Juiz de Fora (RV) - Fiquei encantado com a alocução do Santo Padre Francisco
aos cento e cinqüenta núncios apostólicos da Igreja Católica em todo o mundo quando
ele disse com uma luminosidade de um enamorado por Nosso Senhor Jesus Cristo: que
em primeiro lugar, que sejam próximos ao povo, pacientes e misericordiosos. Que amem
a pobreza interior, entendida como liberdade para o Senhor, e exterior, feita de simplicidade
e austeridade de vida. Que não ambicionem o episcopado nem tenham uma psicologia de
“príncipes”. Enfim, que sejam capazes de conduzir, guiar e cuidar do seu rebanho. O
Papa Francisco advertiu aos Núncios Apostólicos contra o perigo, também para os homens
da Igreja, daquilo que De Lubac designava como “mundanidade espiritual”: ceder ao
espírito do mundo, que leva a agir para a própria realização e não para a glória de
Deus – uma espécie (disse) de “burguesia do espírito e da vida” que leva a conformar-se,
a procurar uma vida cômoda e tranqüila”. O Papa Francisco, recordando o clássico
“Diário da Alma”, do Beato João XXIII, que afirmava ter compreendido cada vez melhor
que, para bem realizar a sua missão (de representante pontifício) tinha que se concentrar
no essencial – Cristo e o Evangelho, caso contrário corre-se o risco de cair no ridículo
uma missão santa.“São palavras fortes, mas verdadeiras: ceder ao espírito mundano
expõe - sobretudo a nós, Pastores – ao ridículo: poderemos porventura receber aplausos,
mas esses mesmos que pareçam aprovar-vos, criticar-vos-ão depois, pelas costas”. Os
Núncios Apostólicos devem ser bispos e não diplomatas apenas, por isso que Papa Francisco
insistiu em sublinhar que os representantes pontifícios são todos Pastores: “Somos
Pastores” Isto, nunca podemos esquecê-lo. Vós, caros Representantes pontifícios, sois
presença de Cristo, sois presença sacerdotal, de Pastores… sois Pastores que servem
a Igreja, com a função de encorajar, de serdes ministros de comunhão, e também com
a tarefa, nem sempre fácil, de corrigir. Fazei sempre tudo com profundo amor… Procurai
sempre o bem, o bem de todos, o bem da Igreja e de cada pessoa”. Na parte final da
sua alocução aos Núncios Apostólicos, o Papa Francisco referiu “um dos pontos mais
importantes do seu serviço: a colaboração para as nomeações episcopais, indicando
alguns critérios a ter em conta nessa “delicada tarefa”. Há muito tempo tenho advertido
acerca das promoções dos bispos para arcebispos, em critérios muitas vezes mais de
carreiristas do que de homens que cheiram o cheiro do povo. O Papa Francisco quer
pastores que sejam pastores, que conheçam as suas ovelhas: “que os candidatos sejam
Pastores próximos das pessoas (este é o primeiro requisito), pais e irmãos, sejam
mansos, pacientes, misericordiosos; amem a pobreza - interior, como liberdade para
o Senhor, e também exterior, como simplicidade e austeridade de vida, que não tenham
uma psicologia de “príncipes”. “Sede atentos a que não sejam ambiciosos, que não procurem
o episcopado” – insistiu o Papa, acrescentando ainda: “que sejam esposos de uma Igreja,
sem passarem o tempo à procura de outra”. Finalmente, os Pastores “saibam ir à frente
do rebanho a indicar o caminho, no meio do rebanho para o manter unido, e atrás do
rebanho para evitar que alguém fique para trás e para que o rebanho aprenda a encontrar
o caminho. Um bom candidato a bispo é precisamente alguém que não se esforça por chegar
a essa posição, considera o Papa Francisco. O Papa Francisco explicou que um bispo
tem a Igreja por esposa e não anda constantemente à procura de outra, em claro carreirismo,
como que em cinco anos em cada lugar, pulando de galho em galho. Por isso, o Papa
Francisco descreveu um bom candidato a bispo como sendo “manso, paciente, próximo
das pessoas” e desprovido de qualquer “psicologia de príncipe”, de pessoa que quer
ser apenas o maior, o que manda, o que aparece nas mídias sociais e se esquecem das
suas ovelhas. Os bispos não são expressão de uma estrutura, nem de uma necessidade
organizativa. O Papa Francisco alertou para a falta de vigilância, porque até mesmo
um grande amor, quando não é alimentado, seca e morre: “A falta de vigilância torna
o pastor morno, distraído, esquecido e até indiferente; seduz-se com a perspectiva
da carreira, com a lisonja do dinheiro e os compromissos com o espírito deste mundo;
fica preguiçoso, transforma-se num funcionário, num clérigo de Estado, mais preocupado
consigo, com a organização e a estrutura do que com o verdadeiro bem do povo de Deus”,
sublinhou o Papa. O Santo Padre Francisco traçou para os bispos o perfil do autêntico
pastor: "Ser pastor significa dispor-se a caminhar no meio e atrás do rebanho; ser
capaz de ouvir a história silenciosa de quem sofre e de apoiar o passo de quem receia
não ser capaz; é estar atento para ajudar a levantar, a serenar e incutir esperança,
a pôr de lado toda a espécie de preconceito e inclinar-se sobre todos quantos o Senhor
confiou à nossa solicitude." O Papa disse ainda que o bispo deve estar disponível
para todos, a começar pelos sacerdotes, para quem a porta deve estar sempre aberta,
ouvi-los, tratá-los bem e jamais puni-los como se fosse um inquisidor. Que os bispos
possam de fato, fazer como eu sempre fiz: "viver uma vida simples e autenticamente
cristã". Que nós bispos sejamos sempre simples. Jamais tive receio, como meu antecessor,
de ,enquanto possível, utilizar coletivos em vez do carro particular. Isso nos torna
mais próximos e credíveis ao povo. O povo fica horrorizado com o triunfalismo de príncipes.
Sejamos pastores e somente pastores do povo! + Eurico dos Santos Veloso Arcebispo
Emérito de Juiz de Fora(MG).