As relações Santa Sé - China, segundo o Diretor da Asianews
Cidade do Vaticano (RV) – O sinólogo Padre Bernardo Cervellera, Diretor da
Agência Asianews – a Agência do Pontifício Instituto Missões Exteriores (PIME) – traçou
um panorama das relações entre Roma e Pequim. Falando ao Vatican Insider, observou
que também os católicos 'oficiais' sofrem limitações e que o missionário jesuíta Matteo
Ricci continua ajudando a Igreja na China através seu testemunho dado no século XVII.
Logo
após a eleição do novo pontífice, o governo chinês enviou as formais saudações ao
Papa, mas no dia seguinte, pediu a Francisco para “avançar” nas conversações. Padre
Cervella explicou que para abrir canais diplomáticos, “Pequim continua a colocar as
mesmas condições do tempo de Mao: cortar relações com Taiwan e não interferir nos
assuntos internos, que significa não nomear bispos. Na sua magistral Carta à Igreja
chinesa – observou -, Bento XVI esclareceu que, sobretudo o segundo ponto, é inaceitável.
Mesmo existindo contatos, o estado das relações é o mesmo”.
Padre Cervellera
observa que a nível político e formal não existe nenhuma evolução nas relações entre
governo comunista e confissões religiosas. A nível informal, no entanto, verifica-se
eventualmente, alguma situação que poderia antever alguma melhoria, mas em seguida
o governo retoma a habitual repressão. “Ainda estão presos dois bispos com mais de
80 anos e cerca de dez sacerdotes, sem falar no caso do Bispo Auxiliar de Shanghai,
Dom Ma Daqin, em prisão domiciliar, somente por ter decidido sair da estrutura de
controle da Associação Patriótica”, denunciou.
Recentemente transcorreu o 24º
aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial. As Mães de Tiananmen acusam Xi
Jinping de querer retornar à ortodoxia maoísta. Interpelado pelo Vatican Insider sobre
o fundamento desta acusação, o Diretor da Asianews afirmou “acreditar nisto. Não obstante
as esperanças depositadas no novo líder chinês – que mostrou-se inicialmente ser um
reformista – seu modo de agir lembra políticos dos anos cinquenta. Xi sabe que se
criticar Mao pela Revolução Cultural ou por desastres do Grande progresso, será criticado
pelo Partido e ele tem muito medo disto”.
Falando sobre o jesuíta Matteo Ricci,
disse que seu caminho em direção à honra dos altares ajuda muito a Igreja na China.
“O grande missionário jesuíta é muito amado pela Igreja chinesa – junto com seu primeiro
convertido, Paolo Xu Guangqi - e é respeitado até mesmo pelo governo. A sua obra de
inculturação e a sua grande sabedoria são admiradas e respeitadas e os católicos vêem
nele um “pai nobre”. Mas ele foi também um grande servidor do povo, sem corrupção.
O governo teme as comparações com este herói do século XVII”.
Profundo conhecedor
da realidade chinesa, Padre Cervellera falou sobre a liberdade religiosa na China,
“um país imenso, que compreende muitas realidades diferentes. No Tibet – explicou
- a liberdade religiosa é negada aos budistas, enquanto eles são quase livres em outras
províncias, desde que não peçam notícias do Dalai Lama. O mesmo acontece com os muçulmanos,
que na Província de Xinjiang são equiparados a terroristas enquanto no resto do país
tem bastante liberdade de ação. Para os cristãos – católicos e protestantes – o discurso
está ligado à sua pertença ou não à Associação Patriótica, um organismo que Bento
XVI definiu como “incompatível” com a fé católica. Mas em muitas situações, também
os católicos 'oficiais', sobretudo o clero, sofrem limitações”. Em função desta realidade,
o Diretor da Asianews concluiu afirmando “não existir liberdade religiosa na China”.
(JE)