Padre Pino Puglisi, mártir da Máfia, beatificado em Palermo
“Mártir, autêntico
pastor segundo o coração de Jesus, semeador evangélico de perdão e reconciliação”:
referimo-nos ao padre Giuseppe Puglisi, italiano, pároco num bairro popular de Palermo,
na Sicília, assassinado pela Máfia há 20 anos e beatificado domingo passado naquela
mesma cidade siciliana. Umas 100 mil pessoas participaram no rito da beatificação,
presidido – como enviado do Papa - pelo arcebispo emérito de Palermo, cardeal De Giorgi,
que em 1999 deu início ao processo de beatificação. Um vibrante aplauso da parte
dos presentes, de pé, acolheu a imagem sorridente do Padre Puglisi quando, concluído
o rito da beatificação, na parte inicial da missa, foi descoberta uma sua grande foto.
A missa foi celebrada pelo actual arcebispo de Palermo, cardeal Paolo Romeo, que fez
a homilia. Comentando o Evangelho segundo São João, em que Jesus fala da semente
que dá tanto fruto quando é enterrada na terra. Uma imagem que sintetiza bem toda
a existência do beato Puglisi. Nos 33 anos da sua vida sacerdotal, ele foi o grão
de trigo que aceitou morrer um pouco em cada dia dando-se a tempo inteiro, por Cristo,
sem reservas. Uma mensagem destinada hoje em dia especialmente aos jovens, que se
esforçam por construir o futuro, às famílias em dificuldade, aos doentes, a quem se
encontra em fase de discernimento vocacional. Porque – sublinhou o cardeal Romeo –
a vida tem valor só se estamos dispostos a partilhá-la com os outros.
Padre
Puglisi (prosseguiu) foi “servo, pastor e pai, sobretudo para com os seus predilectos”:
as crianças, os últimos, os pobres. “Pessoas muitas vezes longe das devoções e das
sacristias”, para as quais ele foi “um pai discreto no acompanhamento e na escuta
generosa”. Como pároco, padre Puglisi via-se rodeado de crianças e jovens quotidianamente
expostos a uma falsa “paternidade”, mesquinha, a da Máfia do bairro, que roubava dignidade
e dava morte em troca de protecção e apoio”. Foi por isso que “a sua acção visava
tornou presente um outro pai, “o Pai nosso”. Esse o sentido do nome dado ao “Centro
Pai nosso”, casa de acolhimento e estrutura de pastoral paroquial, “para viver
a missão ao serviço da pessoa na sua totalidade”. E desse modo o pároco mártir subtraía
à Máfia daquele bairro consenso, predomínio, controlo do território”. De facto
– prosseguiu corajosamente o cardeal Romeo – “os mafiosos, que muitas vezes se dizem
e se mostram como crentes, accionam mecanismos de prepotência, de injustiça, de rancor,
de ódio, de violência e de morte”. O purpurado recordou, a propósito, outras vítimas
da Máfia siciliana, como os juízes Rosario Livatino, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino:
“A acção assassina dos mafiosos revela a sua verdadeira essência: recusam o deu da
vida e do amor”. Palavras sublinhadas por um longo aplauso dos fiéis. O cardeal recordou
também o grito de João Paulo II no Vale dos Templos (em Agrigento, na Sicília), a
9 de maio de 1993: “Convertei-vos, um dia virá o juízo de Deus”. O martírio de
padre Puglisi – sublinhou ainda o arcebispo de Palermo – “não só interpela quem se
dá ares de religiosidade exterior, condescendendo com o mal, mas impulsiona-nos a
todos a enfrentar todas as formas de mal no mundo professando uma fé firmemente fundamentada
sobre a Palavra e realizada na caridade. A nossa fé só vencerá se for testemunhada,
sintetizando ao mesmo tempo evangelização e promoção humana – concluiu o cardeal Romeo,
citando o novo Beato.
Domingo, ao meio-dia, depois da recitação do Angelus,
o Papa Francisco recordou a beatificação, na véspera, de Padre Puglisi… “Padre
Puglisi foi um sacerdote exemplar, dedicado especialmente à pastoral juvenil. Educando
os jovens segundo o Evangelho, subtraía-os à vida mafiosa, e foi por isso que trataram
de o eliminar, assassinando-o. Na realidade, porém, foi ele que venceu, com Cristo
Ressuscitado.” O Santo Padre evocou “os muitos sofrimentos de homens e mulheres,
e mesmo de crianças, que são explorados pelas tantas máfias, que os exploram fazendo-os
realizar um trabalho que os tornar escravos – com a prostituição, com tantas pressões
sociais. “Por detrás destas explorações, destas escravaturas, estão as máfias.
Rezemos ao Senhor para que converta o coração destas pessoas. Não podem fazer isto!
Não podem fazer de nós – irmãos – escravos! Temos que rezar ao Senhor! Rezemos para
que estes mafiosos e estas mafiosas se convertam a Deus. E louvemos o senhor pelo
luminoso testemunho de padre Giuseppe Puglisi e façamos tesouro do seu exemplo!”