Há três meses era eleito Papa Francisco. "Estamos mergulhados nos seus gestos e palavras",
diz jornalista argentina
Cidade do Vaticano (RV) – Em 13 de março passado era eleito o Cardeal Jorge
Mario Bergoglio como sucessor de Bento XVI. Foram três meses vividos com grande intensidade
pelo novo Pontífice na dimensão ‘bispo-povo/povo-bispo’, expressão proferida no balcão
central da Basílica São Pedro naquela memorável noite de março. Para analisar estes
primeiros três meses de pontificado, a Rádio Vaticano entrevistou a jornalista Stefania
Falasca, ligada a Jorge Bergoglio com uma amizade de longa data:
Stefania
Falasca: “A primeira impressão que eu tenho, nestes três meses, é que ......
é como se tivéssemos caminhado, como se tivéssemos entrado num caminho do qual não
se pode voltar atrás. Até mesmo o Papa Francisco disse que “voltar” é uma tentação.
Assim, nestes três meses, se devo dizer alguma coisa é isto: nos seus gestos e nas
suas palavras repetidas, antes de tudo, teve fé no nome por ele assumido, que é tão
simbólico para a história da Igreja, e que está ligado precisamente à reforma de vida
e a um cristianismo vivido e testemunhado com profunda autenticidade. A isto acrescento
aquilo que me toca profundamente: ele age com segurança e tranquilidade. Com coragem,
sabe lidar com temas muito espinhosos, como fez com os fortes pronunciamentos sobre
as riquezas, tanto na Igreja mas como no geral, no que tange aos problemas do mundo.
Também está dando um bom exemplo de verdadeira prudência cristã, que é a virtude de
quem governa. Porque digo isto? Porque ao contrário do que alguns acreditam, a prudência
leva à ação, a prudência é uma virtude dinâmica, dizia São Tomás...”
RV:
Já está delineado de forma clara qual é a idéia de Igreja que tem Papa Francisco?
Stefania
Falasca: “Papa Bergoglio deu uma imagem daquilo que é a Igreja: daquilo que
é a Igreja e daquilo que ela não é. Não é Igreja, aquela impregnada do espírito mundano
e que por isto vive em si mesma, de e para si mesma, que acredita ter luz própria
e assim, é auto-referencial. É Igreja, ao invés disto, aquela que brilha não com luz
própria, mas aquela de Cristo, e usou uma imagem belíssima recorrendo à comparação
que faziam os Padres da Igreja com a lua: a lua não brilha com luz própria, mas reflete
a luz do sol. Esta é a Igreja. E esta percepção de Igreja é aquela que se manifesta
com o Concílio Vaticano II. Eu acredito que neste horizonte estejam as possíveis mudanças
e as reformas que servem para a salvação das almas. Dentro desta perspectiva de Igreja
já estamos mergulhados no agir, nas palavras e nos gestos do Papa Francisco”.
RV:
O testemunho de vida de Papa Francisco está produzindo muitos frutos. Quais poderiam
ser os mais duradouros?
Stefania Falasca: “São precisamente aqueles
ligados àquilo que serve para a salvação das almas. Papa Bergoglio está nos conduzindo
e acompanhando, dia a dia, dentro deste horizonte, dentro de uma experiência vivida
do Evangelho, no dia-a-dia, quotidiana, que seja de companhia na vida dos homens.
E eu acredito que esta seja a perspectiva que será mais duradoura. Dizia Congar: aquilo
que permanece, mesmo das reformas realizadas na Igreja, é sempre aquilo que é realizado
em função das necessidades concretas das almas”. (JE)