Papa Francisco: "Os Dez Mandamentos não são um hino ao "não", mas ao "sim" a Deus
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou na manhã deste domingo,
a Santa Missa na Praça São Pedro na presença de fiéis provenientes de todas as partes
do mundo, por ocasião do Dia do Evangelho da Vida (Evangelium Vitae), no âmbito do
Ano da Fé. Um evento que teve início já ontem, sábado com a peregrinação ao Túmulo
de São Pedro durante todo o dia. Na parte da manhã foram proferidas catequeses sobre
a Evangelium Vitae para os diferentes grupos linguísticos em vários locais da cidade
de Roma. Já na parte da tarde a Adoração Eucarística e o Sacramento da Penitência
em algumas igrejas nas proximidades da Basílica de São Pedro. À noite uma procissão
com velas pela Via da Conciliação, que se concluiu na Praça São Pedro com uma vigília.
Numa
manhã de sol e calor presentes também milhares de motociclistas em Harley-Davidsons
provenientes de todo o mundo. O motivo da presença são 110 anos de fundação dessa
empresa estadunidense. O grupo de motociclistas deu de presente ao Papa na última
quarta-feira duas motos "Harley Davidson" para celebrar a ocasião, motos que serão
utilizadas pela gemdarmaria vaticana.
Na sua homilia durante a Santa Missa,
o Papa Francisco inicou recordando que a celebração tinha um nome muito belo: «Evangelium
Vitae», o Evangelho da Vida. Com esta Eucaristia, no Ano da Fé, - continuou o Papa
- queremos agradecer ao Senhor pelo dom da vida, em todas as suas manifestações, e
ao mesmo tempo queremos anunciar o Evangelho da Vida.
Partindo da Palavra de
Deus o Santo Padre propôs três pontos de meditação: primeiro, a Bíblia, que nos revela
o Deus Vivo, o Deus que é Vida e fonte da vida; segundo, Jesus Cristo que dá a vida
e o Espírito Santo mantém-nos na vida; terceiro, seguir o caminho de Deus leva à vida,
ao passo que seguir os ídolos leva à morte.
“A Bíblia mostra-nos o drama
humano em toda a sua realidade, o bem e o mal, as paixões, o pecado e as suas consequências.
Quando o homem quer afirmar-se a si mesmo, fechando-se no seu egoísmo e colocando-se
no lugar de Deus, acaba por semear a morte. Exemplo disto mesmo é o adultério do rei
Davi. E o egoísmo leva à mentira, pela qual se procura enganar a si mesmo e ao próximo”.
Mas, a Deus, não se pode enganar, - disse o Papa - e ouvimos as palavras
que o profeta disse a Davi: Tu praticaste o mal aos olhos do Senhor (cf. 2 Sam 12,
9). O rei vê-se confrontado com as suas obras de morte, compreende e pede perdão:
«Pequei contra o Senhor» (v. 13); e Deus misericordioso, que quer a vida, perdoa-lhe,
devolve-lhe a vida.
Toda a Escritura – continuou Francisco - nos lembra que
Deus é o Vivente, aquele que dá a vida e indica o caminho da vida plena. Penso no
início do Livro do Génesis: Deus plasma o homem com o pó da terra, insufla nas suas
narinas um sopro de vida e o homem torna-se um ser vivente (cf. 2, 7). Deus é a fonte
da vida; é devido ao seu sopro que o homem tem vida, e é o seu sopro que sustenta
o caminho da nossa existência terrena.
O Santo Padre recordou ainda o dom
dos Dez Mandamentos: uma estrada que Deus nos indica para uma vida verdadeiramente
livre, para uma vida plena; não são um hino ao «não», mas ao «sim» dito a Deus, ao
Amor, à vida. Queridos amigos – disse - , a nossa vida só é plena em Deus, Ele é o
Vivente!
Depois o Papa Francisco fala do segundo ponto, Jesus:
“Jesus
é a encarnação do Deus Vivo, Aquele que traz a vida fazendo frente às obra de morte,
ao pecado, ao egoísmo, ao fechamento em si mesmo. Jesus acolhe, ama, levanta, encoraja,
perdoa e dá novamente a força de caminhar, devolve a vida. Ao longo do Evangelho,
vemos como Jesus, por gestos e palavras, traz a vida de Deus que transforma”.
O
Papa recorda a experiência da mulher que unge com perfume os pés do Senhor: sente-se
compreendida, amada, e responde com um gesto de amor, deixa-se tocar pela misericórdia
de Deus e obtém o perdão, começa uma vida nova. Experiência também vivida pelo Apóstolo
Paulo: «A vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou
e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20).
E que vida é esta?, pergunta-se
o Papa. É a própria vida de Deus. E quem nos introduz nesta vida? É o Espírito Santo,
dom de Cristo ressuscitado; é Ele que nos introduz na vida divina como verdadeiros
filhos de Deus, como filhos no Filho Unigénito, Jesus Cristo.
E o Papa Francisco
pergunta: Estamos nós abertos ao Espírito Santo? Deixamo-nos guiar por Ele? O cristão
é um homem espiritual, mas isto não significa que seja uma pessoa que vive «nas nuvens»,
fora da realidade (como se fosse um fantasma), não! O cristão é uma pessoa que pensa
e age de acordo com Deus na vida quotidiana, uma pessoa que deixa que a sua vida seja
animada, nutrida pelo Espírito Santo, para ser plena, vida de verdadeiros filhos.
Falando do terceiro ponto o Papa reafirmou que Deus é o Vivente, Jesus traz-nos
a vida de Deus, o Espírito Santo introduz-nos e mantém-nos na relação vital de verdadeiros
filhos de Deus. Muitas vezes, porém, o homem não escolhe a vida, não acolhe o «Evangelho
da vida», mas deixa-se guiar por ideologias e lógicas que põem obstáculos à vida,
que não a respeitam, porque são ditadas pelo egoísmo, o interesse pessoal, o lucro,
o poder, o prazer, e não pelo amor, a busca do bem do outro.
“É a persistente
ilusão de querer construir a cidade do homem sem Deus, sem a vida e o amor de Deus:
uma nova Torre de Babel; é pensar que a rejeição de Deus, da mensagem de Cristo, do
Evangelho da vida leve à liberdade, à plena realização do homem. Resultado: o Deus
Vivo acaba substituído por ídolos humanos e passageiros, que oferecem o arrebatamento
de um momento de liberdade, mas no fim são portadores de novas escravidões e de morte”.
E
o Santo Padre concluiu: “Amados irmãos e irmãs, consideremos Deus como o Deus da vida,
consideremos a sua lei, a mensagem do Evangelho como um caminho de liberdade e vida.
O Deus Vivo faz-nos livres! Digamos sim ao amor e não ao egoísmo, digamos sim à vida
e não à morte, digamos sim à liberdade e não à escravidão dos numerosos ídolos do
nosso tempo; numa palavra, digamos sim a Deus, que é amor, vida e liberdade, e jamais
desilude (cf. 1 Jo 4, 8; Jo 8, 32; 11, 25).
“Só nos salva a fé no Deus
Vivo; no Deus que, em Jesus Cristo, nos concedeu a sua vida e, com o dom do Espírito
Santo, nos faz viver como verdadeiros filhos de Deus. Esta fé torna-nos livres e felizes.
Peçamos a Maria, Mãe da Vida, que nos ajude a acolher e testemunhar sempre o «Evangelho
da Vida»”.
Na conclusão da Santa Missa o Presidente do Pontifício Conselho
para a Promoção da Nova Evangelização, Arcebispo Rino Fisichella, agradeceu ao Santo
Padre por esse intenso momento de oração que como todos os domingos se eleva da Igreja
para dar glória à Trindade no dia da Ressurreição do Senhor Jesus. Depois de citar
a presença de peregrinos de todas as partes do mundo afirmou que no Ano da Fé era
importante que um momento de reflexão e de oração fosse dedicado àqueles que são testemunhas
do ’Evangelium vitae. A sua paixão cotidiana mostra com evidência o compromisso pela
plena promoção da vida humana e pela sua defesa.
“Santo Padre – disse ainda
Dom Fisichella -, no Ano da Fé, este dia dedicado ao Evangelho da vida é um renovado
apelo para que todos respeitem, defendam, amem e sirvam a vida humana. Não é uma prerrogativa
de nós cristãos. É um caminho comum feito junto com tantos homens e mulheres que mesmo
não tendo a nossa fé, compartilham o nosso anúncio e o nosso compromisso”. (SP)