o que aqui é uma utopia: emprego. O Programa Brasileiro encontrou dois jovens
que já encaminharam a papelada para a embaixada brasileira para tentar o visto. Um
deles já conseguiu e só falta marcar a passagem. O destino dele será Balsas, no Maranhão.
Entretanto, quem fica, além da pobreza deve combater outro inimigo: a desesperança.
O bairro de Corail, um dos lugares onde trabalham as irmãs brasileiras, é o retrato
da falta de expectativa. Construído como um local provisório para acolher os desabrigados
do terremoto, as tendas se misturam com pequenas casas de compensado que só oferecem
mesmo o reparo das intempéries. Não há luz, não há água, não há banheiro nem cozinha.
O que era temporário, está se tornando permanente. Trabalhando diretamente com a juventude
local, a Ir. Rita Lori Finkler, da Congregação das Irmãs Filhas do Amor Divino, usa
a música para despertar não só o talento artístico dos jovens, mas para despertar
outros valores, como o da não-violência: Outro pedacinho de Brasil que encontramos
no Haiti e que também lida com essa falta de perspectiva é a Minustah, a missão de
paz liderada pelos militares brasileiros. Nós conversamos com o capelão, Ten. José
Ribamar Garcia de Souza, que presta assistência espiritual aos 1.200 homens do contingente.
“Minha paróquia é o militar brasileiro”, disse o Tenente, ao revelar que o sentimento
de impotência diante da realidade atinge muitos de nossos soldados. Mesmo sendo “pau
para toda obra”, garantindo a segurança, fazendo parto, construindo ruas, recolhendo
o lixo ou reformando orfanatos, o estresse de lidar com a miséria é forte e muitos
ficam abalados. Para o capelão, infelizmente a Minustah é imprescindível no Haiti.
A retirada está prevista para 2020 e, até lá, ele espera que o país possa caminhar
com os próprios pés. (BF)