De Bento XVI a Francisco, a extraordinária sucessão entre os dois Papas
Cidade do Vaticano (RV) - Passaram-se dois meses da eleição do Papa Francisco,
dois meses fecundos e em muitos aspectos extraordinários para a vida da Igreja e não
somente. Justamente no marco desses dois meses de Pontificado foi publicado esta semana,
dia 13, o volume "De Bento a Francisco", escrito pelo diretor da prestigiosa revista
jesuíta "Civiltà Cattolica", Pe. Antonio Spadaro. O livro é uma leitura em primeira
pessoa da sucessão entre os dois Pontífices. Entrevistado pela Rádio Vaticano, a emissora
do Papa pediu a Pe. Spadaro que nos falasse sobre as motivações que o levaram a escrever
este livro-diário:
Pe. Antonio Spadaro:- "Escrevi este livro porque
eu tinha a necessidade de entender o que estava acontecendo, porque vivi estes eventos
ao vivo como diretor de Civiltà Cattolica. Acompanhei para a revista todos estes momentos:
da renúncia de Bento XVI ao Conclave, até a eleição do Papa Francisco. Assim sendo,
acabei anotando tudo, porém, queria também contar de modo 'subjetivo' o que estava
acontecendo, ou seja, buscando escrever como estava vivendo aqueles eventos de maneira
muito pessoal. Portanto, certamente é um diário, uma estrutura 'cálida' destes eventos."
RV:
O período da renúncia de Bento XVI até a eleição do Papa Francisco é "incrível" –
como ressalta no livro. É possível encontrar uma chave de leitura para decifrar, para
colher o significado desta extraordinária sucessão?
Pe. Antonio Spadaro:-
"Creio que sim. Creio que esteja contido nas palavras com as quais Bento XVI anunciava
a sua renúncia. Creio que a chave de leitura seja 'as rápidas transformações do mundo
contemporâneo' e o que Bento XVI chamava 'os desafios de maior peso para a fé' que
requerem vigor. O período de 11 de fevereiro a 13 de março – do qual escrevo em meu
livro – fala de uma Igreja viva que se reconhece 'sempre reformanda', ou seja, que
precisa sempre ser reformada. O Papa Francisco assumiu com vigor o bastão do Papa
Bento XVI, como estamos vendo, e justamente na perspectiva da reforma."
RV:
O livro é permeado de "otimismo realista", uma fórmula que é reiteradas vezes evocada.
Esse seria um elemento da passagem de bastão entre Bento XVI e Francisco, uma sucessão
que, ademais, se dá no Ano da Fé?
Pe. Antonio Spadaro:- "Sim, absolutamente,
e aí se reconhece um dos elementos do 'ser jesuíta' do Papa Francisco, que busco evidenciar
na segunda parte do livro. A espiritualidade dos jesuítas é de um 'realismo otimista',
porque se funda no buscar e encontrar Deus em todas as coisas, em todas as situações
– como dizia Santo Ignácio – e como o Papa Francisco disse mais vezes: "Deus já vive
no mundo e nos impele a sair em seu encontro para descobri-lo". Numa entrevista disse
que devemos "acompanhar Deus" em seu crescimento no mundo. Apesar de toda a dor e
os problemas do mundo, para o Papa Bergoglio o nosso mundo, a nossa realidade é o
lugar em que Deus atua. Portanto, não se pode ser pessimista!." (RL)