Para Metropolita Ioannis, colegialidade defendida por Francisco aproxima Igrejas
Cidade do Vaticano (RV) – O Presidente (pelo lado ortodoxo) da Comissão Mista
Internacional para o Diálogo entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais,
o Metropolita de Pérgamo Ioannis Zizioulas, guiou a delegação do Patriarcado Ecumênico
de Constantinopla que participou da celebração Eucarística por ocasião da Solenidade
dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no último sábado (29), no Vaticano. Ele é professor
de teologia na Universidade de Tessalônica e no King's College de Londres e considerado
por Yves Congar como "um dos teólogos mais originais e mais profundos de nossa época".
“A
ideia de colegialidade, tão forte no olhar de Francisco sobre a Igreja” e as palavras
dirigidas à Delegação Ecumênica no encontro de sexta-feira (28) e reforçadas na homilia
da Missa do dia 29, trouxeram uma grande alegria ao Metropolita. “Isto significa que
é um pensamento seu constante, afirmou. Outro fator crucial é o fato de que o Papa
Francisco parece conceber a idéia e colocar-se, antes de tudo, como Bispo de Roma.
Se você andar no caminho sugerido por estas duas coordenadas – compreender-se primeiramente
como bispos e reconhecer a colegialidade da Igreja – eu acredito que será muito fácil
para os ortodoxos e católicos encontrarem-se na unidade sacramental como irmãos em
Cristo”, “portanto, não somente como aliados em estratégias culturais e batalhas éticas”
Ioannis
diz não saber ainda como o Papa vai mudar a forma concreta de exercer o papado, mas,
“em muitos gestos e nas palavras de Francisco, parece apresentar-se o melhor da ideia
do papado, típica dos primeiros tempos da Igreja. O Papa é, primeiramente, Bispo de
uma Igreja, a Igreja de Roma. As outras coisas vem depois. Papa Francisco compreende
também a colegialidade como algo essencial para a Igreja e isto poderá, com certeza,
sugerir mudanças concretas”.
Perguntado pelo Vaticaninsider sobre que reformas
um ortodoxo poderia esperar, Ioannis respondeu exemplificando que “o Papa poderia
reconhecer ao sínodo dos bispos católicos uma autoridade deliberativa e não somente
uma função consultiva”. “Soube que o Papa Francisco constituiu um grupo de oito cardeais
para aconselhá-lo no governo da Igreja e na reforma da Cúria”, observou.
Falando
sobre a fase vivida pela Comissão Teológica Mista entre católicos e ortodoxos, Ioannis
observou que no documento de Ravena de 2007, os ortodoxos reconheceram que o primado
é necessário e faz parte da essência da Igreja. “Esse não é somente um elemento 'organizativo
' humano. Mas deve ser sempre compreendido e exercitado no contexto da colegialidade
– enfatizou. Sobre isto os católicos disseram estar de acordo 'em princípio'. Se nos
movermos nesta direção poderemos continuar o caminho. Também por isto espero que o
Papa Francisco continue a nos dar sinais que tornem mais fácil para os ortodoxos aceitar
o primado”.
O Metropolita evidenciou que tradicionalmente os ortodoxos têm
a preocupação de que o Papa queira submetê-los e exercer jurisdição sobre eles. “Colocar
de lado explicitamente qualquer pretensão de jurisdição seria muito útil”, observa.
“E isto vai de encontro com o fato de Papa Francisco se apresentar como Bispo de Roma.
Ele disse a mim e a todos os bispos: eu sou um bispo, como também você o é. Todos
os bispos, do Papa aos Patriarcas até o último deles, somos iguais do sob a ótica
do sacerdócio”.
O Patriarca Bartolomeu propôs ao Papa Francisco de encontrar-se
em Jerusalém, 50 anos após o histórico abraço entre Paulo VI e Atenágora, convite
aceito prontamente. O Metropolita explicou, no entanto, tratar-se de uma “questão
complexa, pois envolve as relações com as realidades políticas e sobre isto o Papa
disse que deverá consultar seus colaboradores. Nós esperamos sua decisão final. Do
nosso lado, estamos prontos. Seria muito bonito, sobretudo neste momento. O Papa e
o Patriarca dariam uma mensagem de paz e reconciliação para todo o Oriente Médio”.
(JE)