A celebração dos 50 anos da União Africana presta-se bem para um balanço, pois que
50 anos é a idade da razão que permite confrontar o presente com as ambições enunciadas
no passado e, portanto, ver o que futuro deverá ser. Há 50 anos, uns quinze chefes
de Estado reunidos em Adis-Abeba lançavam as bases duma organização continental destinada
a favorecer as independências, garantir a soberania, promover o desenvolvimento e
assegurar a integração dos Estados neo-independentes.
A União Africana de
hoje, herdeira da OUA (Organização para a Unidade Africana), não renega nenhuma das
ambições iniciais. Os seus dirigentes continuam a proclamar a vontade de levar o continente
a desabrochar. Mas o balanço que poderia tirar, quer se olhe para ela numa óptica
positiva ou negativa, convida forçosamente à prudência. Conduzir o destino dum bilião
de pessoas não é tarefa fácil. A irrupção na vida dos homens e mulheres contemporâneos
de regras que não são bipolares, mas sim globais, uma afirmação de tecnologias de
comunicação que já não deixam ninguém numa situação de actor passivo, criaram uma
nova realidade.
Da quinzena de países presentes em Adis-Abeba no dia 25 de
Maio de 1963, hoje são 54 os Estados soberanos, membro da UA que comemoração os 50
anos da União a 25 de Maio de 2013. Além disso, segundo estimativas de instituições
internacionais, a taxa de crescimento económico da África será este ano superior a
5%. De entre os grandes focos de tensão ainda em curso na Somália, Mali, República
Democrática do Congo, são principalmente os países africanos que estão empenhados
na sua resolução com o apoio da comunidade internacional. E se por um lado continuam
a verificar-se alguns golpes de Estado, por outro a consciência de que já não podem
ser consideradas uma forma normal de aceder ao poder está a ganhar terreno e isto
está mesmo inscrito na Carta da União Africana. A voz da África passou a contar no
cenário internacional.
Há, no entanto, todo o resto, pois que não obstante
esses aspectos positivos, a África é ainda o continente mais afectado pela fome, o
continente onde a pobreza recua com menos velocidade; onde o crescimento económico
se traduz não é tão visível no melhoramento das condições de vida quotidiana das pessoas;
onde os valores negativos não são firmemente rejeitados pela sociedade civil, ainda
muito frágil; onde as crianças com menos de cinco anos continuam a morrer de doenças
perfeitamente curáveis; onde as exportações continuam assentes em recursos extractivos
e não sobre a produção industrial propriamente dita e onde uma certa dependência perante
os colonizadores de ontem continua a ser uma realidade posta em causa só formalmente.
Este quadro, parcial, deixa entrever os grandes desafios a ser enfrentados
por esta África perfeitamente integrada na universalidade actual.
Nestes 50
anos, a Igreja caminhou com esta África em crescimento, manteve-se ao lado do povo
em desenvolvimento, indicou a via do bem comum. Não foi sempre ouvida. Antes pelo
contrário, a sua atitude foi combatida, por vezes mesmo duramente, ao ponto de o seu
empenho no anúncio da Boa Nova ter sido permeado de mártires, de privações e de dolorosas
intolerâncias. Mas permaneceu firme no seu empenho e continua a ser uma realidade
sobretudo nos dias de hoje em que a luta é antes de mais uma luta contra a pobreza.
Trata-se duma missão profética. “A Igreja católica em África deve iluminar
ainda mais as realidades complexas do continente à luz de Cristo, tornando-se cada
vez mais sal da terra africana, inserindo o sabor do divino nas realidades de todos
os dias” - dizia D. Nicolas Eterovic no seu relatório introdutivo ao II Sínodo dos
Bispos para a África, a 5 de Outubro de 2009. Um redobrado trabalho de vigia e de
acompanhamento há-de continuar, portanto, sem compromissos nem mitigações nos domínios
das competências reconhecidas às instituições públicas…
“A Igreja, Senhoras
e Senhores, encontrá-la-eis sempre – por vontade do seu Fundador divino – ao lado
dos mais pobres deste continente. Posso assegurar-vos que ela – através de iniciativas
diocesanas, de inumeráveis obras educativas, sanitárias e sociais das diversas ordens
religiosas, e de programas para o desenvolvimento dirigidos pela Caritas e outras
organizações – continuará a fazer todo o possível para apoiar as famílias, nomeadamente
as afectadas pelos trágicos efeitos da SIDA, e promover a igual dignidade de homens
e mulheres na base de uma harmoniosa complementaridade. O caminho espiritual do cristão
é o da conversão diária; a isto mesmo a Igreja convida todos os líderes da humanidade
para que esta possa enveredar pelos caminhos da verdade, da integridade, do respeito
e da solidariedade” - Palavras do Papa Bento XVI às autoridades políticas e civis
angolanas por ocasião da sua viagem ao país em Março de 2009. Albert Mianzoukouta
– Programa Francês/África