Jales (RV) - Chega ao fim a grande expectativa. Na pessoa da Cardeal Jorge
Mario Bergoglio temos o novo Papa, que escolheu o nome de Francisco.
Sua eleição
pegou todo mundo de surpresa. Por mais que as especulações tivessem desenhado diversos
cenários para o desfecho do conclave, ninguém apostava no Cardeal Bergoglio. Quando
muito, alguns ponderavam que ele poderia, isto sim, influenciar eleitores, levando-os
a se inclinarem para um lado ou para outro. Mas ninguém imaginava que os votos convergissem,
tão rápido, para ele mesmo.
O conclave teve a mesma duração do anterior, quando
foi eleito o Cardeal Ratzinger, dois dias de cinco votações. O mesmo número de agora.
Mas com uma diferença muito significativa: da outra vez, o Cardeal Ratzinger era franco
favorito. Desde vez, a proeza de Bergoglio foi muito mais expressiva. E denota um
apoio massivo e rápido, que os cardeais lhe deram.
Na busca de entender o
que aconteceu, e de projetar o que vai acontecer, ficamos atentos a todos os acenos,
alguns mais, outros menos evidentes.
O nome, por exemplo, que ele assumiu,
revela uma clara identificação com um leque de valores evangélicos e eclesiais testemunhados
por São Francisco de Assis. Entre os quais está, sem dúvida, a simplicidade de vida,
que caracteriza a personalidade do novo Papa, que ele vivencia não só de maneira espontânea,
mas também assumida, como ele fez questão de enfatizar com a escolha deste nome.
Outra
insistência, em suas breves palavras de apresentação como Papa diante da multidão
na Praça São Pedro, foi a maneira como ele se referiu ao Papa Bento XVI, chamando-o
de “bispo emérito de Roma”. E depois, ao se referir à função do conclave, afirmou
que ele tinha a missão de encontrar um “bispo para a Roma”.
Esta insistência
em vincular a missão do Papa com sua condição de “Bispo de Roma” é muito significativa.
Ela aponta para uma prática da “colegialidade episcopal”, em que cada bispo está vinculado
a uma “Igreja Particular”, sendo que a Igreja no mundo resulta da comunhão de todas
as Igrejas Locais, de onde emerge a importância especial da Igreja de Roma, como símbolo
da comunhão fraterna entre todas as Igrejas.
Em todo o caso, esta insistência
revela um claro posicionamento eclesial, que sinaliza para a retomada da renovação
empreendida pelo Concílio Vaticano II.
Outra observação pode ser feita, conferindo
sua idade, e o fato já ter sido candidato a Papa no outro conclave. Os cardeais estão
ainda apostando em membros da “velha guarda”. Os novos, talvez mais vistosos, e mais
capacitados, não estão ainda recebendo esta incumbência.
Isto parece sugerir
que existe uma conta a pagar, que vem da geração anterior, e que podemos identificar
com o desafio de retomar as generosas propostas de reforma eclesial, sugeridas pelo
Concílio.
Tudo indica, portanto, que a eleição do Papa Francisco avaliza um
ambiente mais aberto e mais receptivo à retomada do Concílio, nas formas que esta
iniciativa poderá comportar.
Outra atitude surpreendente do Papa Francisco
foi na hora de dar a famosa bênção “Urbi et Orbi”, isto é, “para a cidade e para o
mundo”: antes de ele dar esta bênção ao povo, ele mesmo pediu que o povo invocasse
sobre o Papa a bênção de Deus!
Não deixa de ser uma visão de Igreja impregnada
dos ensinamentos do Concílio, que nos falam da Igreja como “Povo de Deus”, onde todos
somos corresponsáveis pela missão.
Em todo o caso, temos pela primeira vez
um Papa da América Latina, pela primeira vez um papa jesuíta, e a primeira vez que
um papa escolhe o nome de Francisco.
Pelo visto, teremos mais novidades pela
frente. Se ele pediu que o povo o abençoasse, vamos dizer ao Papa Francisco: vá em
frente, e conte com a gente!