2013-07-09 19:46:17

Dom Mogavero: de Lampedusa, um grito de civilização e um pedido de humanismo


Cidade do Vaticano (RV) - Uma "chegada" altamente simbólica feita pelo Papa Francisco a Lampedusa, que conseguiu colocar em primeiro plano o drama da imigração, muitas vezes ligado unicamente à dinâmica dos números e das dificuldades. Para um balanço sobre esta breve, mas intensa visita do Santo Padre à ilha localizada no extremo sul da Itália – no Mediterrâneo, porta de entrada da África para a Europa –, a Rádio Vaticano entrevistou o bispo da diocese siciliana de Mazzara del Vallo, Dom Domenico Mogavero. Eis o que disse:

Dom Domenico Mogavero:- "Com certeza, a presença do Papa em Lampedusa extirpou deste mar e desta ilha aquele caráter quase de maldição que lhes foi etiquetado pelos eventos destes últimos anos. O gesto do Papa é altamente profético, quer pelo gesto em si, quer pelo magistério que de Lampedusa dirigiu à Igreja e ao mundo. Isso sem deixar de lado o aspecto intra-eclesial do significado da visita do Papa. Efetivamente, também dentro da Igreja precisamos de muita purificação em relação a esse tema. Justamente, a mensagem que dirigiu ao mundo é que de Lampedusa se eleva um grito de civilização e se eleva também o pedido de um novo humanismo. Ademais, o Papa colocou-se também na linha dos grandes gestos de João Paulo II, pedindo perdão por tudo aquilo que aconteceu em Lampedusa e atribuindo-se a responsabilidade – que não é diretamente sua, obviamente – de uma humanidade que fechou os olhos, deu as costas para o sofrimento de tantos irmãos, que pediam esperança e pediam aceitação por uma vida que fosse digna deles."

RV: O Papa ressaltou que a globalização econômica abre o caminho para o drama das migrações. Também aí se tem uma mensagem muito concreta, que evoca a Doutrina Social da Igreja e é, talvez, um chamado àquilo que são as doutrinas econômicas de hoje...

Dom Domenico Mogavero:- "Com certeza. As pobrezas poderiam favorecer a comunhão entre os últimos, enquanto a riqueza certamente torna insensíveis ao grito de ajuda do pobre. Gostei muito da referência à "globalização da indiferença". Um forte chamado à consciência que o Papa fez a todos, porque talvez não tomar uma atitude seja a posição mais cômoda, dizer: "Em suma, não estou em Lampedusa, daqui de onde estou posso fazer muito pouco ou nada, e aquele pouco que poso fazer me coloca em paz com a consciência, que os outros pensem no restante". Esta globalização da indiferença que o Papa quis superar justamente com as modalidades de seu gesto: o de querer fazer-se presente, estar presente, de dizer – citou de modo provocatório a parábola do Bom Samaritano – "Quero vir até você, dar-me conta, quero, sobretudo, estar próximo daqueles que perderam a vida, buscando a esperança". Foi muito bonito este gesto de querer rezar pelos mortos, para expressar o pesar, para expressar a compaixão, para a abertura do coração. O querer pensar naqueles para os quais o pensamento, materialmente falando, já não serve mais, porque morreram. A morte deles, porém, é uma morte que continua a gritar. E a última pergunta que o Papa fez creio que, nesse sentido, seja um apelo direto ao nosso coração. Primeiro reiterou a pergunta feita por Deus a Adão (Onde estás?, ndr); depois a pergunta feita a Caim (Onde está teu irmão?, ndr); e por fim perguntou: "Quem chorou por estes mortos?"." (RL)







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