As mulheres abandonam a Igreja. O que fazer? Ouça!
Cidade
do Vaticano (RV) - O Professor José Casanova é um dos mais respeitados sociólogos
da religião da atualidade. Espanhol, hoje leciona no departamento de sociologia da
Universidade de Georgetown em Washington/D.C., EUA, universidade católica e jesuíta
fundada em 1789. É também diretor do programa “Globalização, religião e o secular”
do Center Berkley desta universidade. Casanova é um estudioso de movimentos religiosos,
particularmente no Brasil, aonde o fenômeno é mais difundido e tem ritmo acelerado.
O Programa Brasileiro teve a oportunidade de conhecê-lo em um recente encontro sobre
este tema, aqui em Roma. O destaque desta conversa são os dados sobre a migração religiosa,
as novas correntes dentro do próprio catolicismo e, principalmente, o papel das mulheres
neste contexto.
“O mais interessante é que desde os anos sessenta até hoje,
houve uma enorme transformação da sociedade brasileira, de modernização, de pluralização:
a democratização atraiu pluralização de todo tipo, incluído o religioso. Sabemos que
o catolicismo deixou de ser 95% para ser hoje 68%. Os protestantes cresceram mais
de 20%, e também outras religiões cresceram até 5%. Há também os ‘sem-religião’, que
passaram a ser 7%. Há uma pluralização interna, mas o que é interessante é ver nesta
dinâmica religiosa, a pluralização dentro do próprio catolicismo: movimentos carismáticos,
movimentos da teologia da libertação, movimentos renovados, muitos católicos’ à sua
maneira’, simplesmente que constroem sua própria forma de ser católicos”.
Na
América Latina se verifica o mesmo contexto?
“Não tão drástica, tão plural
como no Brasil, que é um caso extra. Em outras sociedades, o número de protestantes
é maior: no Chile 30%, Guatemala 33%, mas não há tanta pluralização de outras formas
de religião. Na América Central, há a dinâmica ameríndia, bem distinta, mas no Brasil,
a dinâmica afro-brasileira e o espiritismo, que é uma maneira única, algo que une
de certa forma todas as formas religiosas e não religiosas brasileiras. Há um enraizamento
do espiritismo no início do século XX que se pode ver agora em todas as expressões
religiosas”.
As pessoas se sentem atraídas pelo místico?
“Sim,
existe uma relação de espiritualidade e, sobretudo nos novos movimentos, as pessoas
querem participar individualmente, mas principalmente de forma comunitária. O interessante
é que os indivíduos não têm interesse pessoal e espiritual, mas na formação de novas
comunidades”.
Qual o papel das mulheres neste panorama?
“Naturalmente
sabemos que as mulheres formam uma parte muito maior em todos os movimentos religiosos.
Sabemos que as mulheres são mais religiosas do que os homens nas 3 religiões maiores.
No Brasil, a única Igreja que tem mais homens que mulheres é a católica. Há 1%, 2
milhões de homens a mais que mulheres. Sabemos que há 20 anos, as mulheres eram milhões
a mais, vemos que elas estão abandonando a Igreja Católica mais rapidamente que os
homens. Sabemos que os homens deixam a Igreja Católica para se afastarem da religião,
enquanto as mulheres a abandonam para mudarem de Igreja. E houve também a redução
de vocações femininas religiosas, enquanto as masculinas estão crescendo. Por isso
é necessário que a Igreja tome a sério a questão de gênero, bem dizer, sua ideologia,
que a veja como um sinal dos tempos, do desenvolvimento moral e moderno da identificação
da dignidade humana. É preciso refletir seriamente sobre o que significa a revolução
de gênero precisamente como processo de desenvolvimento moral e humano”. (CM)