2013-06-22 15:31:50

A preocupação do Papa e da Santa Sé sobre Síria: entrevista ao cardeal Leonardo Sandri


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Com a audiência do Papa Francisco, concluiu-se no Vaticano a 86ª Assembleia da ROACO, a Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais, centrada na "Situação dos cristãos e das Igrejas no Egipto, Iraque, Síria e Terra Santa”. Exactamente sobre estes cenários se concentra o comunicado final, em que se percorrem os testemunhos dos delegados presentes, destacando particularmente as dificuldades vividas por muitos cristãos naquelas áreas, mas também a contribuição dada para a reconciliação e o bem comum. Muito debate sobre o drama dos refugiados da Síria e a difícil situação em Gaza. A colega francesa Romilda Ferrauto entrevistou a este propósito o Cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais (e presidente da ROACO).
– A Síria é como um fio condutor… e também todo o Médio Oriente. O Papa pediu a cessação imediata das hostilidades, das armas - "Calem as armas" - e que se possa iniciar um caminho de paz, para o bem de todo o Médio Oriente, sobretudo para os países vizinhos, para o Iraque, o Líbano, a Jordânia e assim por diante. O Papa confirmou estas suas preocupações nas palavras que nos dirigiu, e nós tivemos a oportunidade de lhe apresentar as três testemunhas que falaram à ROACO, juntamente com o Núncio apostólico, Dom Zenari, descrevendo a situação em que vivem: um jesuíta de Homs, uma Irmã de Damasco e um Padre franciscano do norte da Síria, perto de Antioquia. Testemunhos que levam quase, até mesmo, a chorar, ao ver e ouvir aquilo que devem viver cada dia, em contacto tanto com as forças do governo como com os rebeldes, e como eles devem estar ao lado da população que é vítima desse tipo de agressão de uns contra os outros. São vítimas impotentes.
Portanto, a Santa Sé está preocupada, o Papa está preocupado, e todos nós gostaríamos que quanto antes começasse uma negociação, de tal modo que, uma vez terminada a voz das armas, se possa falar para se chegar a uma solução que salvaguarde não apenas os inocentes e as vítimas: que salvaguarde a dignidade humana, como tal, de todos os habitantes da Síria.
– Orações, solidariedade, apelos… Há algo mais que a Igreja possa fazer para pôr termo a este interminável banho de sangue?
– Há, sem dúvida, uma acção por parte da diplomacia da Santa Sé que, como se sabe, é uma acção que se faz quase sempre na maior reserva e prudência, mas que procura habilmente incutir estes princípios. E através destes valores, que a Santa Sé e os Papas sempre proclamaram, procura-se através de encontros com as autoridades, através dos Núncio apostólicos, através dos embaixadores que estão aqui junto da Santa Sé, levar a esta convicção, ou seja, que a única solução que pode levar à paz é a negociação e o confronto político.
– Na sua homilia, na terça de manhã, durante a Missa para os cristãos no Médio Oriente, pediu que se reze também para que os cristãos orientais não respondam ao ódio com o ódio. Existe uma preocupação em relação a isto: que os cristãos possam ser tentados a recorrer a métodos não tanto cristãos, não tanto evangélicos?
– Existe este perigo. Graças a Deus até agora ainda não se verificou. Não é mau, contudo, recordar estes apelos para responder ao mal com o bem, e não o mal com o mal, de tal modo que os cristãos continuem sempre no caminho das bem-aventuranças, no caminho da humildade, no caminho por vezes da afronta, e se saiba oferecer a outra face, se por se sofre a perseguição.
– Não ignoramos que algumas vozes respeitáveis nas Igrejas locais pensam, por vezes, que as ditaduras são um mal menor em comparação com o caos actual. O que nos pode dizer sobre isso?
– Sim, certamente esta convicção de alguns é parcial, porque talvez não tomam em conta outros aspectos, que também podem ser criticáveis. O objectivo final é sempre o respeito pelos direitos da pessoa humana e, portanto, que haja também uma democratização, na qual todos podem participar, e se possa construir uma sociedade, uma nova cultura da participação de todos os cidadãos os cidadãos - cristãos ou de outras religiões, mesmo as maioritárias - para o bem do País. Portanto, o desejo último seria uma Constituição, fruto certamente de amplos acordos entre todos os que vivem no País, mas acordos através do diálogo, e não através das armas, para que na Constituição seja evidente a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, seja qual for a religião a que pertencem, para todos contribuírem para o bem da sua pátria.
– Resta, para terminar, também o desejo de manter os cristãos no seu País?
– Nós queremos que os cristãos permaneçam, porque esses Países não se podem entender sem a presença cristã. Eles são, contudo, tentados muito fortemente a deixar este País pela insegurança e falta de trabalho e pela busca de um futuro para os seus filhos. E não devemos ceder à tentação de nos conformarmos com isso e dizer: "Está bem, podem ir embora todos os cristão". Pelo contrário, mesmo que tenham ficado poucos, que eles sejam realmente a semente de um novo futuro de valores próprios da consciência cristã.








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