Secretário de João XXIII faz analogia entre Roncalli e Papa Francisco
Cidade do Vaticano (RV) - O ex-Secretário do Papa João XXIII, Arcebispo Loris
Capovilla, em entrevista ao 'Vatican Insider', fez uma analogia dos pensamentos e
ações entre o Papa Roncalli e o Papa Francisco.
Perguntado se ficou surpreendido
pela insistência de Bergoglio em definir-se como 'Bispo de Roma', afirmou que João
XXIII fazia o mesmo. “Desde o instante em que foi eleito – observou - esclareceu ao
Cardeal Decano que não ficaria prisioneiro no Vaticano e que entre os fiéis agiria
com a missão de Bispo de Roma. Depois de 70 anos de dificuldades sucessivas à unidade
da Itália, Roncalli retomou a atividade pastoral na cidade de Roma, levou a Basílica
de São João os escritórios do Vicariato e no Palácio Latrão (sede de seis concílios
ecumênicos) fez organizarem dois quartos para que 'o Papa possa repousar na sua casa'”.
Explicando
o porquê de ambos terem escolhido visitar Assis, Capovilla disse que Assis “é a cidade
do Santo e a morada do Papa. Para sair de Roma João XXIII escolheu Assis e atravessou
de trem os antigos domínios pontifícios: não como príncipe deposto, mas como pai.
Havíamos previsto diminuir a velocidade nas estações, mas na 'vermelha' Terni das
siderúrgicas, apesar de as escolas e fábricas terem permanecido abertas, os estudantes
e os operários estavam todos aguardando João e aproximavam-se do trem para saudá-lo
com um calor indescritível. Todo o percurso de Roma até Ancona – continuou o Secretário
de João XXIII -, foi um rio ininterrupto de gente. Ao longo das estradas, nos trens,
em cima das árvores. A um certo ponto da viagem, comovido e feliz, o Papa me disse:
“Veja Loris, esta é a Itália, estes são os italianos que saúdam o velho pai que não
tem outra coisa a lhes oferecer que não a sua bênção”.
Perguntado se via Papa
Francisco nos mesmos passos de Roncalli, afirmou que os dois tem “o mesmo ímpeto”
em relação às pessoas. Ele recordou que no último mês de vida de João XXIII as periferias
de Roma estavam repletas de fiéis. “Alí inventaram para ele o título de 'Papa Bom',
que fez torcer o nariz aos céticos que perguntavam: “E por que. Os outros Papas eram
ruins?”. “O povo o via como um filho saído do trono de Pedro. Francisco foi acolhido
universalmente como uma mensagem viva de diálogo e de fraternidade. Ele une a sede
de partilha, a busca de uma solução para o homem”.
Capovilla conta que Roncalli,
antes de morrer repetia: “Eu não mudei nada, recito agora as mesmas orações e o mesmo
credo de quando era criança, mas agora começo a entender melhor o Evangelho”. “Francisco
como João XXIII, onde quer que colocassem os pés, colocam também o coração. E as pessoas
os entendem”.
O ex-secretário de João XXIII, disse que o exemplo que Bergoglio
está dando no contato com o próximo é o que mais o faz recordar de João XXIII: “Quando
olha alguém não lhe pergunta se é cristão, Chefe de Estado ou pessoa humilde. Para
ele, cada um traz na testa o selo de Deus, por isto é amado. E, se depois, a pessoa
acolhe Jesus, tanto melhor. Francisco – afirma – leva o Evangelho, não julga. Ver
irmãos em luta não tem a ver com uma civilização cristã. É um sinal que está passando
também para a sociedade. Na Igreja e na política existe a necessidade de um espírito
de reconciliação e de colaboração que evidencie aquilo que une, antes que aquilo que
divide. É esta a grande lição de João e Francisco”. (JE)