O Conclave, nas palavras de Dom Demétrio Valentini
Jales (RV) - Conhecido o dia em que, finalmente, vai começar o conclave, é
possível calcular sua duração aproximada. Para então sabermos qual será o cardeal
escolhido para ser o novo Papa.
Como desta vez a sede vacante foi precedida
pela certeza da renúncia, parecia conveniente antecipar o conclave. Tanto que o próprio
Bento 16 julgou oportuno, enquanto ele ainda estava no cargo, modificar o regimento,
facultando aos cardeais anteciparem o conclave.
Com isto, parecia que ele fosse
convocado logo em seguida à efetiva renúncia de Bento 16.
Mas acontece que
as reuniões preparatórias, que normalmente eram feitas enquanto se procedia aos funerais
de um papa falecido, na verdade sua finalidade não era só fazer exéquias, não! Elas
tinham outra finalidade, muito estratégica e necessária: ir tecendo os primeiros consensos,
destinados a possibilitar que as votações no conclave já comecem com alguns direcionamentos
mais claros, para que a partir deles, aí sim, as votações enveredem para fazer emergir
um candidato, que possa ir agregando outras adesões, até se chegar à difícil maioria
dos dois terços necessários para algum ser eleito papa.
Pois bem, foi o que
assistimos nesta semana. Foram sucessivas reuniões, antes até de se anunciar o início
do conclave, com a alegação que não era o momento de convocá-lo porque alguns cardeais
ainda não estavam em Roma.
E assim, a pretexto, desta vez, não de velório,
mas da ausência de alguns cardeais, foram se sucedendo reuniões, todos os dias, das
quais também participavam os cardeais com mais de oitenta anos.
E aí temos
outro detalhe indispensável para entender o que se passa com estas reuniões. Os cardeais
com mais de oitenta anos não podem votar no conclave, nem dele participam. Mas não
está dito que eles não possam dar opinião, e influenciar o voto dos outros. E dado
que eles já não podem votar, gostariam que quando o conclave começasse, eles já estariam
seguros que suas opiniões e preferências já tivessem sido bem assimiladas pelos votantes.
Pois
esta é a situação dos cardeais octogenários: como perderam o direito do voto, tanto
mais querem valorizar a força do aconselhamento, do palpite, da recomendação, tudo
feito com a sutileza de conversas informais e despretensiosas, mas que na verdade
são uma premente influência eleitoral.
Por isto, o trunfo dos cardeais com
mais de oitenta anos são essas reuniões preparatórias. Oficialmente elas têm a finalidade
de fazer uma ampla análise da situação da Igreja no mundo, com vistas a identificar
quem teria melhores condições de ser eleito papa, para dar conta dos desafios que
hoje se apresentam à Igreja.
Na verdade, esta é uma necessidade, e é de fato
a intenção dos cardeais: pensar o voto em função dos desafios que o eleito irá enfrentar.
Daí
resulta outra constatação, que me parece importante detectar, para entender o resultado
da eleição. E depois de levantados os desafios, que dá para ir definindo os nomes
a serem escolhidos. Os nomes emergem depois de constatadas as conveniências. Por isto,
pode acontecer que certos cardeais, cotados como prováveis candidatos, possam ser
deixados em segundo plano, por causa da opção estratégica assumida. Se por exemplo
se chegar ao um consenso que deveria ser um papa italiano, será eleito um italiano.
Se acharem que deveria ser, desta vez, um papa do terceiro mundo, se procurará um
cardeal da América Latina, ou da África ou da Ásia.
É nesta hipótese que pode
emergir o nome de um brasileiro. Sozinho, nenhum dos cardeais do terceiro mundo teria
cacife para bancar pessoalmente uma candidatura. Mas se for dentro de um consenso
mais amplo da conveniência de um papa representativo das regiões do mundo onde está
a maioria dos católicos, poderemos ter um papa africano, ou latino americano, ou mesmo
um brasileiro.
Daqui a alguns dias a fumaça branca vai nos contar tudo o que
aconteceu lá dentro da Capela Sistina...