2013-05-04 09:25:11

Editorial: Uma pequena semente que deu frutos


Cidade do Vaticano (RV)RealAudioMP3 A cidade de Baependi, interior de Minas Gerais, está em festa, como está em festa toda a Igreja no Brasil; o motivo é simples, Francisca de Paula de Jesus, mais conhecida como Nhá Chica será beatificada neste 04 de maio, ela a primeira leiga brasileira a receber as honras dos altares. Mas por que toda essa festa, essa alegria? Primeiro pelo reconhecimento da Igreja de que Nhá Chica viveu de modo exemplar a sua vida; e depois porque dá também a nós a esperança de que podemos aspirar à santidade com nossas vidas, pois “ser santo é a meta de cada cristão”.
Essa mulher simples, filha de ex-escrava, analfabeta, encantou os homens e mulheres de seu tempo, – ela viveu entre 1810-1895 –, não com grandes performances de vida, com sua grande cultura, ou com sua grande riqueza material; não, ela encantou os homens e mulheres de seu tempo com a sua simplicidade, com a sua sabedoria, que não sabia de onde vinha, da sua devoção a Deus, da sua entrega aos pobres, ela que era pobre. Francisca nasceu no Distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes em São João Del Rey e depois foi viver com a sua família em Baependi. Na bagagem dessa família, poucos pertences e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, “Minha Sinhá” como ela chamava a Mãe de Deus.
Apesar de já em vida ter tido a fama de santidade passaram-se quase 100 anos após a sua morte para ter início o processo de beatificação, processo que se conclui neste sábado com o reconhecimento da Igreja. Muitos conhecem a bonita história dessa humilde filha da Terra de Santa Cruz – outros estão conhecendo agora - que nada de extraordinário fez, a não ser viver na sua simplicidade o verdadeiro sentido do ser cristão, ou seja, a doação total ao seu Deus e ao próximo. Ela viveu de forma muito simples, numa casa humilde com poucos móveis. Mas a sua verdadeira simplicidade se pode ver no encontro os irmãos, com aqueles que buscavam nela o alivio para suas penas cotidianas, que buscavam a sua palavra de conforto, a sua oração e a sua benção. Ela recebia todos com muita alegria e paciência, mas não na sexta-feira. De fato a sexta era um dia importante pois “se recorda a Paixão de Cristo” – dizia ela. Neste dia ela lavava as poucas roupas que tinha e se dedicava mais à oração e à penitência.
Nhá Chica por ser analfabeta não lia a Bíblia, mas entrava em contato com as Sagradas Escrituras através da leitura que outras pessoas faziam para ela; mas ser analfabeta para ela não era uma barreira intransponível, pois a graça de Deus estava presente, e ela compreendia como ninguém tudo o que ouvia.
A “Mãe dos pobres de Baependi”, como também é chamada teve uma vida exemplar de fé, de doação e entrega nas mãos daquele que tudo pode. Hoje a sua beatificação é festa nesta cidade, no céu e no coração daqueles que agradecem a Deus por esse dom admirável; a “santa dos humildes”. Humildade e abnegação, que – lendo um pouco a sua história – se pode ver até mesmo quando recebeu a herança de seu irmão; usou o dinheiro para construir uma igreja para Nossa Senhora e o que sobrou doou aos últimos que pediam a sua ajuda. Usava roupa simples, quase sempre a mesma e dormia numa cama rústica sem colchão. Tudo segundo o desejo de ser por fora aquilo que seu coração, escondido no peito, refletia: bondade, simplicidade e um grande amor a Deus e ao próximo.
Verdadeiramente a Igreja Católica no Brasil está em festa e cheia de gratidão a Deus por essa sua filha que renunciou a uma vida rica e abundante de bens para se tornar a “mãe dos pobres”, uma chama que ilumina a noite dos últimos. Filha de ex-escrava ajudou as pessoas a se libertarem do egoísmo e da falta de fé; ela pequena e imensa ao mesmo tempo hoje intercede por cada um daqueles últimos que vêem no seu exemplo um caminho a ser percorrido na busca daquela paz que somente a doação e o amor incondicionado a Deus e ao próximo pode dar.

Nhá Chica, pequena de estatura, pode ser pequena aos olhos do mundo, mas certamente é uma gigante aos olhos de Deus e hoje o céu faz festa por uma semente que produziu e produz frutos. (Silvonei José)








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