Bispo auxiliar de Buenos Aires: o estilo do Papa Francisco, uma Igreja no meio do
povo
Cidade do Vaticano (RV) - Pouco mais de dois meses atrás, 13 de maio, o então
arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, era eleito à Cátedra de
Pedro. O seu sorriso, a sua espontaneidade e o seu fazer-se próximo para testemunhar
Jesus Cristo tomaram corpo, de vários modos, nestes dois meses, nos seus gestos e
nas suas palavras, que muito impressionaram o mundo.
Uma das pessoas que bem
conhece o Papa Francisco, há 21 anos, é o bispo auxiliar de Buenos Aires, Dom Eduardo
Horacio García.
A Rádio Vaticano perguntou o que mais o impressionou nestes
anos sobre o Cardeal Bergoglio:
Dom Eduardo Horacio García:- "O que
talvez mais tenha me impressionado é a sua discrição diante de qualquer evento: buscar
não o lugar de mais destaque, mas o mais simples. Inclusive quando se tornou vigário-geral
da arquidiocese, o cargo mais importante após o do arcebispo, manteve essa conduta
de não sobressair-se. O que mais me impressiona é que se trata de uma pessoa com tamanha
discrição, mas com uma profundidade espiritual tão forte, tão grande."
RV:
"Ternura" e "misericórdia" são duas palavras importantes para o Papa Francisco. Usou
a palavra "misericórdia" no primeiro Angelus, e "ternura" na
missa de início solene de seu Pontificado. A seu ver, são dois traços fundamentais
do Papa Francisco?
Dom Eduardo Horacio García:- "Sim, creio que
definam também a sua relação com Deus. Ele experimenta a misericórdia de Deus, experimenta
a ternura de um Deus que se aproxima de nós com o calor de um pai e de uma mãe, porque
têm este olhar de ternura, o coração deles é tão simples e são capazes de exercer
essa misericórdia, que é perdão, companhia, ajuda. Creio que estas palavras definiram
uma grande quantidade de suas mensagens e também de suas ações. Durante o período
passado em Buenos Aires, como arcebispo, buscava sempre conciliar as situações, sem
jamais levá-las ao extremo, porque a sua experiência é que Deus nos acompanha, nos
segue, nos sustém, conhece os nossos tempos e espera sempre uma resposta, uma mudança,
uma atitude nova."
RV: A visão que tem de seu ministério, pode-se conceber
como um serviço ao povo de Deus?
Dom Eduardo Horacio García:- "Creio
que antes de concebê-lo como um serviço, ele veja o seu ministério como uma paternidade,
porque experimenta a paternidade de Deus como pai para com o povo de Deus. Portanto,
quando se ama com este coração de pai, pode servir de maneira simples. De fato, se
experimenta essa paternidade de Deus, experimenta também esta paternidade para com
o seu povo. O serviço nasce, justamente, da paternidade."
RV: Na primeira
audiência geral, o Papa Francisco exortou a Igreja a ir às periferias da existência
humana e a abrir as portas das paróquias. O que isso significa e, nesse sentido, o
que ele fez em Buenos Aires, por exemplo?
Dom Eduardo Horacio García:-
"Claramente, é um caminho que estamos percorrendo em Buenos Aires nos últimos dez
anos. Uma Igreja que sai é uma Igreja que está onde as pessoas estão. Uma das propostas
da pastoral da nossa Igreja se dá durante a Semana Santa quando as pessoas fazem da
cidade um santuário, onde se experimenta a presença de Deus. Saímos pelas ruas para
mostrar a fé com os nossos gestos, com uma atitude missionária. Para o Papa Francisco
a nova evangelização tem um nome: missão. Como na origem da Igreja, é preciso estar
onde as pessoas estão, partilhando a vida e ali manifestando o nosso sentir e o nosso
crer: uma Igreja com as portas abertas não somente para receber quem vem, mas para
ir ao encontro das pessoas; não para capturar as pessoas, mas para contagiá-las com
a experiência da fé."
RV: Portanto, o Papa Bergoglio deseja que a Igreja
em si e que os cristãos como tais vivam sempre uma dimensão missionária em dois sentidos:
caminhar juntos e anunciar Jesus Cristo, com uma atitude constante...
Dom
Eduardo Horacio García:- "Como uma coisa que vale sempre. É preciso pensar em
toda a nossa atividade de Igreja e também em nossa vida cristã nesta dimensão missionária,
e não somente numa dimensão íntima da fé. Portanto, pensar na vida habitual da nossa
paróquia, pensar na catequese, na liturgia, na ação social, nessa dimensão missionária,
que é fundamentalmente encontro com os outros. E o anúncio se dá neste encontro, porque
quando se encontra alguém, cada um traz aquilo que tem e aquilo que é. Quando saímos
para encontrar os outros, se cremos verdadeiramente, a fé se manifesta. O que vemos
do Papa Francisco é aquilo que ele é, ele mostra aquilo que sempre viveu como sacerdote,
como bispo entre nós, e é isso que torna seus gestos tão genuínos. Como Papa está
fazendo aquilo que sempre fez como sacerdote, como bispo, com esse dom que o Senhor
lhe deu neste momento: a graça de uma alegria que se nota, uma alegria muito evidente."
(RL)