Dom Mogavero: de Lampedusa, um grito de civilização e um pedido de humanismo
Cidade do Vaticano (RV) - Uma "chegada" altamente simbólica feita pelo Papa
Francisco a Lampedusa, que conseguiu colocar em primeiro plano o drama da imigração,
muitas vezes ligado unicamente à dinâmica dos números e das dificuldades. Para um
balanço sobre esta breve, mas intensa visita do Santo Padre à ilha localizada no extremo
sul da Itália – no Mediterrâneo, porta de entrada da África para a Europa –, a Rádio
Vaticano entrevistou o bispo da diocese siciliana de Mazzara del Vallo, Dom Domenico
Mogavero. Eis o que disse:
Dom Domenico Mogavero:- "Com certeza, a presença
do Papa em Lampedusa extirpou deste mar e desta ilha aquele caráter quase de maldição
que lhes foi etiquetado pelos eventos destes últimos anos. O gesto do Papa é altamente
profético, quer pelo gesto em si, quer pelo magistério que de Lampedusa dirigiu à
Igreja e ao mundo. Isso sem deixar de lado o aspecto intra-eclesial do significado
da visita do Papa. Efetivamente, também dentro da Igreja precisamos de muita purificação
em relação a esse tema. Justamente, a mensagem que dirigiu ao mundo é que de Lampedusa
se eleva um grito de civilização e se eleva também o pedido de um novo humanismo.
Ademais, o Papa colocou-se também na linha dos grandes gestos de João Paulo II, pedindo
perdão por tudo aquilo que aconteceu em Lampedusa e atribuindo-se a responsabilidade
– que não é diretamente sua, obviamente – de uma humanidade que fechou os olhos, deu
as costas para o sofrimento de tantos irmãos, que pediam esperança e pediam aceitação
por uma vida que fosse digna deles."
RV: O Papa ressaltou que a globalização
econômica abre o caminho para o drama das migrações. Também aí se tem uma mensagem
muito concreta, que evoca a Doutrina Social da Igreja e é, talvez, um chamado àquilo
que são as doutrinas econômicas de hoje...
Dom Domenico Mogavero:-
"Com certeza. As pobrezas poderiam favorecer a comunhão entre os últimos, enquanto
a riqueza certamente torna insensíveis ao grito de ajuda do pobre. Gostei muito da
referência à "globalização da indiferença". Um forte chamado à consciência que o Papa
fez a todos, porque talvez não tomar uma atitude seja a posição mais cômoda, dizer:
"Em suma, não estou em Lampedusa, daqui de onde estou posso fazer muito pouco ou nada,
e aquele pouco que poso fazer me coloca em paz com a consciência, que os outros pensem
no restante". Esta globalização da indiferença que o Papa quis superar justamente
com as modalidades de seu gesto: o de querer fazer-se presente, estar presente, de
dizer – citou de modo provocatório a parábola do Bom Samaritano – "Quero vir até você,
dar-me conta, quero, sobretudo, estar próximo daqueles que perderam a vida, buscando
a esperança". Foi muito bonito este gesto de querer rezar pelos mortos, para expressar
o pesar, para expressar a compaixão, para a abertura do coração. O querer pensar naqueles
para os quais o pensamento, materialmente falando, já não serve mais, porque morreram.
A morte deles, porém, é uma morte que continua a gritar. E a última pergunta que o
Papa fez creio que, nesse sentido, seja um apelo direto ao nosso coração. Primeiro
reiterou a pergunta feita por Deus a Adão (Onde estás?, ndr); depois a pergunta
feita a Caim (Onde está teu irmão?, ndr); e por fim perguntou: "Quem chorou
por estes mortos?"." (RL)