40 anos atrás morria Maritain, mestre na arte de pensar, viver e rezar
Cidade do Vaticano (RV) - Considerado um dos máximos expoentes do tomismo no
Séc. XX, muito estimado por Paulo VI e autor da obra "Humanismo integral". Passados
40 anos da morte do filósofo francês Jacques Maritain, tem sido recordada a atualidade
de seu pensamento.
Nascido em 18 de novembro de 1882 e morto em 28 de abril
de 1973, sua vida foi marcada pela profunda relação com a esposa Raissa, com a qual
converteu-se ao catolicismo em 1906. Maritain tornou-se um grande admirador de Santo
Tomás de Aquino e no final de sua vida entrou para a comunidade religiosa dos Pequenos
Irmãos de Jesus.
Na conclusão do Concílio Vaticano II o Papa Paulo VI entregou
a Jacques Maritain, representando os intelectuais, a sua Mensagem aos homens de pensamento
e de ciência. Mas qual é hoje a atualidade do pensador católico francês, qual é a
atualidade do seu humanismo? Foi o que a Rádio Vaticano perguntou ao especialista
em Maritain, Prof. Piero Viotto, ex-docente da Universidade Católica de Milão:
Prof.
Piero Viotto:- "É claro que a posição de Maritain, da obra "Humanismo integral"
– que é a mais conhecida – até "O Camponês do Garona", é superar a oposição entre
liberalismo e socialismo, indicando uma terceira via, que é o personalismo. Portanto,
o ponto de referência da relação social não é o indivíduo com seus interesses ou a
sociedade através do Estado, mas é a pessoa humana. Segundo Maritain, tudo isso deve
ser reconduzido à filosofia de Santo Tomás, porque se insere na tradição de Aristóteles,
de Tomás de Aquino, que coloca o homem no centro das relações sociais."
RV:
Nesse sentido, que papel tem o cristianismo, segundo Maritain?
Prof.
Piero Viotto:- "Tem um papel fundamental, porque o homem não é destinado somente
a melhorar este mundo, mas é destinado à contemplação de Deus. Não nos esqueçamos
que Maritain morreu sendo Pequeno Irmão de Jesus, em Toulouse (sul da França, ndr).
De fato, a finalidade da vida não é produzir bens de consumo, mas é contemplar a beleza,
a verdade, as relações fraternas. Nesse sentido, o cristianismo é um elemento determinante.
Aliás, Maritain precisa que sem o cristianismo a humanidade estaria perdida e se une
a Henri De Lubac quando fala sobre o drama do humanismo ateu. Efetivamente, tanto
De Lubac quanto Maritain evidenciam este fato: se colocamos Deus de lado, o homem
permanece sozinho consigo mesmo e morre."
RV: Esta concepção de Maritain,
o humanismo integral, ele aplica também às relações humanas pessoais?
Prof.
Piero Viotto:- "Evidentemente Maritain discutiu tudo isso com a sua mulher. É
um pensamento comum. Não somente o aplica a si mesmo e escreve um belíssimo livro
"Amor e amizade", mas, sobretudo, chega a fazer uma filosofia sobre essas coisas,
afirmando que não se deve basear tudo no saber ou no conhecer. A filosofia antiga
estava ligada ao saber, à objetividade da verdade; a filosofia moderna esta ligada
à subjetividade do conhecimento, Maritain faz a operação de juntar todas essas coisas."
(RL)