2013-04-25 20:46:08

'Relatório Figueiredo' denuncia atrocidades cometidas contra índios no Brasil de 1940 a 1960


Brasília (RV) - Um relatório detalhando atrocidades cometidas contra indígenas brasileiros nos anos 1940, 50 e 60 reapareceu, 45 anos após ter sumido misteriosamente num incêndio.

O ‘Relatório Figueiredo’, como é conhecido, foi encomendado pelo Ministro do Interior em 1967 e causou um clamor internacional, depois que revelou crimes contra a população indígena do Brasil nas mãos de latifundiários e do próprio departamento do governo para assuntos indígenas, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). O relatório chegou à fundação da organização de direitos indígenas ' Survival International', dois anos depois.

O documento, de mais de 7.000 páginas, compilado pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia, detalhou o assassinato em massa, tortura, escravidão, guerra bacteriológica, abuso sexual, roubo de terras e negligência travada contra a população indígena do Brasil. Como resultado, algumas tribos foram dizimadas.

O relatório foi recentemente redescoberto no Museu do Índio e agora será considerado pela Comissão Nacional de Verdade do Brasil, que está investigando as violações de direitos humanos ocorridas entre 1947 e 1988.

Um dos muitos exemplos que constam no relatório, descreve o ‘massacre do paralelo 11’, em que dinamite foi lançada de um pequeno avião sobre a aldeia de índios Cinta Larga. Trinta índios foram mortos. Apenas dois sobreviveram para relatar o ocorrido. Outros exemplos incluem o envenenamento de centenas de índios com açúcar misturado com arsênico e métodos severos de tortura, como o esmagamento lento dos tornozelos das vítimas com um instrumento conhecido como o ‘tronco’.

As descobertas de Figueiredo provocaram um clamor internacional. Num artigo de 1969, publicado pelo Sunday Times com base no relatório, o escritor Norman Lewis escreveu: ‘Do fogo e espada ao arsênico e balas – a civilização enviou seis milhões de índios para a extinção.’ O artigo mobilizou um pequeno grupo de cidadãos, que criou a ‘Survival International’ no mesmo ano.

Como resultado do relatório, o Brasil realizou um inquérito judicial, onde 134 funcionários foram acusados por mais de mais de 1.000 crimes. 38 funcionários foram demitidos, mas ninguém foi preso pelas atrocidades cometidas.

O Diretor da Survival International, Stephen Corry, disse nesta quinta-feira que “o Relatório Figueiredo faz um levantamento horrível do que aconteceu, mas por um lado, nada mudou. Quando se trata do assassinato de índios, reina a impunidade. Homens armados matam rotineiramente índios com a consciência de que existe pouco risco de serem julgados e punidos – nenhum dos assassinos responsáveis ​​por atirar contra líderes e foi preso por seus crimes. É difícil não suspeitar que o racismo e a ganância estão na raiz do fracasso do Brasil em defender as vidas de seus cidadãos indígenas”, denunciou.

O SPI foi posteriormente dissolvido e substituído pela FUNAI, a Fundação Nacional do Índio do Brasil.

(JE)









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