Rio de Janeiro (RV*) - No quinquagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações,
celebrado neste IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2013, a mensagem papal nos convida
a refletir sobre o tema «As vocações sinal da esperança fundada na fé», “que bem se
integra no contexto do Ano da Fé e no cinquentenário da abertura do Concílio Ecumênico
Vaticano II”. É um dia especial para nós, pois chegam ao Estado do Rio de Janeiro
os símbolos da JMJ – a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora. É também para mim
uma época que recordo tanto a minha ordenação episcopal como também o início do meu
ministério na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Este domingo
nos apresenta a figura do Bom Pastor, que São João nos deixou no capítulo décimo do
seu evangelho. Repleto de significado pascal, a figura do Bom Pastor conhece as suas
ovelhas e o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas (Jo. 10, 11). Sabemos que estas
palavras foram de novo confirmadas durante a paixão. Cristo ofereceu a Sua vida na
Cruz. E fê-lo com o amor. Sobretudo, desejou corresponder ao amor do Pai, que amou
de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo. 3, 16). Cumprindo «este mandamento recebido
do Pai" (Cf. Jo. 10, 18) e revelando o Seu amor. Afirma-o no mesmo discurso, quando
diz: Por isto o Pai Me ama: porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la (Jo. 10,
17). Ninguém ma tira (a vida); sou eu que a dou por mim mesmo. Tenho poder para dá-la
e para retomá-la (Jo. 10, 18). Estas profundas palavras referem-se evidentemente à
Ressurreição, e exprimem toda a profundidade do mistério pascal.
Nosso Senhor
Jesus é Bom Pastor porque dá a Sua vida ao Pai deste modo: entregando-a em sacrifício,
oferece-a pelas ovelhas. Jesus revelou esse aspecto do amor do Bom Pastor: oferecer
a vida pelas ovelhas.
A imagem do Pastor e do rebanho era familiar à experiência
dos Seus ouvintes, como não deixa de ser familiar à mentalidade do homem contemporâneo.
Mesmo com o avanço cibernético, esta imagem continua ainda a ser atual no mundo hodierno.
Os pastores levam as ovelhas aos pastos e lá ficam com elas durante o verão. Acompanham-nas
nos deslocamentos e guardam-nas para que não se tresmalhem. De modo especial defendem-nas
dos animais selvagens, pois “o lobo arrebata e dispersa as ovelhas” (Jo. 10, 12).
O Bom Pastor, segundo as palavras de Cristo, é precisamente aquele que, "vendo
vir o lobo", não foge, mas está pronto a expor a própria vida, lutando com o ladrão
a fim de que nenhuma das ovelhas se perca. Se não estivesse pronto a isto, não seria
digno do nome de Bom Pastor. Seria mercenário, mas não Pastor. O bom pastor dá a vida
pelas ovelhas (Jo. 10, 11).
A Igreja é chamada a realizar este mistério, que
sempre se está a atuar entre Cristo e o homem: o mistério do Bom Pastor, que oferece
a Sua vida pelas ovelhas. A Igreja, que é o Povo de Deus, é, ao mesmo tempo, realidade
histórica e social, em que este mistério continuamente, e de diversos modos, se renova
e realiza. E homens diversos têm a sua parte ativa nesta solicitude pela salvação
do mundo, pela santificação do próximo, que é e não deixa de ser a solicitude própria
de Cristo crucificado e ressuscitado. Esta solicitude pastoral é, de modo especial,
a vocação dos pastores: presbíteros e bispos.
Por isso, neste domingo do Bom
Pastor, após cinquenta anos da criação do Dia Mundial de Orações pelas Vocações, somos
chamados a uma animação ainda maior da Pastoral Vocacional e dos Ministérios Ordenados.
Para a eficiente e consoladora solução do problema das vocações, a Comunidade cristã
é chamada a orar; orar muito, com confiança e perseverança, não deixando, por outro
lado, de promover convenientes iniciativas pastorais, e de oferecer, especialmente
por meio das almas consagradas, um testemunho luminoso de vida, vivida em fidelidade
à divina vocação. Rezemos insistentemente para despertar a divina chamada no coração
de muitos jovens e em outras almas nobres e generosas, para mover os hesitantes a
uma decisão, e manter na perseverança aqueles que fizeram a sua escolha, dedicando-se
ao serviço de Deus e dos próprios irmãos. Deus conceda a todos compreenderem plenamente
que a presença, a qualidade, o número e a fidelidade das Vocações constituem sinal
da presença viva e operante da Igreja no mundo e motivo de esperança para o seu futuro. Neste
ano da Juventude e da Fé, em particular para a Igreja do Rio de Janeiro, dirijo, por
fim, um apelo especial e cordial aos jovens. Caros amigos, olhai para a figura do
Bom Pastor — ideal de luz, de vida e de amor e – ao mesmo tempo, considerai que a
nossa época tem necessidade de recuperar estes ideais. Se Cristo olha para vós com
vistas de predileção, se vos escolhe e vos chama a serdes Seus colaboradores, não
hesiteis um momento em dizer — à imitação da Virgem Santíssima ao Anjo — o vosso generoso
"Sim". Não vos arrependereis; a vossa alegria será verdadeira e completa, e a vossa
vida aparecerá rica de frutos e de méritos, porque vos tornareis com Ele e por Ele
mensageiros de paz, realizadores do bem e colaboradores de Deus na salvação do mundo.
Impossível
não recordar as Palavras do Papa Francisco na Quinta-feira Santa dirigida aos sacerdotes:
“isto vo-lo peço: sede pastores com o «cheiro das ovelhas», que se sinta este –, serem
pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens”, recordando ainda: “Deus
Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso
coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas «periferias» onde o nosso
povo fiel mais a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do
Senhor, sinta que estamos revestidos com os seus nomes e não procuramos outra identidade;
e que ele possa receber, através das nossas palavras e obras, este óleo da alegria
que nos veio trazer Jesus, o Ungido”.
A conclusão da mensagem papal para esta
jornada de orações nos situa no clima da JMJ que estamos a preparar: “Desejo que os
jovens, no meio de tantas propostas superficiais e efêmeras, saibam cultivar a atração
pelos valores, as metas altas, as opções radicais por um serviço aos outros, seguindo
os passos de Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de segui-Lo e de percorrer os
caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes
por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas
vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a «dar a razão da vossa esperança»
(1 Ped 3,15).
Que a exemplo de nosso Bom Pastor, Cristo Senhor, possamos continuar
a ver tantos jovens que, devido à experiência cristã, se entregam ao serviço do reino
como consagrados e, portanto, dando suas vidas para que as ovelhas possam estar e
adentrar no aprisco do Senhor!
* † Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ