Santo Padre: O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu, na manhã deste domingo,
na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística de encerramento do "Dia dos seminaristas,
noviços, noviças e todos os que estão no caminho vocacional".
O evento, promovido
pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, no âmbito do Ano da
Fé, reuniu de 04 a 07 deste mês, em Roma, milhares de seminaristas, noviços e noviças
de vários países.
"Vocês são seminaristas, noviços e noviças, jovens em caminhada
vocacional, vindos dos diversos cantos do mundo. Vocês representam a juventude da
Igreja. Se a Igreja é a Esposa de Cristo, de certo modo vocês representam o seu tempo
de noivado, a primavera da vocação, o período da descoberta, do discernimento, da
formação. E é um período muito belo, em que se lançam as bases do futuro", disse Francisco.
Neste
domingo, a Palavra de Deus nos fala da missão. "De onde nasce a missão? A resposta
é simples: nasce de um chamado – o do Senhor – e Ele chama para ser enviado. Mas qual
deve ser o estilo do enviado? Quais são os pontos de referência da missão cristã?
As leituras que ouvimos sugerem-nos três: a alegria da consolação, a cruz e a oração",
frisou ainda o Papa.
"O primeiro elemento é a alegria da consolação. O profeta
Isaías dirige-se a um povo que atravessou o período escuro do exílio, sofreu uma provação
muito dura; mas agora, para Jerusalém, chegou o tempo da consolação; a tristeza e
o medo devem dar lugar à alegria: Alegrem-se", diz o Profeta.
"É um grande
convite à alegria. Por quê? Qual é o motivo? Porque o Senhor derramará sobre a Cidade
Santa e seus habitantes uma cascata de consolação, de ternura materna: «Serão levados
ao colo e acariciados sobre os seus regaços. Como a mãe consola o seu filho, assim
eu vou consolar vocês». Todo cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta
mensagem de esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura
para com todos."
O Santo Padre destacou que "só podemos ser seus portadores,
se nós experimentarmos primeiro a alegria de ser consolados por Ele, de ser amados
por Ele. Isto é importante para que a nossa missão seja fecunda: sentir a consolação
de Deus e transmiti-la! O convite de Isaías: «consolem, consolem o meu povo» deve
ressoar no nosso coração e tornar-se missão. Hoje as pessoas precisam certamente de
palavras, mas sobretudo têm necessidade de que testemunhemos a misericórdia, a ternura
do Senhor, que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria
de levar a consolação de Deus!"
O segundo ponto de referência da missão é a
cruz de Cristo. "São Paulo, ao escrever aos Gálatas, diz: «Quanto a mim, de nada me
quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo». E fala de «estigmas»,
isto é, das chagas de Jesus crucificado, como selo, marca distintiva da sua vida de
apóstolo do Evangelho. No seu ministério, Paulo experimentou o sofrimento, a fraqueza
e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus:
mistério de morte e ressurreição."
Foi o ter-se configurado à morte de Jesus
que fez São Paulo participar na sua ressurreição, na sua vitória. "Na hora da escuridão
e da prova, já está presente e operante a alvorada da luz e da salvação. O mistério
pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. Se permanecermos dentro deste mistério,
estamos protegidos quer de uma visão mundana e triunfalista da missão, quer do desânimo
que pode surgir em vista das provas e dos insucessos."
"A fecundidade do anúncio
do Evangelho não deriva do sucesso nem do insucesso vistos segundo critérios de avaliação
humana, mas de conformar-se com a lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica de sair
de si mesmo e dar-se, a lógica do amor. É a Cruz – sempre Cruz com Cristo – que garante
a fecundidade da nossa missão. E é da Cruz, supremo ato de misericórdia e amor, que
se renasce como «nova criação»."
O terceiro e último elemento é a oração.
Ouvimos no Evangelho: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe».
Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias
ou apelos ao serviço e à generosidade, mas são escolhidos e mandados por Deus. Por
isso é importante a oração.
"A Igreja – repetia Bento XVI – não é nossa, mas
de Deus; o campo a cultivar é d’Ele. Assim, a missão é, sobretudo, graça. E, se o
apóstolo é fruto da oração, nela encontrará a luz e a força para a sua ação. Do contrário,
a nossa missão não será fecunda; mais, apaga-se no próprio momento em que se interrompe
a ligação com a fonte, com o Senhor."
"Queridos seminaristas, queridas noviças
e queridos noviços, queridos jovens em caminhada vocacional! «A evangelização faz-se
de joelhos»: disse-me um de vocês. Sejam sempre homens e mulheres de oração! Sem o
relacionamento constante com Deus a missão torna-se um ofício. O risco do ativismo,
de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita."
"Se olhamos
a vida de Jesus, constatamos que, na véspera de cada decisão ou acontecimento importante,
Ele Se recolhia em oração intensa e prolongada. Cultivemos a dimensão contemplativa,
mesmo no turbilhão dos compromissos mais urgentes e prementes. E quanto mais a missão
os chamar para ir para as periferias existenciais, tanto mais o seu coração se mantenha
unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo da fecundidade
de um discípulo do Senhor"!
"Jesus envia os seus sem «bolsa, nem alforje, nem
sandálias». A difusão do Evangelho não é garantida pelo número de pessoas, nem pelo
prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que
conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo
e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a cruz do Senhor."
O
Papa confiou os jovens à intercessão de Maria Santíssima, Mãe que nos ajuda a tomar
as decisões definitivas com liberdade, sem medo. "Que Ela lhes ajude a testemunhar
a alegria da consolação de Deus, a se conformarem com a lógica de amor da Cruz e crescerem
na união cada vez mais intensa com o Senhor." (MJ)