Rio de Janeiro (RV) - Um dos sinais muito bonitos que a JMJ traz é o acolhimento.
Tenho falado a todos que nós estaremos acolhendo irmãos e irmãs nossos para viverem
uma vida de família durante uma semana aqui no Rio de Janeiro. Tenho também falado
aos que estão chegando que podem vir para viver conosco, que aqui encontrarão irmãos
e irmãs que querem conviver na mesma fé e com uma hospitalidade própria do povo brasileiro.
Ter
a honra de hospedar a Cristo através do irmão que chega é um grande privilégio. Também
será uma bela experiência para nós na abertura para o outro. Será um importante sinal
para o mundo: em tempos de xenofobia, fechamentos, desconfianças, medo do outro –
um belo sinal de acolhimento ajudará esse mundo a pensar diferente. Para isso, estes
aspectos precisam ser bem difundidos.
A alegria de acolhermos irmãos e irmãs
cristãs de outras denominações, membros de outras religiões e proporcionarmos também
um encontro entre as religiões monoteístas – judeus, muçulmanos e cristãos – deve
contagiar a todos que desses eventos tomarem conhecimento. Temos certeza de que esses
sinais não ficarão sem resposta. Porém, é claro, sabemos que isso vai depender muito
do coração de cada um que toma conhecimento do assunto, e de que como abre seu coração.
Nesse sentido, pedimos a Deus para que esses sinais sejam aceitos pelos corações das
pessoas e esse mundo lucre com o evento da JMJ. Para isso, pedimos orações de todos.
A
hospitalidade é um gesto de caridade cristã (Rm 12, 13; 1 Tm 3, 2; Tt 1, 8; 1 Pd 4,
9; 3 Jo 5-8). O Ministério da Acolhida encontra seu fundamento em Mt 25, 35ss e Rm
12, 13, quando se convida a hospedar nossos irmãos e irmãs em nossas próprias vidas.
São
muito ilustrativos certos encontros de comunidades, onde os pobres hospedam os participantes
vindos de lugares distantes. As pessoas são hospedadas em casas de famílias das comunidades,
mas estamos vendo que por todos os lados dessa grande cidade as casas foram abertas
para acolher o “outro” irmão que vem de longe. As escolas, salões, quadras também
serão espaços de acolhida e as paróquias darão o testemunho de ser a família grande
que acolhe os irmãos na fé.
São Francisco de Assis recomenda com muita insistência
a hospitalidade, afirmando que ela é uma “graça do Senhor”. Também os que estiverem
passando pelas ruas ou utilizando algum meio de transporte público poderão exercer
o acolhimento com um belo cumprimento e com orientação para as pessoas que estarão
com a camiseta da JMJ e levando suas mochilas às costas. Eles ficarão marcados também
pelo gesto carioca-fluminense-brasileiro!
O salmo 23 (22) tem essa característica
e exprime a experiência pessoal de segurança e acolhimento na relação com Deus. A
imagem do Pastor solícito pelo sustento e pela proteção do rebanho e a do anfitrião
generoso no acolhimento do hóspede encontram sua explicação no relacionamento de Deus
com os seres humanos, e tem sua realização na liturgia, que celebra a solicitude do
Bom Pastor para com os fiéis e a participação do Banquete Sagrado.
Não há como
querer ser cristão de braços cruzados e inativos. Há necessidade de se agir de forma
a não desprezar ninguém. Exemplo dessa atitude é o encontro de Jesus com Zaqueu (Lc
19, 1-10). A acolhida que Zaqueu proporciona a Jesus não é apenas formal: envolve
toda a sua pessoa. Converter-se não significa só chegar a uma confissão oral dos primeiros
erros, mas requer uma retratação efetiva dos mesmos. Zaqueu faz a sua confissão a
Jesus, que agora se torna o seu “Senhor” no lugar de todos os “senhores” aos quais
tinha servido.
Acolher, encontrar o outro fará também de nós uma comunidade
ainda mais acolhedora daqueles que estão ao nosso redor ou que nos procuram em nossas
comunidades paroquiais. Sem dúvida que esse momento que ora vivemos nos enriquecerá
e fará uma diferença muito grande em nossas casas e igrejas. Marcará nossas vidas
para sempre. Importante é passar aos outras essas nossas experiências. Eis que uma
bela e importante missão de acolher se transforma também em evangelização para aqueles
que acolhem. Que esses trabalhos de organização que os jovens protagonizam continuem
dando seus frutos sempre em nossa arquidiocese.
Ao acolher em nossa casa, somos
convidados a acolher também nas ruas, ônibus, trens, metrôs, barcas. Pode ser um novo
estilo de viver se soubermos aproveitar desse momento. Que o Senhor nos inspire tantas
e belas ações e gestos de acolhida!
Eis que chegam os dias em que poderemos
exercer bem essa missão e esses gestos: faltam pouco mais de 40 dias para JMJ!
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ