Belo Horizonte (RV) - Neste Domingo da Divina Misericórdia, o segundo do tempo
pascal, iniciaremos a construção da Catedral Cristo Rei, uma obra em nossas mãos.
Na verdade, a construção já começou há um bom tempo. Basta olhar o caminho até aqui
percorrido e as muitas conquistas alcançadas. No próximo domingo, iniciaremos a execução
da obra, que se desdobrará em muitas fases. Conforme a dinâmica própria da construção
de uma igreja, esse momento importante envolve cada um, por ser uma obra de todos.
Para chegarmos a esta etapa decisiva, muitos passos foram dados, amadurecidos e vividos
no tempo e na história da Arquidiocese de Belo Horizonte, hoje com seus 92 anos.
Reverente
é a memória de dom Antônio dos Santos Cabral, primeiro arcebispo da nova capital mineira,
que aqui chegou para instalar a nova diocese. Com a capital nova, um caminho novo
e tudo por começar. E começou com arrojo e abnegação missionária, reconheça-se, dotando
esse caminho com preciosidades, das paróquias criadas, os religiosos e religiosas
convidados, o apoio à educação católica, particularmente com a criação da Universidade
Católica, com uma singular presença na comunicação do seu tempo, a instituição do
Santuário Arquidiocesano da Adoração Perpétua, pérola da Arquidiocese, na igreja Nossa
Senhora da Boa Viagem, por ele escolhida como a catedral provisória e, particularmente,
o cuidado especial com os mais pobres.
Dom Antônio desenhou um horizonte largo
e trilhou um caminho de riquezas incontestáveis, deixando uma herança que pediu e,
certamente, pedirá, de seus sucessores uma coragem de gingantes na fé e uma simplicidade
evangélica própria de quem deposita confiança incondicional em Deus. O que dom Cabral
plantou, nessa história da Arquidiocese de Belo Horizonte, tem florescido graças ao
desvelo corajoso e confiante de seus sucessores, de leigos e leigas, padres, religiosos,
bispos e em diálogo e cooperação com segmentos diferentes, construtores da sociedade
pluralista. Uma sociedade que em Minas Gerais tem uma história de riquezas incontáveis,
com homens e mulheres marcados pela força da fé e apreço aos valores da família, da
solidariedade e da cultura.
Neste conjunto de feitos e fatos, eventos e conquistas,
lutas e sacrifícios, está sempre no horizonte o compromisso de fidelidade ao projeto
de Jesus Cristo, missão dada a Ele pelo Pai e por Ele dada à sua Igreja, com a escolha
dos seus apóstolos, numa ininterrupta tradição. Entre desdobramentos que se tornaram
passos novos, proféticos e novas respostas ao longo do tempo, permaneceu aqui o projeto
da Catedral Cristo Rei, até iniciada por dom Cabral, não continuada pelas vicissitudes
do tempo e das circunstâncias. Certamente, por desígnio de Deus Providente, ficou
como legado e tarefa a essa geração das primeiras décadas do terceiro milênio, como
oportunidade única de um exercício de solidariedade e comunhão.
As muitas etapas
até aqui vividas e trabalhadas para a construção da Catedral Cristo Rei, incluindo
debates e discernimentos, aquisições e doações, formação de consensos e entendimentos,
providências concretas vencendo burocracias e respeitando legalidades, claridade a
respeito do instrumento que se terá para servir mais e melhor, prepararam este histórico
dia 7 de abril, Domingo da Divina Misericórdia. Será o momento em que se iniciam novas
fases, que se sucederão dando forma à edificação, na medida do exercício de solidariedade,
apoio e comunhão efetiva de todos. A Catedral Cristo Rei será um grande centro de
irradiação da fé e do sentido de transcendência, valores que sustentam a cultura que
permanece e a sociedade que se quer justa e fraterna.
Ao longo dessa caminhada
rumo à Catedral, cada vez mais pessoas compreendem a importância da obra e vislumbram
o que acontecerá no coração desta igreja-mãe. Em primeiro lugar, uma ação evangelizadora
profética e encarnada, que articula e fortalece a rede de comunidades de fé, entendidas
como lugar do acolhimento fraterno e da escuta da Palavra de Deus, transformando vidas
e criando, pelos valores do Evangelho, as convicções necessárias que geram conversões,
engajam cidadãos solidários e justos.
Esse coração de serviços a partir do
Evangelho significará o fortalecimento de uma Igreja, como indica e quer o Papa Francisco,
não autocentrada, mas capaz de dialogar com todos, articular-se com o diferente, ser
cada vez mais servidora dos pobres e sofredores, em cooperação. Lá estará o conjunto
das obras sociais da Arquidiocese no seu Vicariato Episcopal para Ação Social e Política,
que se articula e incentiva o desenvolvimento de tantas outras iniciativas, de diversas
paróquias e instituições, pequenas e grandes, de muitos lugares. Também será lugar
dedicado à expansão da Rede Catedral de Comunicação Católica, para fazer, como recomenda
Jesus, seu Evangelho proclamado. Espaço importante para a arte e a cultura, com o
inteligente projeto do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, bem como da educação,
sendo coerente com a tradição da Arquidiocese de formação integral.
A Catedral
Cristo Rei será a Casa do Povo de Deus, isto é, de todos. Um espelho maior do que
deve ser cada comunidade, em diálogo, cooperação e amor. Conto com a participação
efetiva de cada um, em profunda comunhão e simplicidade, neste caminho bonito que
levará à edificação da Catedral Cristo Rei, uma obra em nossas mãos.
Dom Walmor
Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte