2013-06-29 08:40:31

O Papa Francisco não quer bispos príncipes


Juiz de Fora (RV) - Fiquei encantado com a alocução do Santo Padre Francisco aos cento e cinqüenta núncios apostólicos da Igreja Católica em todo o mundo quando ele disse com uma luminosidade de um enamorado por Nosso Senhor Jesus Cristo: que em primeiro lugar, que sejam próximos ao povo, pacientes e misericordiosos. Que amem a pobreza interior, entendida como liberdade para o Senhor, e exterior, feita de simplicidade e austeridade de vida. Que não ambicionem o episcopado nem tenham uma psicologia de “príncipes”. Enfim, que sejam capazes de conduzir, guiar e cuidar do seu rebanho.
O Papa Francisco advertiu aos Núncios Apostólicos contra o perigo, também para os homens da Igreja, daquilo que De Lubac designava como “mundanidade espiritual”: ceder ao espírito do mundo, que leva a agir para a própria realização e não para a glória de Deus – uma espécie (disse) de “burguesia do espírito e da vida” que leva a conformar-se, a procurar uma vida cômoda e tranqüila”.
O Papa Francisco, recordando o clássico “Diário da Alma”, do Beato João XXIII, que afirmava ter compreendido cada vez melhor que, para bem realizar a sua missão (de representante pontifício) tinha que se concentrar no essencial – Cristo e o Evangelho, caso contrário corre-se o risco de cair no ridículo uma missão santa.“São palavras fortes, mas verdadeiras: ceder ao espírito mundano expõe - sobretudo a nós, Pastores – ao ridículo: poderemos porventura receber aplausos, mas esses mesmos que pareçam aprovar-vos, criticar-vos-ão depois, pelas costas”.
Os Núncios Apostólicos devem ser bispos e não diplomatas apenas, por isso que Papa Francisco insistiu em sublinhar que os representantes pontifícios são todos Pastores: “Somos Pastores” Isto, nunca podemos esquecê-lo. Vós, caros Representantes pontifícios, sois presença de Cristo, sois presença sacerdotal, de Pastores… sois Pastores que servem a Igreja, com a função de encorajar, de serdes ministros de comunhão, e também com a tarefa, nem sempre fácil, de corrigir. Fazei sempre tudo com profundo amor… Procurai sempre o bem, o bem de todos, o bem da Igreja e de cada pessoa”. Na parte final da sua alocução aos Núncios Apostólicos, o Papa Francisco referiu “um dos pontos mais importantes do seu serviço: a colaboração para as nomeações episcopais, indicando alguns critérios a ter em conta nessa “delicada tarefa”.
Há muito tempo tenho advertido acerca das promoções dos bispos para arcebispos, em critérios muitas vezes mais de carreiristas do que de homens que cheiram o cheiro do povo. O Papa Francisco quer pastores que sejam pastores, que conheçam as suas ovelhas: “que os candidatos sejam Pastores próximos das pessoas (este é o primeiro requisito), pais e irmãos, sejam mansos, pacientes, misericordiosos; amem a pobreza - interior, como liberdade para o Senhor, e também exterior, como simplicidade e austeridade de vida, que não tenham uma psicologia de “príncipes”. “Sede atentos a que não sejam ambiciosos, que não procurem o episcopado” – insistiu o Papa, acrescentando ainda: “que sejam esposos de uma Igreja, sem passarem o tempo à procura de outra”. Finalmente, os Pastores “saibam ir à frente do rebanho a indicar o caminho, no meio do rebanho para o manter unido, e atrás do rebanho para evitar que alguém fique para trás e para que o rebanho aprenda a encontrar o caminho. Um bom candidato a bispo é precisamente alguém que não se esforça por chegar a essa posição, considera o Papa Francisco.
O Papa Francisco explicou que um bispo tem a Igreja por esposa e não anda constantemente à procura de outra, em claro carreirismo, como que em cinco anos em cada lugar, pulando de galho em galho. Por isso, o Papa Francisco descreveu um bom candidato a bispo como sendo “manso, paciente, próximo das pessoas” e desprovido de qualquer “psicologia de príncipe”, de pessoa que quer ser apenas o maior, o que manda, o que aparece nas mídias sociais e se esquecem das suas ovelhas.
Os bispos não são expressão de uma estrutura, nem de uma necessidade organizativa. O Papa Francisco alertou para a falta de vigilância, porque até mesmo um grande amor, quando não é alimentado, seca e morre: “A falta de vigilância torna o pastor morno, distraído, esquecido e até indiferente; seduz-se com a perspectiva da carreira, com a lisonja do dinheiro e os compromissos com o espírito deste mundo; fica preguiçoso, transforma-se num funcionário, num clérigo de Estado, mais preocupado consigo, com a organização e a estrutura do que com o verdadeiro bem do povo de Deus”, sublinhou o Papa.
O Santo Padre Francisco traçou para os bispos o perfil do autêntico pastor: "Ser pastor significa dispor-se a caminhar no meio e atrás do rebanho; ser capaz de ouvir a história silenciosa de quem sofre e de apoiar o passo de quem receia não ser capaz; é estar atento para ajudar a levantar, a serenar e incutir esperança, a pôr de lado toda a espécie de preconceito e inclinar-se sobre todos quantos o Senhor confiou à nossa solicitude." O Papa disse ainda que o bispo deve estar disponível para todos, a começar pelos sacerdotes, para quem a porta deve estar sempre aberta, ouvi-los, tratá-los bem e jamais puni-los como se fosse um inquisidor.
Que os bispos possam de fato, fazer como eu sempre fiz: "viver uma vida simples e autenticamente cristã". Que nós bispos sejamos sempre simples. Jamais tive receio, como meu antecessor, de ,enquanto possível, utilizar coletivos em vez do carro particular. Isso nos torna mais próximos e credíveis ao povo. O povo fica horrorizado com o triunfalismo de príncipes. Sejamos pastores e somente pastores do povo!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).








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