O jesuíta Pe. Yanez analisa pontificado de Papa Francisco
Roma (RV) – O sacerdote jesuíta Miguel Yanez, docente de Teologia Moral na
Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, teve como Diretor Espiritual o então Cardeal
Jorge Mario Bergoglio, que também foi seu formador e colega no Colégio Massimo. Em
entrevista ao Vatican Insider, Padre Yanez analisou estes quase cem primeiros dias
de pontificado.
Do primeiro encontro com Bergoglio – quando pediu para ser
admitido na Companhia de Jesus -, o sacerdote jesuíta recorda "do olhar penetrante
e da escuta atenta". Perguntado se reconhecia o Padre ou o Arcebispo Bergoglio no
Papa Francisco, respondeu que “quando falamos ao telefone, era a mesma pessoa que
falou comigo em outros tempos e foi a continuação de nossas conversas anteriores”.
Ele ressaltou, no entanto, que “em suas aparições em público, pode-se dizer que surgiu
uma personalidade até agora insuspeita: como formador e também como Arcebispo e Cardeal
Bergoglio, não gostava muito de exposição pública, sobretudo nos meios de comunicação;
raramente concedia alguma entrevista. Agora, ele surpreende com a sua desenvoltura
na nova função. Se poderia dizer, quase que no ‘desejo de ser Papa’. Obviamente se
sabe que ele não tinha esta ambição, mas agora transparece uma vontade de querer realmente
assumir esta missão dada a ele pelo Espírito Santo com grande entusiasmo e calor humano”.
Mesmo
com a novidade na maneira de expressar-se em público, Padre Yanez reconhece em Papa
Francisco os mesmos gestos do Padre Bergoglio, “sempre atento às pessoas, especialmente
aos pobres, fracos, crianças e idosos”. E exemplifica isto, citando a homilia dirigida
às crianças quando de sua visita à Paróquia romana de Santa Isabel e Zacarias: “era
o mesmo estilo que aprendemos dele quando éramos seminaristas, na Paróquia de São
José, em San Miguel, Buenos Aires: conversar com as crianças, permitindo-lhes participar
nas nossas homilias da missa”. E acrescenta: “o mesmo gesto ele repetiu em 7 de junho,
dia do Sagrado Coração de Jesus, quando, deixando de lado o discurso escrito dirigido
à comunidade das escolas dos jesuítas, preferiu deixar falar as crianças e adolescentes”.
E recordou que quando era Arcebispo em Buenos Aires, Bergoglio começou a realizar
uma missa anual num estádio de futebol com as crianças de toda arquidiocese, acolhendo
assim milhares de crianças.
Nestes quase cem primeiros dias de pontificado,
Padre Yanez destacou a visita do Papa Francisco ao Instituto para Menores Casal del
Marmo e o 'lava-pés' dos jovens reclusos, mesmo não católicos: “me tocou profundamente
o olhar de felicidade dirigido a cada um deles após ter concluído o gesto do lava-pés”,
afirmou.
O sacerdote jesuíta, amigo pessoal de Bergoglio, pensa que devido
a nova missão que lhe foi confiada, “lhe fará falta o contato com as pessoas, a liberdade
de usar os meios de transporte públicos, o metrô, andar pelas ruas para encontrar
as pessoas, particularmente os pobres e os sofredores”.
Ao concluir, o docente
de Teologia Moral da Gregoriana afirmou que Papa Francisco “continua a ser um filho
de Santo Inácio também como Papa, mas com uma abertura para toda a Igreja, com um
sentido de universalidade que caracteriza a Companhia de Jesus, sem fazer disto um
obstáculo ao seu ministério de pastor de todos. Quer nas suas palavras quer nas suas
atitudes, vemos nele um verdadeiro jesuíta – o que o torna para a Companhia de Jesus
hoje uma luz no seu caminho eclesial”. (JE)