2013-04-29 12:38:48

Irmãs de São José de Cluny em Angola comemoram 130 anos de vida no país


A Congregação das Irmãs de São José de Cluny foram as primeiras a chegar a Angola. Foi há 130 anos. Fundada pela francesa Ana Maria Javouhei, as primeiras irmãs chegadas a Angola em 1883, começaram logo a ocupar-se da educação, da saúde e da assistência em geral. Hoje a 130 anos de distância continuam na mesma linha, dando particular atenção à libertação da mulher de todos os entraves à sua plena realização como ser criado à imagem e semelhança de Deus… A esta efeméride dedicamos hoje a rubrica semanal sobre as mulheres. Dulce Araújo entrevistou, por telefone, uma das irmãs dessa Congregação em Luanda… oiça já a conversa... 00:13:45:46

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Um pouco de história da Congregação:

500 anos de evangelização. Foi esta a razão que levou João Paulo II a Angola em 1992 e foi também nos rastos das comemorações desses 500 anos que se inscreveu a visita de Bento XVI EM 2009. Uma evangelização iniciada em 1491 com o baptismo do Rei do Congo Nzinga-a-Nkuvu, abrindo as portas à evangelização do país e da África subsahariana. O processo de evangelização teve, no entanto, uma grande quebra a um certo ponto da sua história e, procurando as causas desse fracasso, o arcebispo resignatário de Luanda, D. Manuel Antunes Gabriel, indicava no livro “Angola: cinco século de Cristinismo” editado em 1978, a falta de religiosas como uma dessas causas. E escrevia:

“Nos trabalhos missionários, com razão tem sido apontada a falta de religiosas como um dos factores que impediram uma formação cristã mais profunda, sobretudo no campo familiar, com a educação da mulher africana como esposa consciente e mãe dedicada.
A própria orgânica das ordens religiosas femininas dos séculos passados não permitia facilmente que elas se dedicassem a trabalhos fora dos seus conventos. As primeiras experiências - e que tão bons resultados deram nos Estados Unidos e no Canadá, mas quase exclusivamente entre colonos – não chegaram à África. Foi necessário o século XIX para se assistir a uma floração de congregações religiosas femininas, cujos membros incluem ou têm como fim principal o apostolado missionário.
Já os missionários franceses do Loango e Cagongo tinham no seu programa o concurso das irmãs religiosas. É provável que, se a experiencia chegasse a fazer-se, ela redundasse em fracasso como sucedeu aos membros daquela missão que foram vitimados na maior parte pelas doenças.
Sabe-se que, durante séculos, havia a convicção fundamentada em factos, de que a mulher europeia não conseguia, devido à sua compleição, vem muito tempo nestes climas.”

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Depois do grande período de dificuldades e de esmorecimento da evangelização regista-se, por volta de 1885, uma nova arrancada do fervor missionário em Angola. Falando dessas dificuldades e da nova luz ao fundo do túnel, D. Manuel Antunes Gabriel afirma no seu livro, Angola: Cinco Século de Cristianismo que às congregações antigas juntaram-se outras, como a Congregação do Espírito Santo, Padres Brancos, etc. E acrescenta:

“Ao mesmo tempo, apareceram numerosas congregações religiosas femininas, cujos membros aceitavam a difícil mas nobre tarefa de coadjuvarem os missionários, dedicando-se a obras de assistência e sobretudo à formação das donzelas e mulheres africanas, elemento imprescindível na formação das famílias cristãs. Assim apareceram as Irmãs de São José de Cluny da Bem-aventurada Ana Javouhey, as Franciscanas Missionárias de Maria, as Irmãs Brancas, etc.”

As primeiras a chegar são, todavia, as Irmãs de São José de Cluny, em princípios de 1883. Quatro irmãs. Mas, em 1940 eram já 102, 40 das quais africanas. Hoje as africanas são maioritárias e estão presentes em todos os cantos do país, empenhadas num esforço de evangelização através do ensino, saúde e serviços sociais diversos.

Uma missão, regida (não só em Angola, mas também em vários outros países da África e do mundo) pelo carisma da fundadora, a Bem-aventurada Ana Maria Javouey, a primeira a enviar missionárias para o país. A este respeito escrevia ainda D. Manuel Nunes Gabriel no seu livro sobre os cinco séculos de evangelização de Angola….

“Os primeiros missionários do Espírito Santo em Angola eram franceses e tinham já experiencia do trabalho das irmãs de S. José de Cluny em algumas das missões de África, sobretudo no Senegal, e nas Antilhas. Esforçaram-se, por isso, logo quase de início, por conseguir a mesma colaboração nesta parte da África.
Assim, os padres Duparquet e Antunes já em 1881, ainda em Portugal, pedem a vinda de Irmãs de São José para Lândana (Cabinda) e Huíla”.

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D. Manuel Nunes Gabril dedica mais algumas páginas do livro às Irmãs de São José de Cluny falando das suas primeiras acções em Angola e da fundadora, Ana Maria Javouey. Eis aqui alguns extractos….

“Em 10 de Novembro de 1779 nasceu em Chamblan, França, Ana Maria Javouey, filha de lavradores da região, a qual ia desempenhar um papel relevante na vida missionária por meio da Congregação que viria a fundar e pelas iniciativas ousadas que levou a cabo e lhe mereceram o epíteto de “grande homem” que lhe deu o rei Luís Filipe.

Com algumas das irmãs e outras donzelas da mesma região inicia uma obra de educação e assistência, que colocou sob a protecção de São José, a que se juntou o apelativo “de Cluny”, quando a fundadora comprou um velho convento, de que fez a casa-mãe e o noviciado, na pequena cidade de Cluny, celebre pela grande reforma beneditina medieval, que ali teve o seu berço.
Solicitada pelas autoridades francesas, mandou as primeiras irmãs para a ilha da Reunião, no Oceano Índico, a que se seguiram muitas outras expedições para o Senegal – onde ela esteve duas vezes – e orientou a obra admirável da libertação dos escravos -, para o Madagáscar e até para as longínquas ilhas Marquesas e Taihiti, na Oceânia.

Uma visão que tivera na juventude havia marcado a Madre Javouhey e as suas filhas para uma vocação nitidamente missionaria, sobretudo entre as populações de raça negra.

Desde cedo as Irmãs de São José colaboraram com os Padres do Espírito Santo nas Antilhas e na África. Os dois fundadores – Venerável Liberman e Beata Ana Maria Javouhey – são contemporâneos e prestaram-se mútuo auxílio nas dificuldades que amos tiveram de enfrentar no governo e consolidação dos seus institutos.

Não é, por isso, de admirar que os espiritanos procurassem a cooperação destas irmãs para os trabalhos missionários em Angola.

Em seguimento do pedido feito pelos padres Duparquet e Antunes, o superior geral dos espiritanos comunicava ao núncio apostólico em Lisboa, em Novembro de 1881, que as irmãs de São José estavam dispostas a abrir casas em Portugal para o recrutamento de vocações e para a formação de irmãs missionárias, destinadas às colónias portuguesas, sobretudo à missão de Huíla.
As três primeiras irmãs, de nacionalidade francesa, chegaram a Lisboa em fins daquele ano (1881), onde a Congregação era conhecida como “irmãs da missão” e mais tarde em Angola por “irmãs Educadoras”.

Em fins de 1882 a superiora geral comunicava ao padre Duparquet que iam embarcar as quatro primeiras irmãs para a missão do Congo. Seguiriam do Havre para Dakar e dali, num outro navio para o Gabão, donde passariam para Lândana na primeira oportunidade.

Fixaram em Lândana nos inícios de 1883. A segunda comunidade estabeleceu-se em Moçamedes em 1885, pois o governador do distrito, ao saber que haviam ali chegado três irmãs com destino à Huíla, usou da sua autoridade para que elas ficassem em Moçamedes, onde abriram escola e colégio. As superioras responsáveis acabaram por concordar e preparam um novo grupo para Huíla, onde chegaram em 1887.
Vieram depois várias missões em diversas outras cidades incluindo Luanda, onde a escola foi desde início frequentada por diversas alunas. Em Moçamedes a escola chamava-se Instituto Escolar para o sexo feminino”.









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