Cidade do Vaticano (RV) – O mundo
católico e não católico aguardam o início do Conclave. Nestes dias em que os membros
do Colégio Cardinalício se reúnem em Congregações Gerais, a mídia internacional tem
concentrada a sua atenção no Vaticano, conjecturando hipóteses sobre os trabalhos
dos cardeais e sobre as definições que levarão à eleição do novo Sumo Pontífice. Lemos
e ouvimos tantas ilações como se a mídia estivesse participando ativamente dos trabalhos;
fornece temas e dá explicações para tudo. O que de fato podemos notar é que muitos
meios de comunicação parecem querer, eles, determinar quais são os caminhos e necessidades
que a Igreja deve tomar e responder. Os cardeais, eleitores e não eleitores nestes
dias certamente discutiram sobre tudo o que diz respeito à vida da Igreja. Quase todos
fizeram pronunciamentos durante o espaço de tempo colocado à disposição dos mesmos,
procurando aprofundar ou acrescentar reflexões sobre diversas questões. Tudo colocado
encima da mesa, de modo límpido, para que todos os membros do colégio cardinalício
possam ter a melhor visão possível sobre os desafios, necessidades e estradas que
a Igreja Católica deve percorrer. Temas como a evangelização, o compromisso da Igreja
no mundo de hoje, com os pobres, com os deserdados, o ecumenismo; as perseguições
dos cristãos; temas relacionados aos Dicastérios da Santa Sé, as relações com os episcopados,
e naturalmente o perfil e expectativas do novo Papa. Diante de todas essas preocupações
e da escolha do novo Sumo Pontífice, certamente a última coisa que os senhores cardeais
tem em mente é dar atenção às preocupações dos jornalistas e daqueles que já até apresentaram,
como numa eleição política, listas de candidatos; quase fazendo chapas com nomes e
cabos eleitorais. É o norte do mundo contra o sul do mundo; os países ricos contra
os países pobres, os europeus contra o resto do mundo. Lendo os jornais destes
dias parece que é até inútil todos esses encontros dos cardeais, pois a mídia já escolheu
quem serão “os candidatos a Papa”, - como dizem -, e quem é aquele que terá mais votos,
como se os cabos eleitorais midiáticos tivessem realmente influência dentro da Capela
Sistina, local onde nos próximos dias será a sede da escolha do Sucessor de Pedro;
como se o silêncio dos afrescos centenários deste lugar singular ganhassem vida e
pudessem de alguma forma soprar nos ouvidos dos cardeais para votar neste ou naquele
candidato. Certamente a Capela Sistina poderá com suas imagens ajudar os cardeais
a refletirem sobre o homem e seu destino. Os primeiros Conclaves sofriam interferências
externas, especialmente das autoridades civis. De fato, somente em 1059, com o Papa
Nicolau II, foi emitido o primeiro documento pontifício sobre o Conclave. Nele vinha
indicado com precisão que “somente os cardeais tinham o direito e o dever de eleger
um Pontífice”. Regra válida até os dias de hoje. O termo Conclave, que vem do
latim cum clave, instituído em 1271 pelo Papa Gregório X dá a idéia precisamente de
fechado, fora do mundo, sem interferências. E junto com isso a obrigação do voto secreto,
para dar maior liberdade aos votantes. É dessa liberdade que sairá o nome do novo
Papa; da liberdade de escolher com a ação do Espírito Santo o Sucessor de Pedro, aquele
que deverá guiar os passados de uma Igreja hoje duramente atacada por diversos segmentos
da sociedade e que vive um momento não fácil. O mundo vive momentos de crise e a Igreja
está presente neste mundo, e ela, apesar dos momentos de escuridão, continua a ser
lume para indicar o caminho a ser percorrido, a ser trilhado. A mídia até já compôs
o programa de ação do futuro Papa, mas temos certeza que o novo Sumo Pontífice saberá
com a ajuda do Espírito Santo e dos irmãos do Colégio Cardinalício, responder às exigências
de uma Igreja, que certamente sofre, mas como disse Bento XVI, ainda está viva, e
produz muitos frutos. Essa é a hora de rezar pelos nossos cardeais e pelo novo Papa
e acreditar na ação do Espírito Santo. (Silvonei José)