Sede de água e de justiça: bispos solidários com o sofrimento pela seca
Aparecida (RV) - Durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, 16
de abril, a presidência da CNBB apresentou a sua mensagem sobre a seca no semiárido
que atinge a região do semiárido do Brasil.
A nota demonstra a solidariedade
dos bispos do Brasil pelo sofrimento e a luta pela superação deste fenômeno, secular
e cíclico, que ameaça a vida e o desenvolvimento integral da população.
O texto
foi aprovado durante a 51ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil que acontece desde
o dia 10 de abril em Aparecida (SP).
A seguir, a íntegra da nota:
Sede
de água e de justiça
“Eu estava com fome, e me destes de comer;estava com sede,
e me destes de beber” (Mt 25,35)
Nós, bispos do Brasil, reunidos em Aparecida–SP,
na 51ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 10 a
19 de abril de 2013, expressamos nossa solidariedade aos irmãos e irmãs castigados
pela maior seca que atinge a região do semiárido nos últimos 40 anos. Fazemos nossos
seus sofrimentos e suas dores e nos unimos à sua luta pela superação deste fenômeno,
secular e cíclico, que ameaça a vida e o desenvolvimento integral da população. Trata-se
de mais de 10 milhões de pessoas diretamente atingidas, em 1.326 municípios, segundo
dados da Secretaria da Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional (SEDEC/MI).
Os
bispos do Nordeste, por várias vezes, assinalaram as consequências de ordem social,
econômica, moral e ética provocadas pela seca tais como: a) Migração forçada com a
consequente desarticulação e desintegração da família, que fica exposta à máxima penúria;
b) tráfico humano, que conduz ao trabalho escravo; c) instrumentalização da extrema
vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, em total desrespeito aos valores
éticos; d) agravamento da situação econômica relegando milhares de famílias à miséria;
e) dizimação da produção agrícola e agropastoril com a morte de rebanhos inteiros,
comprometendo o presente e o futuro dos pequenos e médios produtores, além de seu
endividamento; f) colapso no abastecimento de água nas áreas urbanas; g) risco de
se perderem conquistas econômicas e produtivas fundamentais acumuladas nos últimos
dez anos.
O clamor do povo do Nordeste, acolhido pela Igreja, ecoa em documentos
históricos como o de Campina Grande, em 1956, e o de João Pessoa - “Eu ouvi o clamor
do meu povo (Ex 3,7)” - em 1963. Além disso, a Igreja tem realizado diversas campanhas
de doações, promovido inúmeras ações solidárias de apoio às famílias mais atingidas
pelo flagelo da seca e participado na luta pela execução de políticas públicas como
a construção de cisternas de consumo e de produção.
Apoiamos as “Diretrizes
para a convivência com o Semiárido”, lançadas em recente seminário realizado, em Recife-PE,
pela Igreja Católica e vários movimentos sociais e sindicais, exigindo que sociedade
e governos não pensem no Nordeste apenas em ocasião de seca.
A seca no semiárido
é um fenômeno cíclico que se repete sistematicamente. Entretanto, o ciclo de secas
“não pode nos fazer pensar que o semiárido brasileiro seja apenas um condicionamento
climático e, a longa estiagem, sua intempérie. O semiárido é, antes de tudo, um conjunto
de condições próprias de um bioma e, desse modo, exige-nos um novo olhar e a construção
de iniciativas diferenciadas” para a convivência nesta região onde vivem 46% da população
nordestina e 13% da população brasileira, representando 11% do território nacional.
Os 25 milhões de pessoas que aí habitam, aguardam medidas estruturais que facilitem
a convivência com esse ecossistema.
Reconhecemos que os Governos têm desenvolvido
importantes ações neste momento crítico por que passam os atingidos pela seca. São,
no entanto, ações mitigadoras e emergenciais que não resolvem o problema, presente
em todo o polígono da seca.
Somente com decidida vontade política e efetiva
solidariedade, será possível estabelecer ações que tornem viável a convivência com
o semiárido, mesmo no período da seca. Como pastores solidários aos nossos irmãos
nordestinos, reivindicamos:
a) A definição e a aceleração de políticas
públicas e institucionais permanentes que garantam segurança hídrica e alimentar,
incentivando o uso de tecnologias adaptadas à realidade climática da região para captação,
armazenamento e distribuição das águas das chuvas;
b) Democratização do
acesso à água com a construção de sistemas simplificados de abastecimento de água;
c)
Ações estruturantes como a revitalização e preservação dos rios, lagoas, ribeiras,
riachos e da floresta nativa; construção de cisternas de placas e de cisternas “calçadão”;
perfuração e equipamentos de novos poços tubulares;
d) Interligação de
bacias hidrográficas e de recursos hídricos; construções de diversos tipos de armazenamento
de água, bem como de adutoras e canais, para o consumo humano, animal e a produção
de alimentos;
e) Ampliação e universalização da aplicação dos recursos
financeiros e técnicos a partir do protagonismo das populações locais e de suas organizações,
no campo e na cidade;
f) Conclusão urgente das numerosas obras cuja paralisação
tem causado graves prejuízos econômicos e sociais;
Que Nossa Senhora Aparecida,
cuja casa nos abriga durante a 51ª Assembleia da CNBB, alcance para todos os irmãos
e irmãs do Nordeste a força renovadora da esperança, que nasce do coração do Cristo
Ressuscitado, vencedor do mal e da morte.