Teólogo Bux: Papa Francisco é testemunha da Misericórdia do Senhor
Cidade do Vaticano (RV) - Testemunhar a Misericórdia do Senhor. Esse é um dos
temas candentes do Papa Francisco desde o primeiro dia de seu ministério petrino.
Trata-se de uma dimensão que, na realidade, sempre esteve presente na vida do pastor
Jorge Mario Bergoglio. Por outro lado, a evocação à Divina Misericórdia é uma constante
em todos os pontífices recentes, como ressalta o teólogo Pe. Nicola Bux, entrevistado
pela Rádio Vaticano:
Pe. Nicola Bux:- "A reflexão não pode deixar de
partir, ao menos em tempos mais próximos a nós, da "Dives in Misericordia" de João
Paulo II: a sua segunda encíclica, que foi toda centralizada na misericórdia, porque
– como sabemos – João Paulo II fez da misericórdia, de certo modo, o seu programa.
Todos sabem que ele expirou justamente no sábado da Divina Misericórdia de 2005. Ele
foi um apóstolo – podemos dizer – da misericórdia. Portanto, o Magistério do novo
Pontífice tem já, por assim dizer, o terreno preparado. Isso deve ser dito porque
por vezes, no início de um Pontificado, se tende a esquecer o que já foi feito, quase
buscando a todo custo uma novidade ou uma descontinuidade. Isso deve ser levado em
consideração porque – como foi dito nestes dias – os papas se sucedem, porque pertencem
à Sucessão Apostólica na Sé de Roma, dos bispos de Roma, mas o Papado continua."
RV:
Se a misericórdia une de modo imediato Francisco a João Paulo II, o aspecto da ternura,
da doçura, que é justamente uma expressão visível da misericórdia, talvez una de modo
imediato Francisco a Bento XVI...
Pe. Nicola Bux:- "Sim, sem dúvida
se pode dizer isso, mas para mim, por exemplo, a imagem do Papa Francisco que vai
até a multidão me fez recordar imediatamente a imagem de Pio XII que vai até a multidão
após os bombardeios sofridos no bairro romano São Lourenço (na II Guerra Mundial,
ndr) e, cercado de pessoas, reza, acaricia, conforta... Para não falar do Papa
João XXIII. Creio que a misericórdia seja uma constante da Igreja; ademais, cada Pontífice
tem um estilo e uma ênfase própria, que deriva da sua experiência, bem como do próprio
caráter. Não há dúvida que também a mansidão e a ternura, embora na diversidade de
caráter – muito mais reservado em Bento XVI, parecem, ao invés, muito mais expansiva
no Papa Francisco –, nos propõem aquilo que os exegetas chamam a compaixão do Senhor,
o Senhor que teve compaixão da multidão: "Misereor super turbam", diz o Evangelho,
ou seja, "tive compaixão da multidão".
RV: Poder-se-ia dizer que este é
o elemento fundamental: trata-se da Misericórdia do Senhor, não do Papa...
Pe.
Nicola Bux:- "Exato! A misericórdia do Senhor porque o Papa é e deve ser expressão
da misericórdia do Senhor: ele é chamado vigário de Cristo não por exclusão, porque
todos os bispos são vigários de Cristo, como diz o Vaticano II. É claro que quando
se usa esta expressão é evidente que os pastores são todos expressão do "grande Pastor
das ovelhas", como diz São Pedro: maximamente o bispo de Roma, que se senta na Cátedra
de Pedro, deve expressar essa caridade sem limites." (RL)