Cidade do Vaticano
(RV) - O Evangelho de João, utilizado para a missa da tarde, mostra que a Páscoa
de Jesus não está relacionada com a Páscoa judaica. João não menciona essa páscoa
e nem Jerusalém. Para João, a verdadeira Páscoa é a celebrada por Jesus com sua morte.
Ao
sentar-se à mesa com seus discípulos, Jesus explicita partilha de vida e de ideais.
Isso deveria vir à nossa mente e ao nosso coração quando nos dirigimos a alguma celebração
eucarística. Só posso celebrá-la se minha vida é uma constante partilha não só daquilo
que tenho, mas principalmente daquilo que sou, partilha de mim mesmo como dom.
João
inicia falando da “hora” de Jesus, do amor extremo do Senhor pelos seus e imediatamente
mostra que esse amor é concreto e culmina com a cruz.
Jesus ensina que o
serviço é amor e quem mais serve é porque mais ama. Ele assume o papel que era atribuído
ao escravo gentio e vai lavar os pés de seus discípulos. Pedro, chocado com o que
vê, reage peremptoriamente, mas Jesus lhe diz: ou deixa que eu lave seus pés e aceita
a nova sociedade onde o súdito é igual ao patrão, ou você não participará do projeto
de Deus, da adesão ao Jesus-servo.
Ser cristão é ser servo dos outros!
Pedro
precisa mudar sua cabeça. Apesar de servo, tem cabeça de patrão. Está inserido na
sociedade classista onde o maior deverá ser servido pelo menor, onde há superiores
e inferiores. Cristo inaugura a nova sociedade, a dos filhos de Deus, a dos irmãos
em Cristo.
Jesus volta à mesa, isto é, retoma a posição de homem livre - só
os livres se sentam à mesa -, mas não retira o avental. O símbolo do servo, o avental,
ele o conserva sob o manto. Jesus comenta o que fez, assume que é o Mestre e Senhor
de todos e proclama a ordem da nova sociedade: lavar os pés uns dos outros.
Jesus
concluirá o lava-pés na cruz, quando de fato nos purificará, nos possibilitará a entrada
na Casa do Pai. O entregar-se vai muito além do simples serviço. Entregar-se é dar-se
como dom, como dom de si para o outro.
Nisso está o amor. De fato, a entrega
de Jesus na cruz para a nossa Redenção – sacrifício que estamos para celebrar – é
expressão máxima do Amor de Deus por todos nós.