2013-03-10 10:06:56

Os afrescos da Capela Sistina: testemunhas e inspiradores das eleições dos Papas


Cidade do Vaticano (RV) – Estão posicionados na Capela Sistina, fechada ao público desde terça-feira última, os dois braseiros (salamandras) que servirão, um para queimar as cédulas de votação e o outro para sinalizar com fumaça branca a eleição do novo Papa.

Nos dias passados, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, chamou a atenção para a obra poética de João Paulo II “Tríptico Romano”, nascida da contemplação dos afrescos de Michelangelo. O Papa Wojtyla recorda na obra como as pinturas de Michelangelo tenham inspirado os Cardeais nos dois Conclaves dos quais participou.

“Exatamente aqui, aos pés desta policromia sistina, se reúnem os Cardeais, uma comunidade responsável pela entrega das chaves do Reino. Michelangelo ainda os envolve com sua visão. Foi assim em agosto e outubro do memorável ano dos dois Conclaves e assim ainda será. É necessário que a visão de Michelangelo fale a eles”. A ligação entre arte e fé, sempre evidenciada por João Paulo II, assume um caráter todo particular nos versos poéticos do “Tríptico Romano”, nascidos da contemplação dos afrescos da Capela Sistina, local onde se realiza a eleição do Sumo Pontífice. Na introdução da obra de João Paulo II, o então Cardeal Ratzinger recorda aqueles dois Conclaves e como estes foram inspirados pelos afrescos de Michelangelo.

A Rádio Vaticano perguntou ao Diretor dos Museus Vaticanos, Antonio Paolucci, se a arte pode desempenhar algum tipo de influencia no Conclave:

A. Paolucci: “Os afrescos da Capela Sistina são a doutrina da Igreja colocada em imagens, do 'Fiat lux' ao Apocalipse, está alí o Novo Testamento e o Antigo, está alí o juízo para todos e para cada um. Tudo isto está representado em cerca de 2.500 m2 de afrescos sistinos. Se os Cardeais eleitores tiverem olhos para ver, compreenderão a delicadeza do seu papel e a importância da sua decisão. É por isto que a Capela Sistina foi decorada com aquelas imagens. O Papa que a sonhou, Sisto IV, desejou que aquela capela 'magna', aquela capela grande da Igreja Católica, tivesse as mesmas medidas do perdido Templo de Jerusalém – medidas estas que estão registradas na Bíblia, no Livro dos Reis – para que fosse, em certo modo, a Arca da nova e definitiva Aliança entre Deus e o seu povo, sob o signo da Igreja de Roma”.

RV: O que estes afrescos dizem especificamente, o que podem comunicar num momento tão delicado e crucial como o do Conclave?

A. Paolucci: “Quando os Cardeais entrarão para o Conclave na Capela Sistina, por um efeito óptico – evidentemente estudado para este finalidade – o primeiro olhar estará voltado sobre a parede da direita. Em particular, sobre o grande afresco de Pedro Perugino, que representa e entrega das chaves: se vê Pedro de joelhos, Cristo diante dele que lhe entrega as chaves; praticamente, é a instituição do Papado de Roma. Esta é a primeira coisa que os cardeais verão. Depois, quando eles estiverem sentados nos seus lugares, o olhar irá se voltar para o Juízo Universal, o seu olhar deveria voltar-se para a parte alta do afresco, lá onde existe uma cena que era muito cara para Michelangelo: se vê os anjos que apresentam os instrumentos da Paixão de Cristo. Porque esta representação? Porque diante do Tribunal do Altíssimo serão estas as provas testemunhais para cada um de nós, e naturalmente para os Cardeais também. Nós seremos salvos ou condenado com base em nossa fidelidade à Cristo”.

RV: Estes afrescos, quer de Michelangelo quer de Perugino, assim como aqueles dos outros pintores do século XV, foram criados para decorar um ambiente que acolheria as eleições de um Papa?

A. Paolucci: “A Capela Sistina nasceu como capela “magna”, como a capela grande do papa. É o local das grandes liturgias, dos grandes eventos e, por consequência, das eleições do novo Papa. É, simbolicamente falando, a Arca da nova e eterna aliança”.

RV: Vindo para os nossos dias: entramos na Sé Vacante, a Sistina está fechada ao público e está sendo organizada para o Conclave. Como vive atualmente a comunidade dos Museus Vaticanos estes dias?

A. Paolucci: “Os Museus Vaticanos sentem as consequências do Conclave, porque a parte mais procurada, mais desejada dos Museus Vaticanos está fechada: a Capela Sistina. Naturalmente, os Museus Vaticanos estão aparelhados para enfrentar da melhor forma possível este especial acontecimento. O Conclave acontece raramente e para mim é o primeiro Conclave do qual participo como Diretor dos Museus Vaticanos”.

RV: Como Diretor dos Museus Vaticanos, o que representa ser chamado para cuidar e conservar a Capela Sistina, um local tão apreciado, quer de um ponto de vista histórico, artístico, mas também sob uma ótica religiosa, de fé?

A. Paolucci: “Na minha longa carreira, chegando a este ponto – depois que Bento XVI me confiou, em 2007, a direção dos Museus Vaticanos -, entendi aquilo que já sabia antes, mas que aqui pude experimentar: que os Museus Vaticanos são, num certo sentido, os museus de todos os outros museus. Na Itália e no mundo existem clones, imitações, dos Museus que os Papas de Roma criaram. Entendi também qual é a especificidade dos Museus Vaticanos: a demonstração da Universalidade e da pluralidade da Igreja de Roma; são universais, pois as obras de arte que cuidam são feitas para todos, destinadas aos homens e às mulheres de todo o mundo. São também plurais, porque os Museus Vaticanos recolhem os testemunhos da criação artística em todas as suas variáveis e a criação humana sempre interessou à Igreja. Isto, acredito que seja o verdadeiro caráter que diferencia, a especificidade dos Museus do Papa”. (JE)








All the contents on this site are copyrighted ©.