2013-03-21 13:19:03

Card. Napier: "os abusos a menores são um crime horrendo" - declaração esclarece recentes afirmações mal interpretadas


"Os abusos a menores são um crime horrível contra as crianças, as suas famílias, a Igreja e a sociedade", é o que escreveu, num comunicado oficial, o Cardeal. Wilfried Napier, Arcebispo de Durban, na África do Sul. A sua declaração vem depois de uma entrevista que ele concedeu a uma emissora radiofónica, durante a qual as suas palavras foram mal interpretadas, resultando no surgimento de uma posição errada da Igreja, isto é, como se ela visse na pedofilia um transtorno mental, mas não um crime. Pelo contrário, na sua nota, o Cardeal Napier reitera que os abusos a menores são um crime e que, como tais, "devem ser tratados segundo as exigências do Código Penal e do Direito Canónico", para depois serem submetidos à análise da Congregação para a Doutrina da Fé, que agirá consequentemente. O purpurado explica também que ele tinha sido contactado pela emissora radiofónica para uma entrevista sobre o Papa Francisco e o Conclave em geral. Só mais tarde, o entrevistador pediu ao Arcebispo de Durban um comentário sobre possíveis reformas que o novo Pontífice poderia fazer na vida da Igreja e em particular a questão dos abusos a menores. "Eu disse pelo menos duas vezes - escreve na sua nota o Cardeal Napier – que eu não sou uma pessoa qualificada para explicar o que é a pedofilia e não me foi dado o tempo para dizer que a principal preocupação pastoral deve ser sempre para as vítimas dos abusos". Portanto, acrescenta o Cardeal: "A questão principal era e ainda é a seguinte: os abuso sexuais a menores são um crime hediondo mais do que qualquer outro, porque causam dano a uma criança". Concluindo a sua nota com a explicação de que ele a difundiu para fazer entender "o contexto da entrevista e as acções que a Igreja faz contra a pedofilia", o Cardeal. Napier exprime finalmente as suas desculpas "a todos aqueles que se sentiram ofendidos por esta falsa entrevista, em particular às vítimas de abusos, as quais precisam de toda a ajuda e apoio que a Igreja pode dar" (PIRO)


Do site da Conferência Episcopal da África do Sul a versão original:
Antes de tudo, quero confirmar que estou plenamente de acordo com a posição da Igreja que:
    O Abuso Sexual a Menores é um crime horrendo contra as Crianças, as suas Famílias, a Igreja e a Sociedade.
    Deve ser tratado segundo as exigências do Código Penal e do Direito Canónico.
    Do mesmo modo, uma vez que a existência de crime foi verificada através de investigação minuciosa feita por investigadores independentes contratados pelo Comité de Conduta Profissional, a questão é levada às autoridades civis, quer a polícia, o Departamento para o bem-estar das Crianças ou um Empregado Social, para que uma acção criminal civil possa ter lugar.
    Uma vez concluída a acção civil a Igreja local submete o caso à Congregação para a Doutrina da Fé (CDF).
    E’ levada a cabo a acção determinada pela CDF.

Entrevista da “Radio 5 em Directo” da BBC

Na sexta-feira à noite, pelas 21.45h recebi um pedido da Rádio BBC para falar sobre a eleição do Papa Francisco. Como eu já tinha feito isso por mais de uma dezena de vezes aceitei.
A entrevista feita por Stephen Nolan da “Radio 5” começou com uma discussão geral sobre o Conclave, a atmosfera na Capela Sistina, etc. Em seguida Stephen perguntou o que o Papa Francisco precisava fazer para reformar a Igreja com particular referência aos abusos sexuais a crianças. Aceitei a pergunta como tinha feito com outras entrevistas.
Falei da minha própria experiência. No início dos anos ‘90 a opinião médica dos especialistas era que a pedofilia era uma condição que podia ser tratada, e até mesmo curada. Por isso, os culpados poderiam voltar ao ministério depois do tratamento. Com experiência de que a opinião médica evoluiu ao ponto de dizer que, se por um lado os culpados poderiam ser tratados, por outro a sua condição não era curável; na verdade, até o próprio tratamento nem sempre era bem sucedido. Por conseguinte o regresso ao ministério não era uma opção.
Para ilustrar a complexidade da questão, levantei a questão de um culpado que tinha sido ele mesmo abusado, e tendo em mente um caso particular opinei de que ele precisaria mais de tratamento que de punição. E aí é quando o problema começou.
Agora eu sou acusado de ter dito que a pedofilia é uma condição ou desordem mental e não um crime. Pelo menos por duas vezes eu disse que eu não era qualificado de dizer o que é a pedofilia, mas isto passou despercebido no calor da discussão.
A questão principal era e ainda é: o abuso sexual a menores é um crime horrendo entre outras coisas por causa do dano que faz à criança. Na mesma preocupação eu incluo o abusado que se tornou abusador.
Se ele precisa (ou não) de ajuda médica, tanto quanto se não mesmo mais que de punição, é uma questão que ainda deve ser respondida pelos especialistas médicos.
Será que o dano sofrido pelo abusado afecta de algum modo a sua culpabilidade perante uma lei do tribunal? E ainda, só os especialistas nos podem dar uma resposta. Eu não estou qualificado, mas será que não tenho o dever de perguntar no lugar do abusador abusado?
Depois do programa chamei Stephen no Sábado mas sem sucesso. Pelas 23.30h alguém da “Radio 5 em Directo” telefonou para dizer que eu podia ir ao Programa para esclarecer a questão. Isso foi feito, mas sem demasiado sucesso visto que a entrevista mais uma vez se transformou num interrogatório.
Pedi para falar com um superior e protestar formalmente sobre a decepção de ter sido perguntado sobre a eleição quando a agenda era o abuso à criança. O chefe da Redacção Paul pôs-me em comunicação com Philo que me deu a oportunidade de ouvir o clip gravado pouco antes e fez ulteriores esclarecimentos.
Enquanto faço esta declaração para dar o contexto à entrevista e também àquilo que a Igreja agora está a fazer contra os abusos sexuais a menores, peço desculpas sinceramente e sem reservas àqueles que se sentiram ofendidos pela improvisada entrevista, e sobretudo àqueles que foram abusados e precisam de toda a ajuda e apoio que a Igreja pode dar.

+ Wilfrid Cardeal Napier OFM
Arcebispo de Durban








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