Simplicidade confere a Francisco autoridade moral para falar das injustiças sociais.
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Cidade do Vaticano
(RV) – O Papa Francisco recebe esta sexta-feira, na Sala Regia, no Vaticano, o
Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé.
É a primeira audiência do novo
Papa aos embaixadores; entre eles, o representante do Governo brasileiro, Almir Franco
de Sá Barbuda.
Para uma análise sobre de que modo o estilo do novo Papa pode
influenciar a ação da Santa Sé com os 180 países com os quais mantém relações diplomáticas,
a Rádio Vaticano contatou o Presidente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais,
Pe. José Carlos Brandi Aleixo.
Ele fala de continuidade com os Papas anteriores,
mas ressalta que a simplicidade de Francisco que dá uma autoridade moral muito grande
para falar das injustiças sociais e do subdesenvolvimento moral:
Eu creio
que há muito de continuidade no relacionamento dos Papas com o Corpo Diplomático,
com os chefes de Estado, com os problemas básicos da humanidade, com os problemas
que ele tem mencionado: o problemas da justiça, da paz e do desenvolvimento. Há uma
continuidade. Ele tem um perfil próprio, inclusive vindo de uma cidade metropolita,
como é Buenos Aires, onde ele teve um relacionamento também com representantes de
vários países que lá se encontram, bem com diversos setores da Igreja. Ele acompanhou
de perto os católicos de rito oriental. Então ele tem uma preparação importante, vinda
da experiência da cidade cosmopolita que é Buenos Aires – uma grande cidade, com muita
cultura, e também com os desafios de contrastes sociais que há em outras grandes cidades
do mundo. Creio que, sendo latino-americano, ele levará essa formação para os problemas
mundiais. A América Latina é uma das partes mais importantes do mundo e ele tem essa
experiência das Conferências Episcopais latino-americanas, inclusive esteve no Brasil,
em Aparecida. Toda essa preparação vai ajudá-lo na condução da Igreja internamente
e no seu relacionamento com os outros povos.
Cabe até lembrar que a
Santa Sé tem desempenhado um papel grande na promoção da paz e o Papa João Paulo II
foi mediador num difícil conflito entre Argentina e Chile, que felizmente chegou a
bom termo. Então essa contribuição para a paz continuará, de acordo com as circunstâncias
do século XXI. Eu creio também que seu despojamento, a sua simplicidade lhe dão uma
autoridade moral muito grande para falar dos desafios, dos contrastes, das injustiças
sociais, do combate à fome – ideais que outros Papas desenvolveram. Paulo VI, na Populorum
Progressio, falou da importância do desenvolvimento de todos os homens,
de todos os seres humanos e de todo o ser humano. Não pode haver um verdadeiro desenvolvimento
se a pessoa não for moralmente rica. A usura, o apego ao dinheiro é uma forma de subdesenvolvimento
moral. O Papa tem todas essas condições para dar uma contribuição. A Igreja se chama
Católica, isso quer dizer que ela é universal. Ela é aberta a todos os povos, a todas
as regiões, a todos os seres humanos. Creio que o Papa Francisco vai poder dar uma
grande contribuição para a paz e a justiça no mundo.
Pe. Aleixo fala ainda
do conflito no Oriente Médio que, segundo ele, é o que atualmente mais preocupa a
comunidade internacional.