Francisco, a riqueza e a beleza da Igreja latino-americana
Cidade
do Vaticano (RV) – Papa Francisco completa nesta quarta-feira 20 dias de pontificado,
e continua ‘se apresentando’ ao mundo. A cada discurso, homilia ou presença pública,
aprendemos a conhecê-lo. Em suas primeiras aparições, falou várias vezes do ‘porquê’
da escolha do nome Francisco. O Pontífice também usa termos como ‘cuidar’ no sentido
de zelar, custodiar, conservar, para abordar temas como a natureza, a família e as
nossas relações cotidianas.
Primeiro Papa latino-americano da história da Igreja,
Francisco tem algo de novo a trazer, que não se limita ao modo de falar. A espiritualidade
e da religiosidade latino-americanas são componentes marcantes, que certamente enriquecem
toda a Igreja. É o que pensa o bispo de Camaçari, na Bahia, e Presidente da Comissão
Episcopal para a Família, Dom Giancarlo Petrini.
“O Papa Francisco tem uma
carga humana muito forte, muito elevada, que aparece com o sorriso, com a simpatia
e a descontração. Ele tem um modo de falar que embora não seja tão erudito, muitas
vezes acaba chegando diretamente ao coração das pessoas.
Quando se
fala de ‘cuidar’, esta é uma palavra muito utilizada, especialmente na sociologia,
no serviço social, na psicologia, para falar das relações familiares. Isto quer dizer
que ele certamente acompanha o que se pensa no mundo laico a respeito da família,
e pega o melhor. Escolheu esta palavra ‘cuidar’, que é certamente significativa de
uma atitude de acolhimento, de cuidado, ou seja, de caridade fraterna, porque nas
relações humanas, inclusive na família, tende a prevalecer a correria, a pressa, pela
qual parece que ninguém interessa a ninguém. Cada um deve se virar, e fundamentalmente
a vida se torna muito solitária, uma tremenda solidão. O Papa Bento falava de deserto.
O que vejo é que o Papa Francisco está chegando ao coração das pessoas
de uma maneira simples, mas eficaz. Certamente a figura do Papa Francisco é uma figura
que alcança as pessoas, porque é como se fosse um Pai que dá um conselho, ou uma pessoa
com grande sabedoria, um irmão mais velho, que diz: ‘veja, é assim que se faz’.
A
característica dele é não intimidar, não colocar distância, não exaltar ou não fazer
sentir a distância que às vezes, diante de uma figura institucional grandiosa como
o sucessor de Pedro, as pessoas sentiam. Isto é uma grande riqueza e nós entendemos
que um latino-americano no lugar de Pedro certamente poderá valorizar a riqueza e
a beleza da Igreja na América Latina: uma participação popular mais intensa e apaixonada,
uma maneira de viver, por exemplo, a Eucaristia e os diversos momentos da Igreja com
muito canto, com muita alegria e participação.
Ao mesmo tempo, nós
vemos esta postura mais pastoral, mais paternal, mais de homem que se dirige ao homem
comum, ao trabalhador, àquele que se sacrifica para cuidar dos filhos. Parece que
este é o interlocutor que ele escolheu: não os grandes, que orientam o pensamento,
aqueles que decidem as palavras de ordem que discorrem em todas as páginas dos jornais
e das revistas. Francisco escolheu como seu interlocutor o homem e a mulher que em
sua simplicidade procuram acertar o passo de um equilíbrio para fazer escolhas com
sabedoria e que podem encontrar em Jesus Cristo a verdadeira luz que ilumina o próprio
caminho; aquela sabedoria que facilita as escolhas e as decisões que uma pessoa normalmente
faz”.