2013-03-12 12:50:35

O Concilio Vaticano II: 50 anos de africanidade na catolicidade da Igreja - Editorial África


Por altura da abertura do Concilio Vaticano II, a 11 de Outubro de 1962, o cristianismo não era uma novidade em África, mas o contexto histórico no qual teve lugar o Concilio (1962-1965) era marcado pela bipolarização do mundo na sequência da II Guerra Mundial e a descolonização da África. A Igreja era chamada a enfrentar os novos desafios nascidos dessas realidades sem todavia renunciar a sua missão evangelizadora.

Assim, ao abrir o Concilio Vaticano II, a Igreja lançava um grande debate sobre o homem contemporâneo nas suas relações consigo próprio, com a sociedade e com Deus. Nesse grande debate, o homem africano, à procura da sua autonomia política, consequência das independências, aspirava à afirmação religiosa para se poder demarcar dessa Igreja que tinha um rosto essencialmente missionário e ocidental. Os católicos, sacerdotes e leigos, sentiam a necessidade de se tornar cada vez mais protagonistas da difusão do Evangelho no seu meio.

O Concilio Vaticano II tornou-se assim num ponto de partida para repensar e redefinir o anuncio do Evangelho em África. Abriu o caminho para uma visão africana do cristianismo no seio da Igreja católica em vista de poder “conciliar o Evangelho e a cultura africana”.

Com o Concilio Vaticano II, a Igreja entrou num profundo processo de reforma a fim de se adaptar a um mundo em pleno crescimento e pondo a tónica nas noções de direitos humanos, da justiça social e da solidariedade; a renovação litúrgica, o papel central da Palavra de Deus, a participação activa dos fiéis leigos, povos de Deus, à vida da Igreja.

No que diz respeito às “Jovens Igrejas”, a verdadeira renovação foi o decreto “Ad Gentes” que as convida “… a irem buscar aos costumes e tradições dos seus povos, à sua sageza, à sua ciência, às suas artes, às suas disciplinas, tudo o que pode contribuir para a profissão da glória do Criador, a pôr em relevo a graça do Salvador e a seguir com a ordem necessária a vida cristã”.

Assim, a Igreja que está em África, tem pela frente um grande desafio a enfrentar: afirmar “a africanidade na catolicidade da Igreja”. Esta nova caminhada deve ser feita em harmonia, deve ser guiada e apoiada pela Igreja universal.

A Igreja da África reforça a sua identidade da Igreja Família de Deus, como fruto da constituição dogmática Lúmen Gentium, que inverteu a visão piramidal da Igreja em “povo de Deus” que caminha em conjunto.

Africae Terrarum, a mensagem que o Papa Paulo VI dirigiu aos povos da África por ocasião da sua visita ao Uganda, a primeira de um Pontífice Romano em terras de África, pode ser considerada como uma etapa importante da vida da Igreja sobre o Continente. No mesmo dia da sua chegada a Kampala, o Papa Montini inaugurou os trabalhos do Simpósio das Conferências Episcopais da África, SCEAM, no qual declarou: “Agora sois os missionários de vós mesmos. A Igreja de Cristo está realmente implantada nesta terra bendita… E dado que sois realmente católicos, podeis e deveis ter um cristianismo africano”.

A convocação do primeiro Sínodo dos Bispos para a África pelo Papa João Paulo II em 1994, durante o qual os temas da inculturação e da Igreja Família de Deus, emanação do Concilio Vaticano II, são desenvolvidos e reforçados sobretudo através da Exortação Apostólica pós-sinodal Africae Munus, sinal duma certa maturidade da Igreja do Continente que deve, depois da afirmação da sua “africanidade na catolicidade” da igreja, empenhar-se na solução dos seus problemas de sociedade que são, de certo modo, ligados a um falso testemunho da mensagem do Evangelho em matéria de justiça, de reconciliação e de paz.

E, para concluir, não se pode não concordar sobre o facto de que um dos frutos visíveis do Concilio Vaticano II em África é este crescimento do dinamismo e da visibilidade das Igrejas locais africanas que fazem com que, não obstante os numerosos problemas ligados de modo particular à reconciliação, à justiça e à paz, o Papa Bento XVI as qualifique de “pulmão espiritual para a humanidade que parece estar em crise de fé e de esperança”.

Neste momento em que o mundo inteiro está de olhos virados para Roma e vive um clima de expectativa de um novo sucessor de Pedro, a maturidade da Igreja africana se manifesta, sente-se que tem muito a dar em relação aos desafios, antigos e novos, aos quais a Igreja será confrontada sobretudo ao longo desde ano dedicado à fé e no âmbito da Nova Evangelização.

Marie José Muando Buabualo
Programa Francês/África








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