2013-05-17 16:25:15

Prof. Felice: Papa nos exorta a relativizar o dinheiro em favor do ser humano


Cidade do Vaticano (RV) - “O dinheiro deve servir, não governar”: é uma das passagens fortes do discurso que o Papa dirigiu nesta quinta-feira a um grupo dos novos embaixadores. Um pronunciamento que, junto àquele proferido à Caritas Internationalis, ofereceu numerosos pontos de reflexão sobre o Magistério social da Igreja. Papa Francisco também evidenciou que a ética incomoda, porque relativiza o dinheiro. Esta última reflexão motivou algumas considerações do economista da Universidade Lateranense, Flavio Felice:

Flavio Felice: “Me parece que seja o tema fundamental, especialmente numa perspectiva antropológica cristã. Neste caso é o dinheiro que relativiza o homem. Como conseqüência, o cristianismo, que coloca no centro o homem, relativiza tudo aquilo que pode ameaçar a dignidade da pessoa humana. Este é um tema fundamental. Se se pensa quanto o cristianismo contribuiu na história para relativizar os ‘absolutos terrestres’, o faraó: o cristianismo “suprime o espírito faraônico”, dizia o historiador Guglielmo Ferrero. O cristianismo deu esta grande contribuição à história das idéias e das instituições e Bergoglio, ao afirmar que a ética evoca e relativiza o dinheiro, coloca-se exatamente nesta linha e nos diz que no centro está a pessoa”.

RV: Papa Francisco em outra passagem, quase que com a força de um Padre da Igreja, disse também: ‘não dividir os bens com os pobres é como que espoliá-los”...

Flavio Felice: “Esta provavelmente é uma das passagens mais fortes, não somente dos dois discursos de ontem, mas do seu Pontificado, não obstante ainda que breve. Afirmar que não dividir significa espoliar, significa que a natureza nos oferece bens que devemos necessariamente partilhar para sermos plenamente humanos. Pode não ser partilhado por quem, obviamente, se reconhece em outra antropologia, mas se somos filhos de Deus, somos irmãos entre nós, bem, entre irmãos se divide! A partilha é então uma maneira para se ser autêntico, para melhorar a própria condição sobre a terra. É uma maneira, definitivamente, para se ser mais homem, mais humano”.


RV: Falando à Caritas internationalis o Papa afirmou: a crise não é somente econômica, prá dizer a verdade, é cultural, antropológica...

Flavio Felice:Nos diz Papa Francisco que na realidade são as escolhas dos homens que fazem as leis de mercado, que não são leis para toda a realidade do homem, mas são leis que tem a ver com uma particular dimensão. Fazer desta particular dimensão a dimensão da humanidade, do homem na sua totalidade, é um erro, mas é um erro sobretudo econômico, porque o mercado não tem necessidade de pessoas que, a qualquer custo e a qualquer preço, perseguem os próprios objetivos à custa dos outros. O mercado tem necessidade de pessoas honestas”.

RV: Se vê que este Papa ‘tocou com a mão’ o drama da pobreza, em particular no seu país, na Argentina, após a grave crise econômica de 2001...

Flavio Felice: “Sim, é uma crise que envolveu a Argentina, que lentamente está se recuperando. Assim, podemos dizer que é também um presente que nos faz Papa Francisco: aquele de oferecer-nos uma pastoral social a um nível máximo, que é a pastoral social do Papa, com a experiência de um homem que reconheceu o drama desta crise. Podemos dizer que nisto Papa Francisco está em continuidade com os outros Papas, mas ao mesmo tempo, nos “dá o seu toque pessoal”, graças à sua experiência”. (JE)








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