Belo Horizonte (RV) - No Dia Internacional do Trabalhador, todos são convidados
a olhar de modo especial para o exemplo de São José, também celebrado no dia 1º de
maio, operário carpinteiro, homem do trabalho, pai adotivo de Jesus - o Salvador do
mundo. Ele ensina que o dever de trabalhar é inerente à condição cidadã e cristã de
cada um.
A Doutrina Social da Igreja Católica, considerando o mundo do trabalho,
mostra Jesus Mestre ensinando seus discípulos a apreciarem o exercício de tarefas.
Uma lição que permanece e tem força para modificar muitos cenários no quadro social,
além de garantir a cada pessoa, nos diversos âmbitos e atividades, a luz da consciência
sobre a importância de se exercer um ofício. Jesus, conforme testemunham os Evangelhos,
passou a maior parte de sua vida terrena junto a um banco de carpinteiro, ao lado
de seu pai José operário, dedicando-se ao trabalho manual. Essa verdade modula de
modo diferente a cultura que não valoriza esse tipo de trabalho e o considera de segunda
categoria em relação àqueles produzidos no mundo acadêmico ou nos escritórios. Evidentemente,
um modo de ver marcado por preconceitos e discriminações.
O dever de trabalhar
é uma dádiva, pois constitui a condição humana. Jesus condena o servo preguiçoso e
indolente. Em contrapartida, elogia o servidor fiel que cumpre suas obrigações e tarefas.
Ele mesmo descreve a sua missão como um ofício quando diz: “Meu Pai trabalha até agora
e Eu também trabalho”. Essa consideração interiorizada, iluminando cada momento e
produzindo reconhecimentos, pode fazer grande diferença na consciência social quanto
ao direito e ao dever de trabalhar, com incidências muito importantes sobre as relações
sociais e políticas no conjunto de uma sociedade que precisa ser mais justa e fraterna.
Jesus
é exemplar porque, durante seu ministério terreno, trabalha incansavelmente para libertar
a humanidade dos sofrimentos, das doenças e de todo tipo de escravidão. Neste sentido,
o trabalho deve ser compreendido como caminho para liberdade. O dever de trabalhar
torna-se essa via quando converge e impulsiona a busca do essencial que mantém a vida
na sua inteireza e no seu sentido mais profundo, aquele que ultrapassa o simples ganhar,
possuir e até mesmo desfrutar. Exercer um ofício, como sublinha a Doutrina Social
da Igreja, refere-se à participação do homem na obra de Deus, não só da criação, mas
também da redenção e resgate de toda a humanidade.
Assim concebido, o trabalho
é expressão da plena humanidade de cada pessoa, na sua condição histórica e em vista
do seu destino último. É, pois, indispensável a clarividente consciência que deve
presidir a conduta cidadã de cada um: aquela de que pelo trabalho se gera solidariedade,
possibilidade de partilhas e alegria de ajudar na construção de uma sociedade melhor.
Na tradição da fé cristã, o trabalho é nossa participação no governo de Deus no mundo
em que vivemos. É importante, então, trabalhar não só para conseguir o próprio sustento,
mas também em vista do exercício da solidariedade com os mais pobres e pelo compromisso
cidadão de ajudar na construção da história.
O trabalho carrega em si a imprescindível
dimensão subjetiva, revelação de cada pessoa como ser dinâmico e capaz de transformar,
artisticamente criar e exercer sua tarefa cidadã. Ao trabalhar a pessoa concretiza,
de maneira admirável, nos diversos ofícios, o sentido mais alto de sua dignidade.
É hora de uma compreensão ajustada sobre o trabalho para que se torne cada vez mais
qualificada nossa presença na história da humanidade, na construção de um futuro que
está sob a inteira responsabilidade de todos nós.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte