2013-06-11 15:04:41

João XXIII, modelo para a actividade "diplomática" da Santa Sé - a rubrica "Sal da Terra, Luz do Mundo"


RealAudioMP3 Evocámos aqui, na semana passada, nesta rubrica “Sal da Terra / Luz do Mundo”, dedicada a “factos e personagens da história da Igreja”, a figura de João XXIII, a 50 anos da sua morte. E fizemo-lo através das palavras do Papa Francisco, dirigindo-se aos peregrinos de Bérgamo vindos a Roma naquela ocasião.
Voltamos hoje ao mesmo tema, recordando o encontro que o actual Papa teve, quinta-feira passada, no Vaticano, com a comunidade da “Academia Eclesiástica Pontifícia” – a instituição onde se prepara o pessoal “diplomático” da Santa Sé, ou seja, os futuros Núncios Apostólicos e outros colaboradores das representações pontifícias através do mundo. Como é sabido, boa parte do actividade apostólica do futuro Papa Roncali decorreu no âmbito do serviço diplomático, nove anos como Delegado Apostólico na Bulgária (1925-1934), outros tantos como Delegado na Turquia (1935-44) e finalmente oito anos (1945-53) Núncio Apostólico na França do após guerra.
Falando na semana passada aos padres destinados a este tipo de actividade pontifícia, Papa Francisco pensava porventura no exemplo de Angelo Giuseppe Roncali quando sublinhou que se trata de um verdadeiro “ministério” sacerdotal, que requer “grande liberdade interior”. O que significa – explicou – estarem “livres de projectos pessoais”, renunciando a programar o futuro, desapegados da mentalidade do lugar de onde provêm, para “se abrirem, na caridade, à compreensão de culturas diferentes, indo ao encontro de pessoas que pertencem a mundos muito distantes” do próprio. Para manter esta “liberdade interior”, este desapego, há que pôr de lado ambições pessoais e fugir do carreirismo:
“Há que velar para permanecer livres de ambições ou perspectivas pessoais que tanto mal podem causar à Igreja, tendo o cuidado de colocar no primeiro lugar não a vossa realização, ou o reconhecimento que poderíeis receber dentro e fora da comunidade eclesial, mas sim o bem superior da causa do Evangelho e o cumprimento da missão que vos será confiada”.
Advertência que sugeriu ao Papa um parêntesis para sublinhar a importância deste aspecto:
“Isto de estar livre de ambições ou perspectivas pessoais, para mim é importante. O carreirismo é uma lepra, uma lepra. Por favor, nada de carreirismo!”
Fonte, manancial da liberdade interior é a vida espiritual e a oração, como mostra Mons. Roncali na sua actividade de Representante pontifício. Impressiona ler os seus escritos pessoais, que mostram como se sentia chamado a “reduzir tudo… ao máximo de simplicidade e de calma; dando atenção a podar sempre na minha vida tudo o que é parra inútil… e visar directamente aquilo que é verdade, justiça, caridade, sobretudo caridade”. Escrevia ainda, nas notas do retiro anual, em 1948, em Paris:
“Qualquer outro modo de proceder seria busca de afirmação pessoal, que bem depressa se revela e se torna incómodo e ridículo”.
Ele queria podar a sua vinha, limpar e deitar fora as folhas secas, podar.”
Anos depois, quando era patriarca de Veneza, “em pleno ministério directo das almas”.
“Na verdade sempre considerei que para um eclesiástico a chamada diplomacia deve ser sempre permeada de espírito pastoral; caso contrário, não vale nada, e acaba por tornar ridícula uma missão santa”.

Também aqui Papa Francisco abriu um parêntesis para comentar a afirmação de Roncali:
“Isto é importante. Prestai atenção: quando na Nunciatura há um Secretário, ou um Núncio, que não segue o caminho da santidade e se deixa envolver nas muitas modalidades de mundanidade espiritual, torna-se ridículo, e toda a gente ri dele.
Por favor, não vos torneis ridículos: ou santos ou se não, voltai às vossas dioceses a paroquiar; mas não sejais ridículos na vida diplomática, onde para um padre há tanto perigo de se tornar mundano”.

Outro intenso momento da actividade do Papa Francisco na semana passada foi o encontro com as escolas dos jesuítas em Itália e na Albânia: milhares de jovens e crianças, juntamente com pais, antigos alunos, professores e outros colaboradores escolares. Pondo de lado as cinco páginas do discurso preparado, Francisco limitou-se a resumir o essencial do que estava para dizer, colocando-se à disposição dos presentes para responder a perguntas que quisessem fazer.
Um adolescente, por exemplo, expôs as suas dificuldades e dúvidas, em parte fruto da idade, pedindo uma palavra de apoio e encorajamento para si e para os companheiros. Papa Francisco convidou a caminhar, sem se atrapalhar com as quedas que possam acontecer: levantando-se de cada vez para seguir em frente, mas não só, com os outros.
“Caminhar é uma arte. Se caminharmos sempre com pressa, cansamo-nos e não conseguimos chegar ao fim. Mas se paramos a meio, também não chegamos a lado nenhum. Caminhar é a arte de olhar ao longe, para o horizonte, pensar aonde é que se quer chegar, e aguentar a fatiga do percurso. E tantas vezes o caminho é difícil… Há momentos de cansaço, falhas, quedas.”
Não há que desanimar por causa das quedas, o importante é levantar-se, de cada vez, e continuar em frente:
“Pensai sempre nisto: não ter medo dos desaires, não ter medo das quedas. Na arte de caminhar, o importante não é não cair, mas sim não ficar caído. Levantar-se logo, e continuar a andar. Isto é belo: trabalhar todos os dias, caminhar humanamente”
Em todo o caso, concluiu Papa Francisco nesta sua resposta, não caminhar sozinhos – seria triste, aborrecido. Caminhar, isso sim, em comunidade, com os amigos. E sem medo do caminho…









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