Sem Cristo, a Igreja seria apenas uma ONG". Estas palavras do Papa Francisco durante
a Missa que ele celebrou com os Cardeais depois da sua eleição, tocaram a muitas pessoas
levando-as a repensar e redimensionar as visões preconceituosas que alguns têm da
Igreja.
Com efeito, embora o Papa emérito Bento XVI tenha insistido na centralidade
de Cristo no seio da sua Igreja, viu-se durante o período da sede vacante e do conclave,
quanto a eleição de um Papa foi semelhante, particularmente nos meios de comunicação,
à de uma organização internacional como as Nações Unidas ou a União Africana, onde
critérios de selecção são muitas vezes de natureza da filiação continental ou regional,
colocando na sombra a própria essência da Igreja que, segundo a origem etimológica
da palavra, significa a assembleia dos crentes.
Nela, Deus "convoca" o seu
povo de todos os confins da terra. Como bem sublinhado no Catecismo da Igreja Católica,
o Povo de Deus difere de todos os grupos étnicos, políticos ou culturais da história
porque não pertence por natureza a nenhum povo. Deus constituiu para si um povo daqueles
que outrora não eram um povo. Isto parece ir para além de qualquer discurso humano
sobre o critério da filiação geográfica ou racial dos seus ministros.
Além
disso, depois da eleição do Papa Francisco, a conferência de imprensa realizada pelo
Cardeal americano Timothy Dolan era para esclarecer este ponto; a escolha dos Cardeais,
iluminados pelo Espírito Santo, levou a "uma figura da unidade de todos os católicos,
independentemente do lugar onde eles residem, e a um Papa que reflecte melhor as necessidades
da Igreja e dos católicos de hoje”.
Antes mesmo da entrada no Conclave, as
congregações gerais de preparação e a homilia da Missa "PRO ELIGENDO ROMANO PONTEFICE"
baseiam-se na análise do contexto em que a Igreja é chamada a proclamar Cristo, para
discernir o perfil daquele que melhor pode responder a estes desafios.
As primeiras
palavras que o Papa Francisco pronunciou para se apresentar foram: o Bispo de Roma,
uma igreja particular que preside na caridade à Igreja universal na sua qualidade
de sede de Pedro. Enfatizando o seu papel de Bispo de Roma, o Papa Francisco indicava
ao mesmo tempo a universalidade da Igreja Católica porque, como o Catecismo nos ensina,
citando Santo Inácio de Antioquia, que as Igrejas particulares são plenamente católicas
pela comunhão com uma delas: a Igreja de Roma", que preside na caridade". É a Igreja
de Roma que, como sede de Pedro, tem o papel de permitir a todas as outras Igrejas
de se encontrar, de se unir e estar em comunhão umas com as outras.
E o seu
bispo, como sucessor de Pedro, preside esta caridade como bispo entre os outros bispos,
como ele sucessores dos apóstolos, formando assim a colegialidade episcopal, mas ele
tem a particularidade de ser o sucessor pessoal de São Pedro, o apóstolo a quem Jesus
confiou uma responsabilidade especial para toda a Igreja. Esta colegialidade reflecte-se
de modo especial pela solidariedade concreta entre as igrejas, solidariedade presidida
pelo sucessor de Pedro.
O Catecismo da Igreja entende por Igreja particular,
que é antes de tudo a Diocese, uma comunidade de fiéis cristãos em comunhão na fé
e nos sacramentos com o seu Bispo ordenado na sucessão apostólica. Estas Igrejas particulares
podem portanto ser jovens ou velhas, consoante a sua data de criação; algumas delas
beneficiam, aliás, de um estatuto especial, como a Igreja de Roma, sede do Sucessor
de Pedro ou a Igreja antiga da Terra Santa, para a qual todos os cristãos são chamados
a fazer um gesto de solidariedade na sexta-feira santa.
No entanto, o Catecismo
também nos lembra que a Igreja universal não deve ser entendida como uma simples soma
ou federação de Igrejas particulares. É por vocação e missão, enraizadas numa variedade
de terrenos culturais, sociais e humanos, tomando em cada parte do mundo aspectos
e formas de expressão diversos, que se manifesta a universalidade na diversidade da
Comunidade dos crentes".
Assim, a unidade do corpo não suprime a diversidade
dos membros: "Na edificação do corpo de Cristo reina uma diversidade de membros e
de funções A unidade do Corpo místico produz e estimula entre os fiéis a caridade;
ela é vitoriosa sobre todas as divisões humanas: "Todos vós, de facto, que fostes
baptizados em Cristo vos revestistes de Cristo; não há judeu nem grego, não há escravo
nem homem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um em Cristo Jesus"
(Gál 3, 27-28).
Marie José Muando Buabualo Redacção Francesa para África