Juiz de Fora (RV) - "Creio em Deus Pai todo poderoso...” A fé é o elemento
comum que une a comunidade celebrante. Ela desconhece fronteiras e faz de muitos povos
e raças um só povo sacerdotal. Na fé comum, celebramos a morte e ressurreição do Senhor
Jesus, Evangelho único pelo qual Paulo empenhou todas as suas energias. Como o
oficial romano, proclamamos que não somos dignos de receber o Senhor em nossa casa,
mas, ao mesmo tempo, confiamos no poder de sua palavra salvadora. A cura do empregado
do oficial romano se reveste de sentido especial, por tratar-se de um não judeu e
por ter sido realizada à distância, elementos que qualificam a fé e fazem Jesus dizer:
“Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Essa declaração
vem acompanhada de um detalhe. Antes de falar, Jesus se volta para a multidão. Quando
o Mestre se volta para falar, é porque a declaração é solene e revestida de grande
importância.
O texto que narra o milagre termina constatando a cura: “Os mensageiros
voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saude. Nada
mais se fala desse oficial ou de seu empregado. Jesus não pediu nem recomendou coisa
alguma.
Ligado à primeira leitura do nono domingo do Tempo comum, esse episódio
transfere a Jesus aquilo que se pedia a Javé. E Jesus atende ao pedido do estrangeiro
porque a fé não conhece fronteiras.
A narração aponta indícios da predisposição
daquele homem para dar o passo da fé. Embora fosse de patente superior, estimava muito
o servo por cuja saude se interessou, pois estava à beira da morte. Demonstrou boa
vontade em relação aos judeus, mesmo representando o poder opressor, tendo, inclusive,
construído uma sinagoga para eles. Uma alma tão compassiva estava em sintonia com
Jesus.
Diante deste testemunho, os discípulos de Jesus deveriam deixar de lado
o preconceito contra os romanos imperialistas e perceber que, dentre eles, muitos
estavam em condições de abraçar o Reino.
Jesus Cristo e o Pai que Ele veio
revelar são os mesmos em qualquer parte do mundo. Pode acontecer que, como aconteceu
com Jesus, encontremos mais fé fora que dentro de ambientes religiosos. Isso nos deve
manter em atitude humilde e respeitosa. O respeito é devido também a quem não crê
ou professa fé diferente;/da nossa. Temos em comum a mesma fé no Senhor morto e ressuscitado
por nós, mas cada povo deve poder expressar a própria fé a partir de sua cultura e
realidade.
É bom notar neste Evangelho o louvor que Jesus, de boa mente, fazia
sempre que tinha ocasião àqueles que N'Ele acreditavam. O Centurião percebeu muito
bem que o segredo da fé, que é exatamente entregar-se, confiar planamente em Jesus,
e deixar que sua palavra conduza para além de tudo aquilo que, põe nós mesmos/ não
somos capazes de compreender ou fazer. Dom Eurico dos Santos Veloso Arcebispo
Emérito de Juiz de Fora - MG