Rio de Janeiro (RV) - A dimensão da “peregrinação” faz parte do espírito da
JMJ. Eis que estamos às portas, e jovens do mundo inteiro estarão acorrendo ao Santuário
Mundial da Juventude para o encontro com Cristo juntamente com o primeiro peregrino,
o sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa Francisco, em sua primeira viagem apostólica.
Os
jovens não virão à nossa cidade para fazer turismo, nem para outras atividades que
não seja um encontro amoroso com Cristo Ressuscitado, abrindo o seu coração e a sua
alma para acolher Cristo e a mensagem contida no Evangelho. Virão como peregrinos.
Este é o espírito da Jornada. Por isso a acolhida simples, a caminhada para o “Campus
Fidei”, o tempo de oração e reflexão.
Todas as vezes que nós vamos peregrinar,
e a peregrinação é sempre a um lugar santo, como os Santuários Marianos ou os outros
locais de devoção cristã, devemos nos preparar espiritualmente. Em primeiro lugar
precisamos fazer um exame de consciência completo de nossa vida cristã, de nossa pertença
às comunidades e de nossa adesão ao Evangelho. Eu mesmo recordei a todos os voluntários
e famílias acolhedoras para que vivessem o tempo de espera em oração, confissão, penitência
para crescerem na fé. Somos chamados a nos arrepender de nossos pecados, procurando
deixar de lado tudo aquilo que nos afasta de Deus e da Santa Igreja. A nossa unidade
como Igreja fará a diferença nesse momento tão importante de nossa caminhada. Também
os que aqui residem podem ter o espírito de peregrino acolhendo os irmãos na fé. Como
eu sigo Jesus Cristo? Como eu vivo o Evangelho? Esta deve ser a nossa preocupação
fundamental nesse itinerário espiritual tanto para os que chegam como para os que
acolhem os jovens aqui no Santuário Mundial da Juventude.
Todo ser humano
é um ser em caminho. Esta característica exprime-se e alimenta-se quer na viagem existencial
de cada pessoa que percorre um itinerário ao longo do seu tempo de vida com todas
as vicissitudes que o marcam, quer nas múltiplas viagens que ela realiza pelas estradas
do mundo, por necessidades e interesses vários. Um dos motivos para a viagem é a fé.
O homem põe-se a caminho à procura de Deus ou atraído para o encontro com Ele: “Tu
atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos corações”. Quando o peregrino
parte movido pela fé, animado de verdadeiro espírito religioso em resposta a um apelo
e impulso divinos, então podemos dizer que ele faz uma “santa viagem”. Com o seu ato
adora a Deus, põe-se à escuta da sua voz, acolhe o Evangelho, manifesta o seu amor
e a sua fé para com Deus e cultiva a sua espiritualidade. A peregrinação religiosa
é uma constante na história da humanidade e da Igreja. É motivada pelo fascínio exercido
pelos “lugares santos” ou pela esperança de dar passos em sua caminhada espiritual,
ou mesmo para pedir ou agradecer situações existenciais. Frequentemente, o peregrino
leva no coração a gratidão por alguma graça alcançada ou o desejo de cumprir determinada
promessa que fez. Normalmente, os santuários são a meta das peregrinações religiosas.
Pelos acontecimentos e graças que neles se verificam, os santuários são memória viva
da manifestação de Deus e das maravilhas que Ele ali realiza em favor dos seus fiéis;
são também sinais da Sua proximidade e disponibilidade para com os homens, beneficiados
com os dons espirituais que recebem; tornam-se igualmente lugares de esperança para
alívio e consolação das tribulações e anseios humanos.
A peregrinação, enquanto
ato religioso em direção a um lugar sagrado, constitui um memorial dos acontecimentos
e graças de Deus que nele se realizaram. Torna-se, com frequência, para muitos peregrinos,
experiência da presença e ação de Deus junto dos que Nele confiam. E dá corpo à súplica
confiante e humilde de ajuda e ação de graças mediante atitudes, gestos e palavras.
Por
isso, quem vem ao Rio de Janeiro é um peregrino que quer se abrir ao Redentor, que
do alto do Corcovado está de braços abertos conclamando os peregrinos a irem ao Seu
Divino Encontro.
A narração evangélica da peregrinação da Sagrada Família de
Nazaré ao templo de Jerusalém, permite-nos compreender o mais importante do objetivo
e da espiritualidade desta prática religiosa (Lc 2, 41-52). O objetivo dessa família
era cumprir a lei de Deus, adorando-O no seu templo (cf. Ex 23,16; Dt 16,16). Todo
aquele que se faz peregrino centra-se em Deus, procura escutar e obedecer a voz do
Espírito que o guia nos seus caminhos e o faz entrar na comunhão com Deus. E o fruto
da peregrinação, semelhante ao que viveu Jesus, será o crescimento em sabedoria e
graça diante de Deus e dos homens.
As peregrinações evocam nossa caminhada
pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração.
Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais
para viver "como Igreja" as formas da oração cristã.
Ao virem como peregrinos
ao Rio de Janeiro, a caminhada é para que o encontro com o Senhor juntamente com jovens
do mundo inteiro, que são muito bem-vindos, os faça viver como discípulos à “luz da
fé”, que os levem a retornar para suas casas como animados missionários: "Ide e fazei
discípulos entre todas as nações!" (cf. Mt 28, 19). Fazer discípulos, chamar outros
para a comunhão e o convívio com o Senhor é o tema mais querido do Evangelho de São
Mateus. Esse mandato, essa missão já está anunciada em todo o Evangelho. E, na verdade,
só faz discípulo quem já é discípulo, quem convive com o Senhor.
Neste tempo
de “mudança de época”, em que a nossa juventude assume o seu profetismo cristão nas
manifestações pacíficas e com objetivos claros de cidadania, todos nós, como peregrinos
cristãos, somos chamados a ser “protagonistas de um mundo novo”. Por isso mesmo, o
peregrino discípulo-missionário pauta sua vida pela disponibilidade e fraternidade.
Quer fazer uma verdadeira experiência de comunhão com Cristo e com os irmãos e irmãs.
Não procura levar vantagem em nada por se colocar a serviço e tampouco desanima com
as dificuldades próprias de uma grande concentração. Ele, com isso, ganha a pertença
ao Reino, ganha a certeza do amor de Deus, ganha a certeza de ser para os outros sinal
cândido de misericórdia e de amor. O peregrino, com certeza, ganha o levar e doar
a paz do Senhor. Leva no seu coração e reparte com os outros a esperança de tempos
novos. São frutos e dons que o mundo necessita muito e que cada um que chega como
peregrino deverá levar para sua casa. No mundo de hoje, com as violências, guerras,
corrupção, maldade, divisão, dependências e frustrações, o peregrino é sinal que em
Cristo Ressuscitado, razão única de sua vida a esperança, tem seu fundamento.
Sejam
todos muito bem-vindos! Desejo uma boa preparação para este espírito de peregrinação
que a todos nós deve mover para ir ao encontro do Redentor!
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ