Card. Comastri: Papa visitou Necrópole para respirar clima da primeira hora cristã
Cidade do Vaticano (RV) - Uma viagem no tempo na história cristã para respirar
a atmosfera do lugar que viu o martírio de Pedro. Foi esse o sentido da visita que
por cerca de 45 minutos o Papa Francisco fez nesta segunda-feira à Necrópole Vaticana.
Entrevistado pela Rádio Vaticano, quem nos descreve a visita e destaca alguns comentários
do Papa é o arcipreste da Basílica Vaticana, Cardeal Angelo Comastri. Eis o que disse:
Cardeal
Angelo Comastri:- "O Papa quis ver o ponto nascente do Pontificado romano, no
qual a Providência hoje quis inserir também a sua pessoa. Iniciamos a visita pela
Cripta Vaticana e descemos até a Necrópole fazendo um salto para trás de 1.800 anos.
A primeira parada deu-se diante do Mausoléu dos Egípcios, que remonta ao final do
Séc. II. Neste Mausoléu há também uma sepultura cristã em meio a tantas outras sepulturas
pagãs. E essa é uma prova evidente que o cristianismo, justamente como um fermento,
estava entrando no mundo pagão. O Papa ouviu e depois exclamou: "Assim se dá também
hoje: somos um fermento em meio ao mundo pagão". Em seguida, detivemo-nos diante da
lápide funerária de um homem chamado Istatilio – está escrito "Istatilius". Era um
cristão e encontra-se escrito sobre ele: "Sempre se entendeu com todos e jamais causou
desavenças, nunqua rixatus est". O Papa exclamou: "Um bonito programa de vida!"
Quando chegamos ao lugar da sepultura do Apóstolo Pedro, o Papa estava visivelmente
comovido. Observou atentamente a parede branca repleta de grafitos, que fazem referência
à devoção pelo Apóstolo Pedro sepultado naquele lugar."
RV: Que impressão
o senhor teve com essa visita do Papa, chamado a conduzir a Igreja no Séc. XXI, vendo-o
em oração diante do túmulo de Pedro?
Cardeal Angelo Comastri:- "Sem
dúvida, isto mostra que na Igreja existe uma continuidade. Após cerca de dois mil
anos, o Sucessor de Pedro, com o mesmo entusiasmo do início, mas também – como ele
mesmo disse – com a mesma fragilidade do início, encontra-se aqui, neste lugar, continuando
uma missão premente: a missão de ser a pedra sobre a qual Jesus constrói a sua Igreja.
Percebia-se que o Papa sentia muito essa responsabilidade: olhou atentamente tudo
aquilo que fazia referência a Pedro, quase para respirar o clima do martírio, do testemunho
do Apóstolo Pedro."
RV: Na Necrópole Vaticana encontra-se o túmulo de Pedro,
mas há também as pedras dos túmulos dos primeiros cristãos. A seu ver, que mensagem
essas pedras constituem para o mundo de hoje, tão comumente indiferente à própria
memória histórica e religiosa?
Cardeal Angelo Comastri:- "O lugar
da sepultura dos mártires é um lugar que impressiona e que também provoca. Recordo-me
anos atrás, quando eu era arcebispo de Loreto, um jovem egípcio que veio para o encontro
dos jovens das margens do Mediterrâneo. Disse-me: "Para vocês, na Itália, a fé não
custa nada, por isso vocês não a apreciam. Nós, no Egito, colocamos a vida em risco
toda vez que vamos à igreja". Hoje, talvez, visitando os túmulos dos mártires nos
vem sempre mais em mente que um clima de perseguição está se difundindo em todos os
lugares e, pode ser que volte a ser perigoso professar a fé. Mas isso, em certos aspectos,
não constitui um impedimento para a Igreja, mas um grande recurso. Porque a fé que
se torna difícil, torna-se heróica, e a fé heróica torna-se um grito forte, um testemunho
forte em favor de Jesus." (RL)