Card. Braz de Aviz: "Igreja na direção de uma simplicidade maior"
Cidade
do Vaticano (RV) – Um dos membros do Colégio Cardinalício é Dom João Braz de Aviz,
Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida
Apostólica, e arcebispo emérito de Brasília. Ele participou do Conclave e conversou
com Cristiane Murray, dizendo-se muito feliz com a escolha de Papa Francisco. “Nós
tivemos estes poucos momentos juntos, ficamos muito felizes que o conclave foi bastante
rápido, bem parecido com o que elegeu Bento XVI. Em apenas um dia e meio, conseguimos
pensar este perfil, para a Igreja no momento atual. Esta pessoa com a imensa graça
de Pedro, de poder ser o ponto de unidade de toda a Igreja e nos conduzir realmente
a Cristo, ao Pai e ao Filho, a Trindade Santíssima. Nós pensamos, realmente, em estar
disponível àquilo que o Senhor queria dizer para nós. Esta foi uma das notas do Conclave.
Não tivemos nenhum momento de acirramento, de tensão interna; tivemos idéias diferentes,
sim, momentos de escolha, que fizemos em direções diferentes, mas sempre com o desejo
de acertar, e no momento em que o nome do Cardeal Bergoglio começou a vir à tona,
nós começamos a sentir que talvez seria o momento para esta escolha, que é nova, mas
percebemos também nos cardeais que são aqui da Europa esta sensibilidade, e isto para
nós foi muito bonito porque não temos dentro do conclave esta disputa de partes como
muitas vezes a imprensa coloca, ou estas tensões de grupos que servem a um ou outro
grupo. Há estas diferenças, que temos em nossa Constituição e em nossas convicções,
mas há um profundo senso de comunhão, o que permitiu que nós logo logo nos identificássemos
com o nome do Papa Francisco. Foi então uma alegria muito grande. Ontem, enquanto
o cumprimentávamos ou o abraçávamos, havia este sentimento de alegria profunda: vimos
que Deus conduz a Igreja; que Deus tem um lugar no qual onde se manifesta de modo
particular, e é ali, no Conclave, quando nós, cardeais, nos abrimos a isto. Foi um
clima de muita oração, acompanhados por uma Igreja que rezava – isto nos impressionou
muito – vieram notícias de várias partes do mundo de que muitas gente estava rezando.
Este é um patrimônio escondido, que ninguém pode medir o patrimônio do conclave. Estamos
realmente muito felizes. Ontem, no jantar que fizemos com o Papa na Domus Mariae,
uma alegria imensa. Eu penso que será um momento muito belo para a Igreja do Brasil,
da América Latina e também para a Igreja de todo o mundo”.
Podemos agora
pensar numa Igreja com um olhar latino-americano, mais profético?
“Diria
sim, neste momento talvez uma Igreja que vai, como já desejava Bento XVI, na direção
de uma simplicidade maior, de uma fraternidade maior, e acho que será justamente na
base deste testemunho evangélico que é sobretudo o que conta. Este testemunho do Evangelho,
de amor aos pobres, este estar perto como irmãos, uns dos outros, não excluindo ninguém,
criando fraternidade. Eu acho que a Igreja deve caminhar muito para isso, e aqui a
Cúria romana também. Agora, há uma esperança muito concreta de que isso se acelere
muito mais, o que nos deixa muito felizes. Agradeço a todos os que rezaram, de modo
particular no Brasil, mas também em todos os outros países, e agradecer também essa
Igreja que manifesta nesses momentos tanto da renúncia de Bento 16, como agora na
posse de Francisco, a atitude tão profunda de estar perto. Eu via nos olhos de Bento
16, por exemplo, a alegria de ver a Praça que ecoava com ele. Ontem à noite, a mesma
coisa com Francisco. Esta é a Igreja de Deus que dá esperança, que faz pensar que
Deus está agindo e para nós, isto é uma benção, e que Deus abençoe cada um de vocês
que caminharam conosco”.