2013-05-11 09:36:44

Editorial: A escuridão esconde a dor


Cidade do Vaticano (RV)RealAudioMP3 Todos os dias somos bombardeados com informações de todo tipo e interesse. Algumas nos chamam a atenção por sua espetacularidade, outras pelo sensacionalismo, outras ainda pela dramaticidade; temos também aquelas notícias que falam das amenidades da vida, dos luxos, riquezas, dos estilos de vida que “todos sonham”. Nesta última semana uma notícia divulgada pelas Nações Unidas, ganhou pequenos espaços nos jornais e em algumas televisões nem sequer teve o direito a 30 segundos de tempo. A notícia: “Um relatório divulgado pela ONU revela que cerca de 258 mil somalis, metade deles crianças, morreram de fome entre 2010 e 2012”. Somália foi a zona mais atingida pela seca extrema em 2011, que afetou mais de 13 milhões de pessoas no chamado “Chifre da África”.
Como uma notícia de tal porte possa ter passado despercebida pela consciência daqueles que podem com suas ações mudar a vida de milhões de pessoas? Certamente para entender o que está acontecendo nessa parte do mundo esquecida, devemos conhecer algo desta região. A raiz desse problema endêmico está certamente no conflito que atualmente assola a Somália e não só piora a crise alimentar, mas também impede ou torna difícil a ajuda humanitária.
Alguém se recorda que existe um conflito armado na Somália? O conflito na Somália começou em 1991, e tem causado a desestabilização de todo o país, com a fase atual do conflito vendo uma intensificação das ações do governo contra as forças rebeldes. Os distúrbios compreendiam inicialmente uma série de confrontos entre diversas facções tribais, mas desde meados da década de 2000, assumiu um tom islâmico militante. E quem paga a conta maior é a população inerme, que sofre diariamente, além do conflito, o drama da fome e da sobrevivência.
Já em julho de 2011 Papa Bento XVI alertou sobre a situação de fome no Chifre da África, afirmando que ninguém pode ficar “indiferente” perante a ameaça que paira sobre milhões de pessoas. Hoje estamos em maio de 2013, dois anos se passaram e a ameaça se tornou realidade, ninguém deu ouvidos ao chamado do Papa. O balanço de 258 mil mortos é o atestado da falência da sociedade atual, industrializada, rica, poderosa, mas ao mesmo tempo impotente, egoísta, e míope. Míope porque não consegue ver além da porta de sua casa, das necessidades do seu pequeno mundo, como se o resto fosse somente resto. Como viver indiferentes à tragédia da fome e não se deixar se comover pelo sofrimento daquele que não tem pão? O drama na Somália, no Chifre da África se verifica sem testemunhas, sem as câmaras de TV que muitas vezes, por alguns momentos, conseguem sacudir as consciências; é um sofrimento invisível, uma morte que ninguém chora, a não ser a mãe debruçada sobre o corpo esquelético e inerme de seu filho que muitas vezes não chegou a completar nem um ano de existência. Será que a dor de uma mãe como essa é diferente da dor das nossas mães? O único pecado dessa mãe foi ter nascido numa terra onde a morte por fome não é uma exceção, mas está na ordem do dia, da normalidade.
Certamente poderíamos ter feito mais para ajudar esse povo esquecido, deserdado da sua dignidade. É impensável que num mundo como o nosso, altamente tecnológico, não tenhamos ainda a receita e a força para acabar a miséria de milhões de pessoas. Os avisos que começaram já com a seca em 2010 nesta área não desencadearam uma ação prévia suficiente.
Hoje mais de um milhão de somalis vivem fora do país por causa dos conflitos, da miséria e da fome. Os conflitos internos prejudicam a distribuição de ajudas humanitárias e isolam grupos enormes de pessoas que vivem situações desesperadoras. A comunidade internacional tem o dever imperativo de ajudar este país, esse povo que com as poucas forças que tem ainda, levanta os braços pedindo, não esmola, mas oportunidade de viver, de reconstruir uma vida, um país que nos últimos 20 anos produziu luto, dor, miséria e desesperança. É a hora da esperança, é a hora de dar luz a um túnel onde a escuridão esconde a dor e o desespero de milhões de pessoas. (Silvonei José)







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