Drama do tráfico humano abordado por Representante do Vaticano na ONU (Genebra)
O observador do Vaticano junto das instituições da ONU em Genebra, na Suíça, declarou
que a comunidade internacional precisa de “rever” a sua forma de combater o tráfico
humano, sobretudo o relacionado com crianças. Intervindo nesta quinta-feira, na 22ª
sessão do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que abordou também a “prostituição
e pornografia infantil”, D. Silvano Maria Tomasi lamentou que o tráfico humano seja
uma ocupação de “baixo risco”, muito “rentável” e extremamente “tentadora” para aqueles
que encaram as pessoas como simples “mercadorias”. O prelado sublinhou a “clara
necessidade de atualizar a legislação” que regula todo este problema, e defendeu o
reforço da “cooperação a nível regional e internacional”, uma maior “partilha de informações
e de boas práticas” e o combate efetivo à “corrupção e à impunidade”. Em “muitas
partes” do globo e devido a “variadíssimos fatores”, as crianças são os elementos
mais vulneráveis no meio do flagelo que constitui o tráfico humano, por isso o arcebispo
italiano propõe também “a agilização das práticas judiciais” e a criação de mecanismos
que “protejam” os mais novos e garantam a sua “reintegração normal e digna na sociedade”.
O
último relatório da ONU sobre o tráfico humano (2012), adianta que milhões de pessoas
são atualmente vítimas desta situação, para efeitos de “exploração sexual” e também
de “trabalhos forçados”. Provenientes de pelo menos 118 países e com 136 nacionalidades
diferentes, elas são “maioritariamente mulheres” (55-60 por cento) mas o número de
crianças está a “crescer de forma alarmante”, tendo passado dos 20 para os 27 por
cento em pouco mais de quatro anos (os períodos de medição foram 2003-2006 e 2007-2010,
respetivamente). Entre o número global de casos de tráfico humano que estão hoje
devidamente identificados, 58 por cento dizem respeito a situações de exploração sexual,
muitas delas envolvendo crianças alvo de “fantasias sexuais” por parte de adultos.
Segundo
D. Silvano Tomasi, “o fenómeno certamente já não é novo, mas foi recentemente agravado
por uma liberalização dos costumes e comportamentos sexuais” que está em marcha na
sociedade. “Se a definição da liberdade individual continuar a chocar com as fronteiras
éticas que foram definidas pela própria natureza, o tráfico humano e a violação da
dignidade inata das pessoas vão continuar a suceder, e a ação dos Estados não terá
qualquer efeito”, alertou o observador da Santa Sé.