O sacerdote que não sai de si mesmo...torna-se num gestor" - o Papa Francisco na homíia
da Missa Crismal de Quinta-Feira Santa
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O Papa Francisco
celebrou na manhã desta Quinta-feira Santa a Missa Crismal na Basílica de São Pedro
onde estiveram presentes os sacerdotes de Roma. Nesta missa os santos óleos estão
no centro da ação litúrgica. São consagrados pelo Bispo para o ano inteiro. Assim,
exprimem também a unidade da Igreja, garantida pelo Episcopado e aludem a Cristo,
o verdadeiro “pastor e guarda das nossas almas”, como o chama São Pedro (cf. 1 Pd
2,25). E, ao mesmo tempo, mantêm unido todo o ano litúrgico, ancorado no mistério
de Quinta-Feira Santa. Na sua homilia, o Papa Francisco falou da simbologia dos
ungidos, seja na forma, seja no conteúdo. A beleza de tudo o que é litúrgico, explicou,
não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso
Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado. “O óleo precioso, que unge
a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo, mas espalha-se e atinge «as periferias».
O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e
quantos estão tristes e abandonados. A unção não é para perfumar a nós mesmos, e menos
ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração
amargo.” E assim o Papa Francisco dirigiu-se aos sacerdotes ali presentes dizendo: "o
bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo: “Nota-se quando o povo
é ungido com óleo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem
recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção,
quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo
de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as periferias»
onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé”.
Ser sacerdote é ir ao concreto da vida das pessoas e estas agradecem: As
pessoas agradecem-nos porque sentem que rezámos a partir das realidades da sua vida
de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. Não
é nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor, adverte o Santo Padre, nem
mesmo nos cursos de autoajuda. O poder da graça cresce na medida em que, com fé, saímos
para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção
que temos àqueles que nada têm. “O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que
unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais
profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador,
torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. Daqui deriva precisamente a insatisfação
de alguns, em vez de serem pastores com o «cheiro das ovelhas», pastores no meio do
seu rebanho, e pescadores de homens.” Para enfrentar a crise de identidade
sacerdotal, que se soma à crise de civilização, Papa Francisco convida a lançar as
redes em nome Daquele em que depositamos a nossa confiança: Jesus. E conclui:
“Amados fiéis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afeto e a oração, para
que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus. Amados sacerdotes, Deus Pai renove
em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso coração de
tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas «periferias» onde o nosso povo fiel
mais a aguarda e aprecia”. (R.S.)