Cidade do Vaticano
(RV) - O relato da Paixão, segundo João, destaca a liberdade de Jesus, mostrando
que é ele quem se entrega por amor a nós.
O autor do IV Evangelho procura
apresentar Jesus como Messias e Filho de Deus. Para entrar no sinal definitivo, o
da morte na cruz, João inicia e conclui seu relato usando como cenário um jardim.
Começa
com a agonia no jardim das oliveiras e termina com o sepultamento no jardim próximo
ao Gólgota. João quer com isso recordar o Jardim do Édem onde o Homem disse não a
Deus e onde imediatamente foi prometida a redenção, quando Deus falou com a serpente:
“Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela
te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.” Ali estava a árvore do bem e do
mal, da autonomia moral, e no Calvário está a árvore da Vida, da subordinação livre
e amorosa ao Pai.
O ser humano ou acata a soberania de Deus e lhe é submisso,
ou se rebela e transforma o mundo ao seu bel prazer, desordenando o sentido da natureza
e proporcionando o caos, mais ético e moral do que outra coisa.
Quando Pilatos
pergunta ao Senhor sobre sua realeza, Jesus a confirma, acrescentando que veio para
dar testemunho da verdade, isto é, ser fiel ao projeto do Pai em relação ao mundo.
Ao acrescentar “o meu reino não é deste mundo”, ele desqualifica o poder exercido
pela opressão, pela sujeição dos mais fracos, a sociedade dividida entre vencidos
e vencedores, entre ricos e miseráveis, e enaltece o amor e o perdão, a inclusão dos
marginalizados. Jesus rejeita a cultura e a sociedade onde reina a morte e proclama
o Reino da justiça, do amor, da verdade, da paz, enfim, o Reino da Vida.
Jesus
aceita a cruz e a transforma em dom de amor, em revelação do Amor de Deus por todos
nós. De fato, o sacrifício redentor de Cristo – cuja Paixão celebramos nesta Sexta-feira
Santa – é a expressão máxima desse Amor. (CAS)