CIMI divulga nota sobre ação do Governo Federal contra o povo Munduruku
Brasília (RV) - Na última quarta-feira, 27 de março, o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) divulgou uma nota sobre a decisão do Governo Federal de criar uma
estrutura para impedir toda forma de manifestação das populações afetadas por grandes
projetos.
Foi no último dia 12, quando a presidente Dilma Rousseff baixou
um decreto que criou o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do
Meio Ambiente.
Este decreto regulamenta a atuação das Forças Armadas na proteção
ambiental, com a criação da Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de
Segurança. De caráter preventivo ou repressivo, este grupo tem em suas atribuições
o "auxílio à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais
negativos".
De acordo com o Cimi, isso na prática significa a criação de um
instrumento estatal para reprimir toda e qualquer ação de comunidades tradicionais,
povos indígenas e outros segmentos populacionais que se posicionem contra empreendimentos
que impactem seus territórios".
A seguir, a íntegra da nota do Cimi:
Nota
Pública – Governo Federal monta nova operação de guerra contra o povo Munduruku
Brasília, 27 de março de 2013
Depois de sofrer ataque da Polícia
Federal em novembro de 2012, durante a Operação Eldorado, que resultou no assassinato
do indígena Adenilson Kirixi e na destruição da aldeia Teles Pires, o povo Munduruku,
que vive na divisa do Pará com o Mato Grosso, está prestes a sofrer mais um violento
ataque policial e militar. De acordo com informações de observadores locais, cerca
de 250 homens fortemente armados estão posicionados em Itaituba (PA) para a realização
da agora denominada Operação Tapajós.
Após receber sinal verde da presidenta
Dilma Rousseff, um contingente com agentes da PF, Força Nacional, Polícia Rodoviária
Federal e Força Aérea foi deslocado para as proximidades da Terra Indígena Munduruku
com o objetivo de realizar - à força - o estudo integrado de impactos ambientais para
a construção do chamado Complexo Hidrelétrico do Tapajós.
Há alguns anos o
povo Munduruku vem se posicionando firmemente contra qualquer empreendimento envolvendo
o referido Complexo Hidrelétrico em suas terras já demarcadas ou tradicionalmente
ocupadas. Os procuradores da República que denunciaram à Justiça Federal de Santarém
a flagrante ilegalidade da Operação Tapajós são os mesmos que investigam os danos
da Operação Eldorado; dizem temer por uma repetição do deplorável episódio. Afirmam
os procuradores que o clima é de tensão.
Entre os dias 18 e 23 de fevereiro,
20 lideranças Munduruku estiveram em Brasília para cobrar reparações dos danos causados
pela Operação Eldorado e, apesar da insistência do governo, se negaram a discutir
a construção de usinas hidrelétricas. Na ocasião, o ministro Gilberto Carvalho afirmou
que a negativa dos indígenas era ruim para o governo, mas ficaria ruim também para
eles, Munduruku. No dia 12 de março, a presidenta Dilma Rousseff baixou o decreto
nº 7.957 – que cria o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio
Ambiente, regulamenta a atuação das Forças Armadas na proteção ambiental e altera
o Decreto nº 5.289, de 29 de novembro de 2004.
Com esse decreto, “de caráter
preventivo ou repressivo”, foi criada a Companhia de Operações Ambientais da Força
Nacional de Segurança Pública, tendo como uma de suas atribuições “prestar auxílio
à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos”.
Na prática isso significa a criação de instrumento estatal para reprimir toda e qualquer
ação de comunidades tradicionais, povos indígenas e outros segmentos populacionais
que se posicionem contra empreendimentos que impactem seus territórios.
Com
essas medidas, o governo federal demonstra claramente que não está disposto a ouvir
as populações afetadas pelos grandes projetos, a exemplo das obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Substitui os instrumentos legais de escuta às comunidades
- como a consulta prévia assegurada pela Convenção 169 da OIT - pela força repressora
do Estado e transforma os conflitos socioambientais em casos de intervenção militar.
Dessa forma, os direitos dos povos passam a ser tratados como crimes contra a ”ordem
pública”, caminhando para um Estado de Exceção.
Essas ações do governo brasileiro
confirmam a tese apresentada pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos quando afirma
que atualmente vivemos em sociedades politicamente democráticas, mas socialmente fascistas,
onde toda dissidência é criminalizada.
Em plena Semana Santa, Cristo segue
seu calvário e é crucificado junto com os Munduruku e os demais povos indígenas no
Brasil.